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Terrorismo é risco extra na Copa do Mundo na Rússia

Fonte: Valor Econõmico
Por Eduardo Belo | De São Paulo

Alguns dos atletas mais famosos e bem pagos do mundo estarão reunidos na Rússia a partir de junho para a disputa do Mundial de Futebol da Fifa. Como ocorre a cada quatro anos desde 1930 - com interrupções apenas nas Grandes Guerras -, a Copa do Mundo deve chamar a atenção do planeta, atrair a audiência de pelo menos 3,5 bilhões de espectadores - metade da população global - e movimentar cifras bilionárias em vendas, publicidade e marketing. Mas, nos bastidores, organizadores do evento, governos, delegações e órgãos de segurança se preparam, em silêncio, para enfrentar um inimigo pouco conhecido do mundo do futebol: o terrorismo.

Com US$ 350 milhões de prêmios de seguros emitidos por ano na Europa só no segmento de esportes e entretenimento, o mercado de seguros já projeta um crescimento neste ano de quase 30%, para US$ 450 milhões apenas na Europa, devido à Copa, estima a seguradora e resseguradora britânica JLT. No Brasil, esse mercado, subexplorado, oscila entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões por ano. Mas os números da Europa não envolvem eventuais contratos que venham a ser fechados para riscos de instalações e vidas relacionadas ao terrorismo durante o mundial, explica Marcelo Blanquier, diretor da JLT no Brasil. "Até porque esses dados são confidenciais", afirma.

A questão da segurança deve impulsionar fortemente o mercado segurador internacional, diz ele, mas os números provavelmente só serão conhecidos nos balanços do ano. Há perspectiva de que as incertezas sobre a segurança da Rússia levem a um crescimento de apólices não usuais. Entre os principais alvos de eventuais terroristas, a ausência dos Estados Unidos no mundial pode representar uma redução dos riscos. Mas os grandes alvos da Europa estarão todos lá: França, Inglaterra e Espanha, principalmente. As ausências de Itália e Holanda afetam muito pouco a atividade de possíveis grupos extremistas.


O governo russo previu US$ 453 milhões em investimentos para garantir a segurança da Copa. O valor representa cerca de um terço de tudo que está sendo investido em infraestrutura, incluindo estádios. Especialistas citados pela revista "Forbes" afirmam que o padrão russo de segurança deve se assemelhar ao dos principais países europeus, o que mitiga, mas não elimina o risco. Todo esse investimento pode não ser suficiente já que, pela primeira vez na história, o futebol internacional convive com o fantasma surgido na Olimpíada de Munique, em 1972, quanto o terror ceifou 17 vidas: 11 reféns israelenses, 5 terroristas palestinos e 1 policial alemão.

"O terrorismo é um potencial de risco inédito na próxima Copa", afirma Blanquier. Ele lembra que o risco existe em todo o mundo, mas no mundial do Brasil, em 2014, dada as características do país, foi considerado mínimo. Quando se trata de Estados Unidos e Europa, a questão muda de figura. "Ainda mais na Rússia, que é um país polêmico e tem um risco muito alto", diz. "O Risco é iminente."

A própria sede da JLT, em Londres, levantou casos recentes em que o terrorismo voltou suas baterias para a Copa da Rússia e, antes dela, para as eleições do país, em março. O fato de a Rússia ter dado apoio militar ao presidente sírio, Bashar al-Assad, elevou o risco do país se tornar alvo dos ataques de extremistas de origem islâmica. O relatório da empresa avalia - mas não fala em probabilidade - os riscos de ataques suicidas com bombas, com armas de fogo e facas, com veículos, como já ocorreram nos últimos dois anos em Paris, Londres, Barcelona e Berlim, e até no uso de armas químicas.

Os sinais de que a situação não é a mesma dos mundiais anteriores começaram ainda no ano passado, com a divulgação de montagens fotográficas atribuídas ao grupo Estado Islâmico com imagens de craques como Neymar, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi como reféns. O grupo não se furtou de sinalizar ações em locais de grande afluxo de pessoas, incluindo os meios de transporte das cidades-sede do mundial - trens, metrô, aeroportos - e os estádios russos.

O mercado segurador e as autoridades de segurança russas também têm de se preocupar, além do terrorismo, com episódios de racismo e seu explosivo potencial para causar confusão em um evento recheado de estrangeiros de várias partes do mundo. O torcedor local já deu seguidas demonstrações de sua baixa tolerância às diferenças.

O ex-lateral esquerdo Roberto Carlos já foi vítima de racismo nos gramados russos, quando jogava no Anzhi Makhachkala, assim como o zagueiro francês de origem congolesa Christopher Samba (Aston Villa) e o meia marfinense Yaya Touré (Manchester City). A diferença é que o brasileiro jogava em um time russo. Os demais apenas disputaram partidas por seus clubes no país.

Em todos os casos, as punições das autoridades russas foram brandas, quando ocorreram. O mesmo se dá em relação aos famosos hooligans locais, jamais punidos e envolvidos em arruaças nas duas últimas edições da Eurocopa, com direito a uma batalha campal em 2012, na Polônia, quando levaram a pior contra seus congêneres ingleses. Jamais punidos, os violentos torcedores russos prometem "um festival de violência" na Copa 2018, conforme reportagem veiculada pela emissora britânica BBC.

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