Tecnologia revoluciona setor de seguros
A velocidade com a qual as seguradoras conseguiram melhorar seu resultado operacional no Brasil a partir de 2018 chama a atenção. Grande parte do crédito tem de ser atribuído à acelerada transformação digital do setor. As ferramentas on-line, a automação, o uso de tecnologias como inteligência artificial, análise de dados, plataformas e a própria mudança de hábitos do consumidor, com uso maciço de smartphones, trouxeram aumento de eficiência, redução de custos, possibilidade de ganhos de escala e impulsionaram a criação de novos produtos.
O setor passou o ano de 2017 e boa parte de 2018 sob forte pressão diante da queda das receitas financeiras, impactadas pelo ciclo de corte do juro. Para se ter ideia do desafio, no segundo trimestre de 2016, o resultado financeiro consolidado de um grupo de cinco companhias - Porto Seguro, SulAmérica, BB Seguridade e IRB Brasil Re, todas listadas na B3, mais Bradesco Seguros - somou R$ 4,6 bilhões, o dobro dos R$ 2,3 bilhões do operacional.
Em meados do ano passado, o quadro começou a mudar. No segundo trimestre deste ano, o resultado operacional consolidado das cinco empresas atingiu R$ 5 bilhões, o maior valor trimestral absoluto desde, pelo menos, 2015, graças às novas tecnologias.
O impacto potencial do novo cenário digital sobre a indústria pode ser visto nos dados da Minuto Seguros, principal corretora on-line no país, que mostram que a plataforma tem sido muito eficiente em alcançar um público que estava fora do mercado. Segundo a insurtech, 70% de seus clientes de seguros de automóveis nunca tinham contratado apólices para seus veículos. “Há muitas localidades onde não há ninguém que conheça seguros, como um corretor, e as pessoas ficam inseguras em comprar a proteção”, conta o CEO da startup, Marcelo Blay. “Mas, hoje, quando alguém quer encontrar algo vai na internet e, no caso dos seguros, nos acham.”
“Estamos fazendo uma verdadeira transformação digital na SulAmérica ”, disse o CEO da seguradora, Gabriel Portela, em teleconferência para comentar os resultados do segundo trimestre. O executivo citou soluções como o “médico na tela”, pela qual os pais de crianças até 12 anos podem fazer consultas em vídeo com pediatra por meio de aplicativo ou do site da empresa. A ferramenta permite que as pessoas “tirem dúvidas com o médico, que pode fazer diagnósticos de sintomas simples”.
Para o diretor de negócios e investimentos da Porto Seguro, Marcelo Picanço, “o papel da tecnologia é vital em várias dimensões”. Conforme ele, as ferramentas digitais permitem não apenas melhorar a experiência do cliente, como levar um apoio de inteligência de dados e processos automatizados para facilitar o trabalho do corretor, além de, internamente, trazer ganhos de eficiência e de redução de custos.
A Porto foi pioneira em lançar um aplicativo, o “Trânsito+Gentil”, que usa a telemetria proporcionada pelos sensores dos smartphones para avaliar a maneira como o motorista conduz o veículo e, eventualmente, oferecer descontos na apólice, caso a pessoa tenha um perfil de direção mais seguro. A inciativa já ganhou rivais, como o app “Auto.Vc”, da SulAmérica, e o “Direção em Conta”, da Liberty.
A telemetria é uma das grandes apostas da indústria para obter uma melhor precificação, reduzir sinistros e criar novos produtos. “Chamamos isso de apólices conectadas”, afirma John Drzik, presidente da Marsh Global Risk and Digital. “No caso das propriedades, ações preventivas podem ser tomadas a partir do monitoramento ativo, em que sensores vão sinalizar os riscos em tempo real, como falhas em equipamentos, superaquecimento de máquinas, vazamentos e problemas elétricos.”
Em termos de benefícios para as próprias companhias, Picanço, da Porto, explica que um dos maiores ganhos vem da automação. Em alguns casos, aponta, a digitalização tornou quase instantâneos processos manuais que poderiam levar até dias para serem feitos.
A subscrição, por exemplo, tem sido um dos focos. “Uma vez automatizada, diminui o tempo necessário para gerar uma avaliação de risco e, consequentemente, agiliza o processo de emissão e comercialização da apólice”, aponta Mathias Jungen, CEO da Swiss Re Brasil.
A resseguradora suíça desenvolveu uma ferramenta que automatiza a subscrição de seguro de vida. A solução se comunica com um conjunto de regras pré-programadas no sistema, compatível com o Life Guide, o manual de subscrição on-line de vida e saúde da Swiss Re, atualizado a cada seis meses.
Outro exemplo de ganhos trazidos pela digitalização da indústria vem da insurtech Cilia, que desenvolveu uma solução proprietária para elaborar orçamentos de reparos de veículos baseado apenas em imagens. “Desse modo, o orçamento, em caso de um sinistro, é feito instantaneamente”, aponta o CEO, Daniel Barbosa.
Segundo o executivo, a automatização dos processos de vistoria e orçamento pode trazer uma economia de cerca de 70% para os custos das áreas de sinistro de uma companhia e torna instantâneo um processo que hoje leva, pelo menos, 48 horas para ser finalizado. A Cilia já trabalha com grande grupos seguradores, como Bradesco Seguros, Tokio Marine, Sompo, Generali e Essor, além de locadoras de veículos, entre as quais Localiza, Movida, Unidas e Locamerica.
Na Allianz, segundo o diretor comercial da Eduardo Grillo, por meio de 14 perguntas, um algoritmo faz o cálculo do risco do cliente e em um minuto emite a apólice para o veículo. “É uma transformação geral do nosso modelo de negócios”, diz Grillo, ao incorporar também modelos preditivos baseados em inteligência artificial e aprendizado de máquina.
Os dados disponíveis on-line têm se mostrado recursos muito relevantes na avaliação de riscos e confirmação de perfis. As seguradoras já estão usando as redes sociais para cruzar informações fornecidas pelo segurado e até validar interesse segurável. “A melhor forma de entender o consumidor é pelo acompanhamento das redes sociais, pesquisas e análise de tendências”, afirma a diretora de vida e longevidade do IRB Brasil RE, Alessandra Monteiro. Para ela, “dados sobre estilo de vida, perfil de risco e poder aquisitivo podem auxiliar a subscrição de riscos de vida, de forma surpreendente”.
Nesse cenário, a tecnologia tem galgado degraus em importância nas estratégias das empresas. A Tokio Marine, por exemplo, investe só no Brasil R$ 100 milhões por ano em desenvolvimento digital, segundo o CEO da filial da seguradora japonesa, José Adalberto Ferrara. Outra frente é o desenvolvimento de soluções para apoiar o trabalho de corretores e assessorias. A Tokio criou uma plataforma própria, a Brokertech, que oferece treinamentos sobre as 16 ferramentas digitais disponibilizadas à sua força comercial. Para Ferrara, o investimento é necessário para aumentar vendas e reduzir custos.
A Liberty Seguros foi outra que lançou uma ferramenta voltada aos corretores com foco em marketing digital e qualificação. A solução oferece materiais de comunicação pré-formatados para mídias sociais e grupos de whatsapp, além de treinamento para a divulgação nas mídias sociais.
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