Breaking News

Lucro de seguradoras cresce com ajuda de ganho operacional

Fonte: Valor Econômico 

O setor de seguros conseguiu consolidar o melhor resultado operacional para um terceiro trimestre em pelo menos quatro anos, na comparação anual, conforme um levantamento feito pelo Valor com os balanços das empresas. O desempenho é resultado direto do esforço das seguradoras para compensar o menor ganho financeiro com a aplicação das reservas técnicas, devido à queda da taxa básica de juro.

O resultado operacional das cinco maiores seguradoras listadas na bolsa alcançou R$ 3,15 bilhões entre julho e setembro, ou seja, 62,5% acima do ganho financeiro líquido do grupo no período.

Daqui para frente, as empresas acreditam que o resultado operacional será favorecido pelo cenário econômico melhor, que deve aumentar a demanda pelas proteções e ajudar na melhora de margens. Os grupos ainda consideram que o recuo do resultado financeiro, impactado pelo ciclo de corte da taxa básica do Banco Central entre outubro de 2016 e maio de 2018 e pela volatilidade dos mercados antes das eleições, vai parar de prejudicar os balanços.

Um dos principais indicativos de tempos melhores para os retornos das aplicações é a recente queda das curvas longas de juros futuros, a partir do fim do primeiro turno das eleições. Para as seguradoras, as curvas podem permanecer em um patamar mais baixo. Além disso, a Selic estável, após ter saído de quase 10% ao ano no terceiro trimestre de 2017 para os atuais 6,5%, e a menor volatilidade vão ajudar no efeito de marcação a mercado.

Durante a crise econômica, o mercado de seguros arrefeceu e as margens caíram. Ao mesmo tempo, a taxa de juro foi reduzida a mínima histórica, diminuindo os resultados obtidos na aplicação das reservas técnicas - parte das mensalidades dos clientes que as seguradoras investem para garantir o pagamento em caso de sinistros no futuro.

Muitas empresas, que tinham prejuízo operacional, baseavam seus resultados no retorno dessas aplicações. Agora, foram obrigadas a assegurar o lucro com venda de apólices e serviços. "As seguradoras passaram por uma verdadeira tempestade, com a combinação de crise e queda da taxa de juro", diz Rodrigo Maranhão, sócio da consultoria Bain & Company.

No terceiro trimestre deste ano, no entanto, as cinco maiores seguradoras de capital aberto tiveram um resultado operacional 29% superior em relação ao que foi identificado no mesmo período do ano passado. Com exceção da BB Seguridade, as demais empresas - Bradesco Seguros, SulAmérica, Porto Seguro e IRB - registraram forte aumento dos prêmios na comparação anual.

O resultado financeiro, por sua vez, caiu fortemente. O levantamento feito pelo Valor mostra que, de julho a setembro deste ano, as cinco seguradoras somaram R$ 1,94 bilhão com a aplicação das reservas técnicas, valor 26% inferior ao verificado no mesmo período do ano passado.

Um conjunto de iniciativas turbinou os resultados operacionais. No caso da Porto Seguro, mais focada no ramo de automóveis, houve reajuste de preços para os clientes. "Tivemos uma maior racionalidade na precificação dos produtos", disse o diretor de relações com investidores, Marcelo Picanço. Em nove meses, o resultado operacional da companhia cresceu três vezes, ante o mesmo período do ano passado. Segundo o executivo, a empresa não vê espaço para novos aumentos de preços, e acredita que o resultado operacional deve melhorar com o bom desempenho da economia, que deve reduzir os índices de roubos e furtos.

Já a SulAmérica, mais focada em saúde, costuma ter o terceiro trimestre impactado por uma série de reajustes feitos nos contratos. No entanto, a empresa conseguiu manter a sinistralidade no seguro saúde sob controle, enquanto a do seguro de automóvel caiu.

De acordo com o analista Lucas Lopes, do Credit Suisse, os lucros no terceiro trimestre da SulAmérica tiveram forte impulso da melhora das taxas de perdas nos ramos auto e saúde. "As áreas tiveram um ganho de 4,7 pontos percentuais e 1,9 ponto percentual respectivamente", ressalta. Segundo o analista, as comissões também subiram 1,4 ponto percentual no caso das apólices auto e 0,3 ponto percentual para os produtos de saúde.

Com o resultado operacional compensando as perdas financeiras, as seguradoras conseguiram ter aumentos nos lucros no terceiro trimestre. Na soma das cinco empresas, o total foi de R$ 3,7 bilhões, uma alta de 7% na comparação anual.

BB Seguridade, no entanto, foi impactada pelo negócio de previdência, e teve queda de 26%. A controlada Brasilprev registrou baixa nas receitas de 17,1% na comparação com o mesmo período de 2017 e de 15,3% em relação ao segundo trimestre. A queda das vendas de previdência aberta "acima da esperada", segundo Antônio Maurício Maurano, CEO da BB Seguridade, também "teve impacto na corretagem da BB Corretora ".

Porto Seguro apresentou queda de 17,4% no lucro, mas como efeito do resultado maior do terceiro trimestre do ano passado, impulsionado pela venda ações do IRB na abertura de capital. Sem isso, teria um aumento de 23%.

O IRB tem se beneficiado nos últimos trimestres da expansão dos prêmios no exterior. Na comparação anual, a receita fora do Brasil subiu 28,45% para R$ 772 milhões. Em relação ao segundo trimestre, o avanço foi de 7%. "Já são seis trimestre consecutivos de resultados positivos e demonstramos que nossa estratégia de compensar a queda do resultado financeiro com crescimento de subscrição foi bem sucedida", diz José Carlos Cardoso, presidente do IRB-Brasil Re.

Outro destaque da resseguradora tem sido o retorno sobre patrimônio líquido (ROE), que se manteve estável em relação ao segundo trimestre em 33,3%, mas representa um ganho de 6,9 pontos percentuais ante o mesmo período de 2017. "O controle de custos melhorou substancialmente nos últimos dois anos", apontam os analistas Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis, do BTG Pactual, em relatório.

O quarto trimestre promete ser um período de maior bonança para as seguradoras. O conjunto de fatores negativos que têm impactado o setor desde o ano passado começa a ficar para trás. As incertezas políticas têm se dissipado após as eleições e a possibilidade de atividade mais aquecida em 2019 anima as empresas.

Além da melhora macroeconômica, o quarto trimestre é, tradicionalmente, um período aquecido para o setor. Tanto que as seguradoras apostam no intervalo entre outubro e dezembro para atingir as metas do ano.

O Bradesco Seguros viu os prêmios emitidos caírem 3,1% de janeiro a setembro, mas aguarda o quarto trimestre para atingir, ao menos, o piso do "guidance", um crescimento entre 2% e 6%. Segundo o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, em teleconferência, "o quarto trimestre é tradicionalmente melhor ao setor".

A BB Seguridade, apesar de estar nos nove meses deste ano com lucro 8,8% abaixo do mesmo período de 2017, manteve o objetivo de apresentar ganho líquido com quedas entre 4% e 6%. "Nossa expectativa é ter um quatro trimestre mais forte que o terceiro e também melhor do que o mesmo período do ano passado", afirmou Werner Süffert, diretor de relações com investidores.

Um fator não recorrente vai certamente ajudar o grupo a entrar na meta. A BB Seguridade vai receber R$ 2,1 bilhões da Mapfre referentes à venda da participação na holding SH2, responsável por auto e grandes riscos, para a sócia espanhola. A aprovação da Susep foi o último aval de reguladores que faltava - os do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já haviam saído. Com a autorização, o desembolso para a seguradora do BB deve ocorrer em 30 de novembro.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario