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Resseguradoras buscam mais prêmios no exterior

Fonte: Valor Econômico
Por Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo

O mercado de resseguros mostrou resiliência para enfrentar os anos de recessão. Com aposta na pulverização de linhas de negócios e maior interesse em assumir riscos do exterior, o volume de resseguros atingiu R$ 7,97 bilhões em 2017, alta de 7,9% sobre 2016 - considerando apenas os prêmios cedidos pelas seguradoras brasileiras. No mesmo período, segundo aponta relatório da Terra Brasis Resseguros, as resseguradoras locais também aceitaram mais riscos do exterior - foram R$ 2,26 bilhões em 2017, um avanço de 57% sobre 2016.

Somados, os montantes apontam que, dez anos após o fim do monopólio estatal sobre as operações de resseguro, o setor caminha para triplicar de tamanho. Em 2007, os prêmios somavam R$ 3,8 bilhões. "Os resultados de 2017 foram positivos e mostraram que as resseguradoras cresceram mesmo em um cenário econômico e político desafiador. Outro dado positivo foi o melhor desempenho no lucro líquido das companhias", afirma Adriana Seemann, chief innovation & business development officer da Munich Re.

Líder em resseguros no Brasil, o IRB Brasil RE gerou receitas de R$ 5,8 bilhões em prêmios emitidos em 2017, com um avanço de 17,4% sobre o ano anterior. Entre os fatores para o crescimento, explica o presidente da empresa, José Carlos Cardoso, estão uma atuação mais próxima das pequenas e médias seguradoras, o lançamento de novos produtos em linhas como vida e agronegócio e a diversificação geográfica e em linhas de negócios, para compensar a queda na demanda em carteiras como riscos de engenharia, transportes e óleo e gás.


A economia desaquecida também estimulou a empresa a diversificar os negócios fora do Brasil, especificamente na América Latina. Do total de prêmios, 37%, ou R$ 2,1 bilhões, foram emitidos no exterior. "2017 foi um ano ruim para os resseguradores por conta de catástrofes naturais nos Estados Unidos e Caribe, mas não fomos afetados. Nossa estratégia no exterior está focada em linhas de negócios não tão expostas a esses incidentes, como vida, agronegócio e aviação", afirma.

Na Austral Re, que computou R$ 577 milhões em prêmios brutos emitidos em 2017, com um crescimento de 23,82% sobre 2016, o share de riscos do exterior chegou a 10%. A expectativa para os próximos anos, conforme o CEO Bruno Freire, é que 30% do faturamento venha de negócios no mercado externo. "Começamos a diversificar os negócios no exterior com mais força entre 2015 e 2016. O movimento aconteceria mesmo sem a recessão, pela própria maturidade da companhia", diz.


Em 2017, o crescimento nos prêmios externos se deu com especial força em contratos de resseguro em países da América Latina, sobretudo na linha patrimonial, que respondeu por 59% dos prêmios. A Austral Re planeja a inauguração de escritórios internacionais, o primeiro em Buenos Aires (Argentina), ainda em 2018. "Olhamos a América Latina de forma ampla. Os principais países no radar são Argentina, México, Colômbia, Peru e Equador", afirma.

A diversificação das linhas de negócios é estratégia também das seguradoras que operam apenas com clientes locais, a exemplo da Munich Re. Com a queda na demanda em anos recentes pelo resseguro em linhas tradicionais como riscos de engenharia e seguro garantia - que ficaram suscetíveis a um cenário de recessão econômica, ajuste fiscal e escassez e grandes obras de infraestrutura - houve uma maior pulverização dos contratos em outras linhas de negócios.

As linhas com maior representatividade nos negócios de resseguro em 2017 foram a patrimonial (30% dos prêmios), pessoas (30%) e riscos financeiros (18%). "Essa pulverização é uma estratégia da empresa e se acelerou com o cenário econômico. Ainda temos expressividade na linha de riscos de engenharia, mas a queda na demanda por resseguro nessa linha foi visível. O mercado deixou de ter obras", diz Adriana Seemann.

Em 2017, a Munich Re computou prêmios de 463 milhões, alta de 6% em relação aos R$ 441 milhões do ano anterior. Houve também melhora nos resultados. O lucro líquido passou de R$ 55 milhões para R$ 74 milhões no período. "O resultado é uma combinação de crescimento sustentável com a redução de 8% nas despesas administrativas", diz a executiva.

O mercado também comemora a publicação da Resolução 353/2017, do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), que estabeleceu o fim da limitação à transferência de riscos de resseguradores para empresas ligadas ou pertencentes ao mesmo conglomerado financeiro.

O CNSP também acabou com a reserva de mercado, com a revogação do limite mínimo de contratação obrigatória com resseguradores locais. "A medida é extremamente positiva visando a internacionalização do mercado e o balizamento de outras formas de aceitação de riscos. As regras anteriores não traziam benefícios à operação local", Frederico Knapp, diretor financeiro Latin America da Swiss Re.

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