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Seguradoras mostram recuperação

Fonte: Valor Econômico

SÃO PAULO -
Após amargar trimestres bastante negativos, com o desempenho operacional prejudicado pela crise econômica e o resultado financeiro deprimido pela queda da taxa Selic, o setor de seguros começa a se recuperar. Com exceção da BB Seguridade, que fechou ontem a temporada de balanços das seguradoras de capital aberto, Bradesco Seguros, SulAmérica, Porto Seguro e IRB registraram alta nos lucros.

O resultado financeiro, um importante componente do lucro, ainda puxa para baixo o desempenho das companhias, mas o ritmo de piora desacelerou e a expectativa de estabilidade ou mesmo aumento dos juros básicos nos próximos trimestres torna o cenário mais promissor. Já a retomada da atividade — ainda que mais lenta do que o esperado no início de 2018 — se reflete no aumento dos prêmios de algumas linhas, como os seguros de vida e prestamista (que garante a quitação de uma dívida), e redução da sinistralidade em automóveis.

O setor passa por uma melhora cíclica, após dois anos difíceis, aponta Francisco Galiza, consultor econômico e responsável pelo site Rating de Seguros. “As seguradoras começam a se ajustar a uma nova realidade de juros e já há uma recuperação da receita operacional. O primeiro semestre, de uma forma geral, trouxe bons resultados, mas é preciso lembrar que a base de comparação é baixa”, pondera. Segundo ele, é preciso agora esperar para ver se a deterioração nas projeções para o PIB deste ano terão algum impacto para as seguradoras no segundo semestre.

Um analista que acompanha o setor aponta que, além de os resultados financeiros terem mostrado um ponto de inflexão, a maioria das seguradoras apresentou expansão nos prêmios das principais linhas. “Acho que o setor está voltando a apresentar uma história de crescimento sustentável.”

A BB Seguridade foi a única a apresentar queda no lucro do segundo trimestre — de 4,8% na comparação anual, a R$ 909,9 milhões —, puxada por uma retração de 34,3% no resultado financeiro. Ainda assim, analistas do Credit Suisse destacaram que os prêmios cresceram nas principais linhas. Mas isso não impediu a companhia de revisar sua projeção para o lucro ajustado deste ano, da faixa de queda de 2% a alta de 2% para o intervalo de baixa de 6% a baixa de 4%. “Embora já fosse esperado, tendo em vista as contribuições de previdência muito fracas ao longo deste ano, essa revisão ainda é negativa”, aponta o banco suíço.

Para os analistas do Itaú BBA, o lucro da BB Seguridade só deve voltar a crescer no próximo ano, mas ainda assim a recomendação de “compra” para a ação da companhia foi mantida. “Sabemos que os lucros no curto prazo não serão tão bons, mas, em termos de ‘valuation’, o papel nos parece barato e projetamos um melhor momento para os resultados em 2019”, destacaram. Ontem, a ação da companhia recuou 1,57%, acumulando baixa de 9,42% este ano.

O diretor de gestão corporativa e relações com investidores da BB Seguridade, Werner Süffert, disse ao Valor que o resultado financeiro da companhia não melhorou como o das rivais porque tem algumas características específicas. Ele lembrou que a companhia passou a distribuir pelo menos 80% dos resultados em dividendos e que outras seguradoras aumentaram o volume de ativos na carteira, o que ajuda a ter um resultado maior. “Nossa intenção não é ter ganho financeiro. A gente tenta trabalhar com o mínimo de liquidez, suficiente para crescer no ritmo planejado, mas deixando o investidor com o recurso na mão para ele fazer o que quiser”, afirmou.

A companhia trocou de comando no início do mês passado, quando houve uma ampla mudança na cúpula do Banco do Brasil. O novo presidente, Antônio Maurício Maurano, disse que nada muda em relação à gestão anterior e que a companhia quer aprimorar o desempenho comercial. “Temos várias ações que estão sendo implantadas. O canal de distribuição do banco pode ser muito utilizado, mas temos também outros canais que já começam a aparecer, como o mobile, o digital, além do reforço da comunicação”, explica.

A Bradesco Seguros, maior seguradora do Brasil incluindo o braço de saúde, viu seu lucro aumentar quase 25%. A queda nos prêmios emitidos foi compensada pela redução da sinistralidade e outros ganhos de eficiência. “Apesar do cenário econômico desafiador, mantemos a confiança com que iniciamos este ano. Continuaremos trabalhando na busca de escala e eficiência administrativa, além da contínua evolução do nosso modelo de distribuição multirramo, com forte presença em todos os canais” destacou em nota o presidente da empresa, Vinicius Albernaz.

Porto Seguro, que tem um peso forte do segmento de automóveis, e SulAmérica, cuja principal linha é de saúde, tiveram forte expansão no lucro, mesmo com o resultado financeiro ainda em queda. Nesses casos, também o que puxou o bom desempenho foi a melhora no chamado índice combinado, que expressa o percentual de consumo dos prêmios ganhos em relação às despesas operacionais. Quanto menor esse número, melhor.

“A melhora de 6,2 pontos percentuais no índice combinado do segundo trimestre culminou num aumento do resultado operacional de seguros em quatro vezes, superando a queda da taxa de juros, resultado da nossa disciplina na recomposição de preços, do aprimoramento na subscrição de riscos e do aumento da eficiência operacional”, disse a Porto Seguro no seu balanço. A SulAmérica também destacou a redução da sinistralidade em 3,1 pontos, em um trimestre notadamente impactado por uma sazonalidade mais desfavorável. “Para os próximos períodos, intensificaremos nossos investimentos em iniciativas de gestão de sinistro”, acrescentou.

Já o IRB, em certo aspecto, é um caso à parte. A companhia por muitos anos manteve o monopólio dos resseguros no Brasil e abriu o capital há um ano. Além de aprimorar a gestão de despesas, nos últimos trimestres, o IRB vem apostando na expansão das suas atividades internacionais, especialmente na América Latina. Diferentemente da BB Seguridade, que foi obrigada a rever seu “guidance” para baixo, a resseguradora pode elevar suas projeções de lucro.

O vice-presidente financeiro e de relações com investidores do IRB, Fernando Passos, disse em teleconferência que os dados operacionais recomendariam elevar o guidance de expansão dos prêmios no ano, hoje em 9% a 16%. Porém, variáveis macroeconômicas, como o dólar, fizeram a resseguradora ser mais prudente e esperar para fazer mudanças. No primeiro semestre, o crescimento anual de prêmios foi de 17%.

Em meio a esse cenário de recuperação do setor, a BB Seguridade passa por uma grande reestruturação de sua parceria com a espanhola Mapfre. O contrato entre as duas, iniciado em 2011, tem prazo de 20 anos, mas foi reformulado em junho e espera aprovação das autoridades reguladoras. Com a reformulação da parceria, a BB Seguridade vai deixar de subscrever seguros de automóveis e grandes riscos. Pela venda das carteiras à espanhola, receberá R$ 2,4 bilhões, o que deve liberar pelo menos R$ 1,8 bilhão em capital.

Segundo Süffert, os prêmios no segmento SH1 (que reúne basicamente os segmentos de vida, habitacional e rural) já estão crescendo, com expansão anual de 11,8% no segundo trimestre. “Com a nova estrutura do SH1 temos todas as condições de continuar buscando o melhor retorno aos acionistas. Ele já tem um retorno elevado e a readequação ajuda bastante a acelerar isso. Seguro de vida vem crescendo, prestamista está bem robusto, habitacional e rural também.”

O executivo explica que a Mapfre continuará sendo uma parceira importante. “No meio do caminho vimos que era importante realinhar algumas questões, para chegar ao melhor resultado possível no fim”, comenta. Na nova estrutura, a definição das comissões pagas pela Mapfre para usar o canal de distribuição do BB serão mais dinâmicas. “Se você trava as comissões por muito tempo, isso pode tirar competitividade de um produto ou outro. Agora queremos variar na mesma linha das condições de mercado. Temos um canal premium de distribuição que precisa ser remunerado de forma adequada”, explica Süffert.

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