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O caminho sem volta da previdência complementar

Fonte: Valor Econômico
Por Felipe Bottino

Até bem pouco tempo atrás, o retrato da indústria de previdência complementar aberta no Brasil era extremamente concentrado nos cinco maiores "players" do mercado (95%). Além disso, os produtos tinham taxa de administração alta, gestão indexada, contratação manual e a quase totalidade dos recursos alocada em títulos de curtíssimo prazo (CDI).

Nesse mesmo período, por meio de mudanças regulatórias, o governo buscava alongar os prazos dos títulos das carteiras, as seguradoras precisavam de maior flexibilidade nas regras de aplicação e os gestores independentes queriam maior representatividade no segmento. Foram muitas reuniões na busca por um consenso regulatório, porém, pouco se avançou.

Entretanto, o crescimento anualizado dessa mesma indústria nos últimos 12 anos, acima de 20% e com reservas ultrapassando R$ 700 bilhões, mostrava que os consumidores enxergavam bastante valor no produto. Provavelmente porque esse consumidor não poupava anteriormente, estava alocado em produtos menos eficientes, como a poupança, e/ou tinha como única fonte de informação o gerente da sua agência bancária.


Somos testemunhas das mudanças radicais que ocorrem nas principais indústrias ao redor do mundo em função do avanço da tecnologia e do acesso à informação por meio da internet. Um exemplo da chamada terceira onda da internet (depois de Google e Facebook) é o Airbnb, que revolucionou o mercado de hotéis conectando aqueles que buscam com aqueles que oferecem hospedagem.

A empresa está avaliada em U$ 31 bilhões e está presente em 200 países com mais de três milhões de quartos disponíveis.

Essas transformações não ocorreram em função de mudanças regulatórias ou intervenções governamentais. Elas foram conduzidas pelo mercado por meio de clientes maravilhados com a possibilidade de ter serviços melhores e mais baratos e empreendedores em busca de uma nova atividade ou complemento de renda.

É justamente nesse ponto de inflexão que a indústria de previdência complementar aberta do Brasil se encontra e, como sabemos, essa revolução é exponencial e um caminho sem volta. O fenômeno que ocorreu com os fundos previdenciários multimercados em 2017 é uma clara demonstração de que o consumidor é o principal motor da mudança.

Nos últimos anos, as principais gestoras independentes de fundos multimercados entraram no mercado de previdência. Entre eles, é importante citar a Verde, de Luis Sthulberger, a Adam Capital, de Marcio Appel, e a Ibiuna Investimentos, de Mario Torós. Os resultados excepcionais apresentados pelos gestores aliados à queda das taxas de juros fizeram com que esse tipo de produto fosse extremamente demandado pelos clientes.

E nesse ponto a tecnologia e as redes sociais possuem um papel fundamental, pois a internet facilita a comparação e contratação de produtos e permite que as corretoras de seguros ganhem capilaridade, o que impulsiona muito o ganho de eficiência dos produtos e a redução da concentração da indústria.

É bem verdade que a resolução CNSP 294, que disciplina a venda de produtos de previdência por meios remotos, entre eles a venda on-line, ajudou bastante. O dado mais impressionante, na minha opinião, é que os fundos de previdência multimercados representaram 45% da captação líquida da indústria no primeiro semestre de 2017. Um número expressivo, principalmente levando em conta que quase a totalidade do estoque da indústria está alocado em fundos conservadores de renda fixa.

Os fundos multimercados atuam de forma ativa em diversos mercados e assim os recursos captados por esses fundos são na sua maioria investidos em títulos com vencimentos mais longos e em ativos de renda variável.

Vale ressaltar que esse modelo de gestão atendeu aos desejos do governo de alongamento dos prazos das carteiras de previdência sem a necessidade de uma alteração regulatória.

Por último, o sucesso estrondoso dos produtos previdenciários de gestoras independentes criou um movimento virtuoso de novos entrantes no mercado, entre eles Canvas Capital, Kondor Investimentos, Franklin Templeton, Kadima e outros.

Com um ambiente mais estável e juros mais baixos, os fundos com percentual mais elevado em renda variável, também conhecidos como compostos, começam a atrair a atenção dos investidores. A indústria de gestoras independentes já está posicionada para atender a demanda nesse segmento e, dentre os produtos previdenciários disponíveis, já é possível identificar os nomes dos principais gestores de bolsa do país como Vinci, Athena, Argucia, Apex, Arx, Leblon e AZ Quest.

De outro lado, na área de distribuição, empresas como a XP Investimentos, a Órama e a Guide, dentre outras, jogam o importante papel de universalização do acesso aos investimentos, oferecendo cestas de alternativas simples e baratas para o jovem investidor. Isso além dos corretores, tradicional força de distribuição do setor, que estão cada vez mais antenados em atender ao público potencial em tempo real.

Bem-vindos à nova previdência, uma indústria colaborativa e calcada na parceria entre gestores independentes, seguradoras, corretores de seguros e governo na busca das melhores soluções e proteção do consumidor. Nunca é demais lembrar que todo poder emana do povo e os vencedores da nova previdência são aqueles mais próximos e preocupados com seus clientes.

Felipe Bottino é diretor de produtos de previdência da Icatu Seguros

E-mail: fbottino@icatuseguros.com.br

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

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