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Da cultura à economia: os motivos que levam o brasileiro a proteger o carro em vez da vida

Fonte: Infomoney

Seguros são mais populares para o setor automobilístico, mas o cenário começa a mudar

Os brasileiros gastam bilhões de reais a mais para se proteger contra a falta inesperada de um carro em comparação aos valores pagos para segurar a própria vida. Os números são da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e mostram que, no ano passado, a diferença de arrecadação entre as empresas do setor nas duas categorias chegou a mais de R$ 9 bilhões.

A explicação para esse cenário passa por fatores históricos, culturais e econômicos da população brasileira. Ao menos essa é a opinião de Alexie Laytynher, assessor na ADX Invest. “Em um país que viveu anos de alta inflação é difícil pensar no imponderável da vida, isso porque antes é preciso comprar comida”, diz o profissional, lembrando das turbulências econômicas vividas nos anos 1980 e 1990.

A inflação foi estabilizada com o Plano Real em 1994, mas, ainda naquele ano, a alta dos preços superou os 900% — o que significa que os produtos e serviços custavam dez vezes o preço praticado no ano anterior. Como os preços aumentavam diariamente, era necessário gastar o dinheiro em produtos o quanto antes para manter o poder de compra.

Essa situação macroeconômica alimentou ainda mais a cultura do imediatismo, explica Laytynher. “O imediatismo prevalece na cabeça do brasileiro e está presente em diversos outros assuntos, entre eles no tema da proteção. Por isso, é mais fácil assimilar o que vai acontecer no dia seguinte se o carro for furtado do que o que aconteceria com a família em caso de morte, invalidez ou até uma doença grave”, complementa o assessor.

Aliás, até mesmo abordar o assunto é um desafio do setor. Conversar sobre morte ainda é tabu no Brasil. “O latino tem uma imensa dificuldade para falar em morte. Isso é diferente em outras regiões do mundo. Para nós, existe a crença de que falar de morte é atrair o pior”, diz.

Mudanças em curso

Em 2016, os brasileiros desembolsaram mais de R$ 40 bilhões com seguros de automóvel e DPVAT, que é obrigatório para todo veículo. Em comparação, os seguros de pessoas não ultrapassaram R$ 31 bilhões, considerando não só produtos puramente de seguro de vida, mas também de acidentes pessoais, dotais, entre outros.

Ao analisar os dados dos últimos anos, no entanto, percebe-se que o cenário começa a dar sinais de mudanças, especialmente porque a realidade econômica desde o Plano Real tem favorecido o planejamento familiar de longo prazo. “O seguro de vida tende a crescer porque os brasileiros estão compreendendo cada vez mais a importância de proteger a si mesmo e à família, visando uma segurança financeira para o futuro”, explica o assessor da ADX Invest.

Esse novo cenário já apresenta alguns reflexos. Desde 2015, a diferença entre os valores pagos pelos brasileiros com seguros de carros e seguros de vida diminui a cada ano: de R$ 12 bilhões em 2014 para R$ 9 bilhões em 2016.

Parte dessa diminuição está relacionada ao impacto sentido no ramo de seguros de automóveis em função da recente crise enfrentada pelo país e da redução da venda de veículos nos últimos anos. Em contrapartida, o ramo de seguro de pessoas registrou crescimento, no mesmo período, e foi favorecido pelo avanço das contratações de planos individuais de seguros de vida, ainda que a modalidade vida em grupo seja mais representativa em quantidade de vidas seguradas.

Laytynher sente na pele os benefícios desse crescimento. O assessor da ADX conta que começou a incluir seguros de vida no planejamento dos seus clientes há apenas quatro anos, e hoje a modalidade representa cerca de 35% dos negócios do escritório, que continua a operar com outros produtos para o planejamento financeiro pessoal e sucessório dos clientes, como os investimentos em renda fixa, renda variável e fundos. “O seguro de vida não é mais um produto acessório, o planejamento securitário tem um valor importante para o cliente”, afirma.

A ascensão de seguradoras independentes, com produtos personalizados e profissionais cada vez mais capacitados, também tem contribuído para o crescimento do setor, trazendo produtos como seguros de vida resgatáveis, sem correção de preço por idade e com análise prévia do risco, garantindo o pagamento da indenização de modo mais rápido e prático.

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