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Aumento da violência no Rio faz crescer mercado de apólices

Fonte: O Globo

‘Novas modalidades, como o seguro de celular, devem se tornar cada vez mais fortes’

Vítima. Gisele Marinho teve a bolsa roubada, mas tinha seguro. Ficou satisfeita e refez a apólice - Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO - No dia 15 de dezembro de 2015, a recepcionista Gisele Marino, de 28 anos, estava nas proximidades da estação Americas Park do BRT Transoeste, no Recreio, quando foi abordada por um homem de moto. Ele anunciou o assalto. Em segundos, Gisele se viu sem a bolsa, puxada com violência pelo assaltante.

O caso foi só mais uma ocorrência naquele ano, em que 1.162 pessoas foram vítimas de roubo na área do 31º BPM (Recreio). Mas essa insegurança vivida pelos cariocas trouxe mudanças no mercado de seguros. Impactado pela alta dos índices de violência, o setor lançou produtos como apólices que protegem de roubos de bolsas e em caixas eletrônicos. E ampliou a oferta de seguros conhecidos, como o residencial. Gisele, no caso, havia segurado o conteúdo da sua bolsa.

A insegurança vivida por moradores do Rio criou uma tendência: a compra de seguros para tentar se resguardar, pelo menos financeiramente, da criminalidade do dia a dia. No ano passado, foram 85.993 roubos a transeuntes no estado. Uma queda de 8,3% em relação a 2016, mas ainda assim o segundo maior da série histórica disponibilizada a partir de 2003 pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

Na esteira do aumento nos roubos de rua, o seguro de bolsas começou a ser oferecido por bancos, e ainda não há estatísticas oficiais da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que regula o setor. Mas especialistas afirmam que o mercado tem crescido em ritmo superior ao da economia. Essas novas modalidades, como o seguro de celular, devem se tornar cada vez mais fortes. Em alguns casos, custam mais do que as apólices tradicionais, como as residenciais.

— O que me levou a fazer o seguro foi o risco de ser assaltada. Como sempre deixo o celular na bolsa, achei que valia mais a pena segurar a bolsa do que o celular. Fui ressarcida no valor máximo, de R$ 1 mil — conta Gisele, que refez o seguro, agora com valor de até R$ 2 mil.

O consumidor tem uma gama de seguros a escolher. Além dos tradicionais residencial e automotivo, foi criado, há três anos, o seguro celular. Mais recentemente, nasceram o seguro bolsa e o seguro saque — que indeniza a vítima de sequestro relâmpago para saque em caixa eletrônico. No ano passado, foram 56 casos do tipo no estado, segundo o ISP. Este ano, até julho, foram 37 ocorrências.

O seguro bolsa e o seguro saque são oferecidos de forma casada, vinculados a um cartão de crédito ou débito. O primeiro indeniza em até R$ 3 mil os bens contidos na bolsa. Já o saque sob coação tem indenização máxima de R$ 20 mil.

— O mercado tem crescido em percentual superior ao da economia, porque as seguradoras têm ampliado a cobertura de seguros existentes e inovado, como o seguro para celulares — afirma o diretor executivo do Sindicato das Seguradoras, Ronaldo Mendonça Vilela.

Isso, porém, pesa no bolso. Um morador do Recreio que contratar todos os seguros possíveis vai pagar mais de R$ 4,8 mil por ano, de acordo com levantamento feito pela Bidu Corretora, a pedido do GLOBO. Para montar a estatística, um morador da região, de 35 anos, serviu de parâmetro. A maior fatia será do seguro do veículo (a base foi um Chevrolet Onix Hatch 2018): R$ 3.167,70). Outros R$ 583 irão para segurar o apartamento. E R$ 1.011,71 para o seguro do celular ( iPhone X). Se o cliente quiser ainda os seguros contra saque e para a bolsa, serão mais R$ 96.

CARRO AINDA LIDERA

Fora do valor do seguro do veículo, os outros preços não variam para um mesmo perfil. De acordo com especialistas, isso acontece porque o carro-chefe das seguradoras ainda são os automóveis, e é neles que se concentram os esforços para reduzir os sinistros.

Um exemplo desta variação é o Bangu. Com o mesmo perfil do morador do Recreio, ele iria gastar R$ 7,9 mil por ano. Isso acontece porque o preço do seguro de veículo naquela região é muito superior aos praticados no resto da cidade, devido ao alto número de roubos de carros registrados no 14º BPM (Bangu).

Na cotação feita pela Bidu, três das cinco corretoras se recusaram a segurar o carro naquela região. Das restantes, uma cotou em R$ 3,5 mil e outra, em R$ 8,9 mil.

A Bidu explica que a corretora se recusa a fazer o seguro quando constata que a chance de ter lucro na operação é nula devido à alta possibilidade de sinistro. Na região, no ano passado, foram 3.134 roubos de veículos.

O mesmo ocorre no Méier. Ali, duas corretoras se recusaram a segurar o carro para o perfil apresentado pelo GLOBO. A média ficou em R$ 5,1 mil. Assim, o morador da região gastaria R$ 6,8 mil com todos os seguros.

No Leblon e na Barra, o preço do seguro de veículo puxa para baixo a média do que seria gasto com todas as apólices. Por ano, um morador do Leblon gastaria R$ 3,7 mil. Na região, que teve 103 roubos de veículos em 2017, o seguro de um carro sairia por R$ 2,1 mil. Já um morador da Barra gastaria R$ 4,2 mil, sendo R$ 2,6 mil referentes ao carro.

Muitas vezes a conta sai mais cara. A advogada Renata Ribeiro fez seguro de celular para ela, a filha e o marido, e também dos dois carros da família. No caso do carro, o risco tem aumentado: em 2017, foram 54.366 roubos — recorde na série histórica e alta de 30,3% em relação aos 41.696 casos de 2016.

— É uma fortuna, mas somos obrigados. Já fui furtada em um shopping, e minha filha em um posto de gasolina. Ainda não tinha os seguros e precisei comprar aparelhos novos. Um ladrão também quebrou a janela do carro do meu marido, para assaltar — conta ela. — O carro tinha seguro, e nós acionamos.

Gerente de produtos da Bidu Corretora, Michele Alves aponta que o volume de recursos movimentados pelos seguros mais novos, como o de celular, ainda é pequeno, mas tende a crescer nos próximos anos. Em 2017, foram 24.380 roubos de celular no estado, uma alta de 24,7% em relação aos 19.549 casos registrados em 2016.

— Temos uma média, no Brasil, de dois celulares por pessoa. Isso abre um potencial enorme, pois há uma quantidade absurda de aparelhos não segurados. E os celulares têm um valor cada vez maior, o que estimula o seguro. Há cinco anos, quase ninguém pagava R$ 3 mil em um aparelho. Hoje, isso é comum — diz Michele.

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