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Guardar dinheiro: um hábito que se deve aprender desde cedo

Fonte: A Tribunz

Por Arthur Gangini
Portal Previdência Total 

Para especialistas, é importante que se pense no futuro desde cedo (Foto: Divulgação)

Sabrina Mestieri aprendeu desde cedo a economizar e a dar valor ao seu dinheiro. Aos 10 anos chegou à conclusão de que não tinha sentido utilizar todo o dinheiro dado a ela pela mãe para comprar um presente de Dia dos Pais. Sabrina passou, então, a dividir todo o dinheiro que recebia em envelopes conforme a destinação das quantias.

Este é um dos métodos que Sabrina hoje, aos 34 anos, casada, mãe de um menino de 6 anos e de gêmeos de 4 anos, utiliza na educação financeira dos filhos e de outras famílias.

“Os livros de educação financeira não falam para crianças dessa idade. Falam para crianças a partir de 8 anos. Achei que meus filhos poderiam aprender isso antes”, afirma ela, jornalista especializada em negócios que desenvolve o projeto Crianças e Finanças”, com palestras e cursos sobre o tema. 

O programa mostra às crianças para que serve o dinheiro e incentiva o consumo e a organização da poupança por meio de uma carteira com divisões por cores, recompensas pelo desempenho escolar e um quadro de compromissos que resultam em estrelas trocadas por moedas.

Sabrina é apenas um dos casos de famílias que, em meio à insegurança em relação ao acesso futuro à aposentadoria proporcionada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), preocupam-se em ensinar os filhos a poupar desde cedo para garantir o seu futuro.

A coach de educação financeira Sabrina Espíndola, de 37 anos, tem uma filha de 6 anos e conta que ela e seu marido se esforçam para mostrar à criança a importância do dinheiro e do seu bom uso. 

“Digo que precisamos ganhar dinheiro para depois gastar. Negociamos com ela os presentes e explicamos quando alguma coisa está cara e que não dá para comprar. Demos à Joana um porquinho de cofrinho para juntar dinheiro”, conta.

De acordo com o economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro, o baixo crescimento econômico do País e os juros altos são outros motivos que explicam o estímulo das famílias à poupança dos filhos.

“A conscientização é muito importante e, quanto mais cedo você começar a se preocupar com isso, mais fácil será as crianças crescerem em um ambiente de educação financeira”, afirma ele.

Números do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram, entretanto, que o hábito de poupar e de se planejar ainda não é uma realidade para a maior parte dos brasileiros. 

Conforme estudo divulgado em abril desse ano, oito em cada dez brasileiros (78%) admitem que não estão se preparando para a hora de se aposentar. A idade média em que os entrevistados começaram a poupar para a aposentadoria é de 28 anos.

Previdência pública x privada

Outro efeito das dificuldades econômicas do País é a busca pelos planos de previdência privados. “Não quero que meus filhos tenham que contar com o governo. Sabemos que, por mais que tenhamos fé e esperança de que as coisas possam melhorar, é surreal tentar contar com uma previdência pública que nunca funcionou”, afirma Sabrina Mestieri. A coach Sabrina Espíndola também conta que contratou dois planos de previdência privada logo após o nascimento de sua filha. De acordo com o economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro, a discussão da reforma da Previdência gera ainda mais insegurança. “Com a reforma, a gente não sabe o que vem pela frente, mas é fato que a idade mínima aumentará e as regras se tornarão mais rígidas”.

10% da renda

De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Jusivaldo Almeida, é importante pensar em quando será iniciada a poupança para implantar o plano ideal. 

“Quanto mais cedo começar, mesmo com valores pequenos, maior tempo a pessoa terá para acumular recursos. Para se aposentar com 65 anos, considerando-se que a poupança comece aos 25 anos, o planejamento deveria prever no mínimo um valor equivalente a 10% da renda. Para início com 35 anos, o valor subiria para 20%”, diz.

Para Almeida, é importante que se pense no futuro desde cedo. “Ter previdência privada desde jovem poderá garantir um futuro confortável, ainda mais com a reforma da Previdência e as incertezas da aposentadoria do INSS”.

Segundo ele, o jovem deve refletir sobre seu padrão de vida atual e o desejável na vida pós-aposentadoria e sobre aspectos como a manutenção da saúde e o preenchimento do tempo livre e buscar produtos conforme seu perfil financeiro. 

Entre as opções estão planos da empresa dos pais ou de bancos e seguradoras, na modalidade PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), para aproveitar a dedução de 12% do Imposto de Renda, caso se utilize o modelo completo da declaração. Há ainda o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), plano vantajoso quando se utiliza a declaração simplificada do IR.

“Nos dois casos, se o jovem está consciente de que está fazendo um investimento de longo prazo, superior a dez anos, deve adotar o regime de tributação regressiva, pois o desconto no Imposto de Renda sobre o resgate ou renda será de apenas 10% lá na frente”, orienta.

Complemento

O advogado previdenciário Thiago Luchin alerta que a previdência privada deve ser utilizada apenas como um complemento ao INSS e nunca como substituta.

“Na previdência privada, o valor a ser investido é muito maior com um retorno e benefícios menores. Com as notícias sobre a reforma da Previdência muitas pessoas deixaram de contribuir, com medo de que estariam jogando dinheiro fora. Esse é um grande equívoco, porque a Previdência Social é um recurso importantíssimo que. “Quando investido corretamente, gera uma renda segura e fundamental para o trabalhador”, defende o especialista do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados.

Para ele, o governo deve ser responsável pelo trabalho de educação e conscientização previdenciária . “Falta um programa de incentivo previdenciário por parte do governo, assim como educação nas escolas e dentro de casa. Com isto, as pessoas só vão perceber a necessidade de ter uma previdência próxima dos 30 anos de idade, retardando o momento de se aposentar e perdendo possíveis benefícios como, por exemplo, o salário-maternidade e o auxílio-doença”, analisa Luchin.

O economista e professor de ciências econômicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), Ramon Fernandez, aborda a discussão sob a ótica social e comportamental. 

“Depois de algum tempo contribuindo com a sociedade, as pessoas ganharam o direito de deixar de trabalhar mesmo quando ainda poderiam continuar produzindo. A questão básica que se coloca é: de onde deveriam sair os recursos para manter essas pessoas?”.

Para o economista, é possível ver a previdência como um problema individual, no qual cada pessoa traça sua estratégia financeira, ou de todos, como um planejamento do Estado para o bem da sociedade. 

Fernandez afirma que a literatura econômica mostra que os seres humanos têm dificuldade de calcular a poupança de recursos em relação ao pós-aposentadoria, pois ninguém sabe o quanto irá viver. 

Outra questão é que boa parte da população não tem condições de atender adequadamente às suas necessidades correntes e, menos ainda, de poupar para o sustento futuro.

A jornalista e idealizadora do projeto Crianças & Finanças, Sabrina Mestieri, defende que o ideal seria focar menos nos programas sociais e gerar mais conhecimento em educação financeira. “Não é possível tirar isso da noite para o dia e deixar as pessoas na miséria, pois elas não são educadas para isso (fazer o planejamento financeiro)”.

* Mais informações em www.previdenciatotal.com.br



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