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Seguradora pagou R$ 16 mi por danos ao Maracanã durante a Copa mas nada foi feito

Fonte: Globo Esporte

Laudo mostra danos na lona do Maracanã; seguradora pagou por reparo não feito

Fogos de artifício utilizados na Copa do Mundo e na Olimpíada são a causa do problema. Imagens dos laudos explicam danificações

De acordo com laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, o IPT, a lona da cobertura do Maracanã está repleta de danos. A queima de fogos do encerramento da Copa do Mundo de 2014 causou os primeiros estragos. E o documento revela que o prejuízo ficou ainda maior depois das quatro cerimônias com fogos de artifício nos Jogos Olímpicos.

No dia seguinte ao encerramento do Mundial, em julho de 2014, a empresa alemã SBP realizou uma inspeção na lona que cobre o Maracanã. E encontrou mais de 100 pontos em que a cobertura havia sido danificada pelos fogos de artifício. Pontos pequenos, que variavam de manchas superficiais de queimadura a perfurações no tecido.

Na época, a conclusão do laudo já apontava para a necessidade de reparos imediatos, já que os raios UV e a umidade poderiam levar à propagação dos danos. E alertava: “A extensão dos danos impõe um certo risco não apenas com relação à equipe de manutenção da cobertura mas também ao público em geral durante a utilização do estádio. Não apenas as características estruturais atuais, mas também as características de durabilidade de longo prazo podem ser significativamente enfraquecidas.”

Por conta disso, em dezembro de 2015, a Fairfax, seguradora da Fifa pagou à Maracanã S.A, concessionária que administra o estádio, R$ 16 milhões para que os reparos fossem realizados.

Mas nada foi feito. A pedido do Comitê Rio 2016, organizador dos Jogos Olímpicos, o governo do estado do Rio de Janeiro determinou que os reparos nas membranas da cobertura do Maracanã só fossem executados ao fim do período de uso exclusivo do estádio, que era o tempo em que o Maracanã estaria cedido à Rio 2016, até o fim de outubro do ano passado. E o mesmo documento solicitava que “os trabalhos de reparo da cobertura tenham início imediatamente após a devolução do estádio Maracanã pelo Comitê Organizador Rio 2016.”

Ao assumir o Maracanã em janeiro, após um imbróglio que durou quase três meses desde a devolução do estádio pela Rio 2016, a concessionária não deu início às obras, com o seguinte argumento: “Antes de fazer os reparos dos estragos causados pela Fifa, era preciso verificar quais foram os danos causados pelas quatro queimas de fogos realizadas pelo Comitê Rio 2016. Caso contrário, teríamos o risco de o Maracanã fechar duas ou mais vezes num curto período, causando prejuízos aos clubes e ao público.” E, então, encomendou o laudo ao IPT.
As quatro queimas de fogos durante os Jogos aconteceram nas cerimônias de abertura e encerramento de Olimpíada e Paralimpíada. E, pelas conclusões do laudo do IPT, ampliaram significativamente a área danificada na lona. Os desenhos abaixo, extraídos do laudo, são bem ilustrativos nesse sentido. Ao fim da Copa do Mundo, eram 113 pontos de queimadura na lona de cobertura do Maracanã.

"Gráfico" mostra lona do Maracanã danificada (Foto: GloboEsporte.com)

Hoje, já são 361 pontos queimados. Um aumento de 220%

E o estudo do IPT contabilizou também rasgos, arranhões e outros danos não relacionados a queimaduras, chegando a um total de 586 pontos em que a lona está danificada.

“Esses danos sem relação com fogos de artifício, possivelmente, são gerados por ação humana. São riscos, marcas de ferramenta e de materiais que foram arrastados”, afirma Diego Bressan, engenheiro do IPT responsável pelo laudo.
Um outro laudo, este encomendado pelo Comitê Olímpico à SBP ao fim da Olimpíada, recomendava em outubro de 2016 “a remoção de equipamentos e objetos soltos sobre os painéis da membrana, para evitarem-se riscos de danos e rupturas de tecido”. Esse mesmo laudo apresenta uma série de fotos de objetos variados sobre a lona do Maracanã, dois meses depois de encerrados os Jogos Olímpicos.

A lona da cobertura do Maracanã é uma membrana de cerca de 3 milímetros de espessura, com durabilidade prevista de 35 anos. É formada por três camadas: uma interna, de fibra de vidro, que recebe os esforços de tensão e fixação da cobertura; e duas camadas de proteção.

Sendo assim, o laudo do IPT divide os danos em três tipos: de graus 1, 2 e 3, dependendo da profundidade em que a membrana foi atingida. Danos de grau 1 são mais superficiais, mas já expõem a camada interna às intempéries. Nos de grau 2, a camada interna já foi comprometida. E nos de grau 3, o tecido foi totalmente perfurado. A maior parte dos danos é de grau 2. E em 92 pontos, a lona está furada.

Segundo o IPT, os danos são representam riscos iminentes a quem frequenta o Maracanã. No máximo, goteiras em dias de chuva. Mas a estrutura da cobertura pode ser comprometida em alguns anos. “A chuva vai cair, a água vai passar pela membrana e atingir toda a estrutura de sustentação da cobertura, que são elementos metálicos. A partir daí, a tendência é a corrosão. E em torno de cinco a dez anos, a tendência, é causar insegurança”, segundo o engenheiro Diego Bressan.

A cobertura do Maracanã foi toda refeita na obra inaugurada em 2013. A atual substituiu a antiga marquise do estádio. Um custo total de R$ 250 milhões, pago com dinheiro público. Só a lona custou R$ 80 milhões.

O Comitê Rio 2016 informou ter dois laudos que atestam que os danos não foram provocados pelas cerimônias olímpicas. E o governo do estado do Rio de Janeiro, embora já tenha recebido da Maracanã S.A cópia do laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, aguarda o laudo original para se pronunciar.

Enquanto isso, fica o alerta do engenheiro Bressan: “Quanto mais rápido houver uma ação de intervenção, de recuperação, vai ser melhor para o equipamento Maracanã.”

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