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Consórcios de veículos voltam a crescer

Fonte: Valor Econônico
Por Nathália Larghi | De São Paulo

Mesmo com o abrandamento da crise econômica, o consórcio continua atraindo pessoas que planejam comprar um carro. O movimento ganhou tração nos últimos dois a três anos, quando cresceu a restrição do financiamento bancário diante da forte recessão e da experiência negativa para as instituições financeiras com essa modalidade de crédito no passado recente.

Os números mostram uma expansão mais rápida do consórcio em relação ao crédito para aquisição de veículos, mas a base estatística é ainda bem mais baixa. No primeiro semestre, enquanto o volume de vendas registradas via consórcios cresceu 27,2%, para R$ 21,5 bilhões, as concessões para financiamento de veículos para a pessoa física evoluíram em um ritmo menor, de 20%, para R$ 40,5 bilhões, ambos em comparação ao mesmo período de 2016.


Pelo lado dos bancos, a modalidade faz com que a instituição se livre de um crédito potencialmente mais arriscado e ainda eleve a receita de serviço, com a taxa de administração cobrada pela organização do consórcio.


O superintendente de consórcio do Santander, Vagner Rodrigues, conta que o banco voltou a trabalhar com a modalidade em abril do ano passado, após perceber que o contexto econômico era favorável para esse tipo de produto. "Esse mercado cresceu por causa do cenário econômico, que se tornou mais seletivo na concessão de crédito e fez as pessoas terem mais incertezas. Houve um aumento do cuidado do cliente em relação a tomada de decisão e o consórcio já não é mais visto como uma alternativa ao consumo, e sim como instrumento de poupança", diz.

A estratégia usada pelo banco foi a de "oferecer o tipo de compra que atenda melhor a necessidade do correntista", mostrando as vantagens e desvantagens de cada modalidade.

A mesma tática é usada pelo Itaú Unibanco, que investiu no treinamento de profissionais para valorizar o modelo que, segundo a diretora de consórcios, Cristiane Magalhães, estava aquém do desejado.

"Atualizamos nossos sistemas e treinamos nossos gerentes para oferecer uma venda com qualidade, explicando tudo para o cliente e mostrando o que é melhor para ele. Colocamos mais foco nesse mercado porque vimos que não o priorizamos como poderíamos ter feito. Temos 10% de 'market share' e entendemos que não temos a posição que o banco poderia ter."

O Banco do Brasil foi outro que apostou mais no produto. Segundo Alexandre Luis dos Santos, presidente da BB Consórcios, os gerentes passaram por treinamento para apresentar a modalidade que, desde maio, já pode ser contratada também pelo aplicativo.

A Caixa Seguradora, que teve um crescimento de 42% no faturamento dos consórcios no primeiro semestre, também colocou a modalidade entre as ofertas com destaque entre os seus gerentes. Segundo o diretor Laudimiro Filho, a ideia é "demonstrar, com a máxima transparência, que o consórcio é uma excelente alternativa de aumentar patrimônio e investir com parcelas que cabem no bolso, sem pagar juros".

Consórcio e financiamento atendem a diferentes perfis de compradores e necessidades, avaliam consultores. Enquanto no financiamento o consumidor adquire o bem imediatamente, no consórcio ele precisa esperar até ser sorteado ou dar um lance para acelerar a liberação da sua carta de crédito. Se já tiver a posse do bem, nos dois casos está sujeito à retomada se houver atraso no pagamento das parcelas. No consórcio, antes de ser contemplado o comprador pode, porém, deixar de pagar as suas cotas e recuperar o dinheiro gasto no final do grupo, descontando-se os custos. Por isso, a aquisição do consórcio chega a ser vista como uma espécie de poupança, embora haja a taxa de administração que ele paga junto com as mensalidades.

Em um cenário recessivo, essa ideia de que a alternativa pode funcionar como uma espécie de poupança ganhou força. Segundo o professor Michael Viriato, do Insper, o consumidor tende a se adaptar ao ambiente e a aplicar no que parece ser o mais seguro para o momento. "As pessoas ficaram menos propensas a compras por impulso e veem o consórcio como uma forma de investimento", diz.

A ideia do comprador, segundo o professor Roy Martelanc, da FIA, é "não entrar em aventuras", já que o contexto econômico ainda não é totalmente animador, mas tentar adquirir aquilo que, nos anos anteriores, não era cogitado. "Quando as coisas melhoram um pouco, como no primeiro semestre, as pessoas se animam a fazer dívida. E no consórcio, você compra, mas não se arrisca tanto", afirma o especialista.

Em unidades comercializadas, o número de novos consórcios de veículos leves saiu de 428,8 mil para 516,6 mil, o que representa uma alta de 20,5% no primeiro semestre, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). No caso dos financiamentos, saiu de 1,5 milhão para 1,7 milhão, com alta de 11,2% no período de 12 meses, de acordo com dados da B3 - que passou a centralizar os dados de alienação fiduciária após a fusão com a Cetip.

Mas não é de hoje que o freio dos bancos na concessão de financiamentos resulta na substituição pelo consórcio.

Com os bancos apertando os freios durante a crise, o total de concessões de crédito para aquisição de veículos passou de R$ 95,3 bilhões em 2014 para R$ 79,5 bilhões no ano seguinte, uma queda de 16,6%. Em 2016, um novo recuo de 10,2% fez o número chegar a R$ 71,4 bilhões.

Na contramão, o consórcio teve um crescimento de 10% na passagem de 2014 para 2015, saindo de R$ 37,6 bilhões para R$ 41,4 bilhões. No ano seguinte, a alta foi de 4%, quando atingiu R$ 43,1 bilhões.

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