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O golpe do seguro

Fonte: O Estado de São Paulo

Oferta de receber 'bolada' por valores pagos no passado pode ser mais um caso de conto do vigário'; na dúvida, procure a Susep

Os golpes do seguro vão se multiplicando e se sofisticando a cada dia que passa. O último de que tive notícia tentou pegar a esposa de um bom amigo e companheiro de Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Ela recebeu uma correspondência de uma hipotética seguradora, informando que, como havia contribuído com R$ 50 por mês durante 12 anos, tinha uma bolada de mais R$ 50 mil em seu nome e que podia ser sacada a qualquer instante. Para isso, solicitavam que ela entrasse em contato com eles, através de um número telefônico indicado no pé da página.

Meu amigo me telefonou, contou a história, eu lhe perguntei se sua mulher tinha noção do que poderia ser aquilo, ele respondeu que ela nunca tinha escutado falar da tal empresa e eu lhe disse que deveria ser um golpe. Mas que ele me encaminhasse a tal carta que verificaria o que era.

A correspondência que ele me encaminhou não poderia ser mais convincente. Com cara de apólice de seguro, dados acurados, datas, cláusulas contratuais, entradas, saídas, quadros bem desenhados, com as informações escritas por computador etc.

Um leigo se impressionaria e até imaginaria que estava diante da sorte grande. Evidentemente, ele não se lembraria de haver contribuído, mas isso seria um mero detalhe, insignificante diante da bolada grafada com destaque no campo mais visível do formulário.

De outro lado, a gente paga tanta coisa sem saber que, de repente, a contribuição tinha sido descontada em algum carnê de pagamento de mensalidade da compra de alguma coisa ou abatida do seu salário quando trabalhou na repartição XPTO.

Tanto faz se ele se lembra ou não, ou até mesmo se não trabalhou na tal repartição: R$50 mil é uma bela grana e acende a cobiça de todo mundo. Por que não dar só uma telefonada para saber o que é? Se for golpe, ele é esperto e não cai, desliga o telefone e fica o dito pelo não dito, ninguém precisa saber.

Em vez de verificar na Superintendência de Seguros Privados (Susep) se a tal firma ao menos existe, ele telefona. É bem atendido. Uma voz humana e preparada, diferente dos "zero oitocentos" da vida, lhe dá todas as informações, apresenta fatos, datas, recorda passagens, enfim, mostra seriedade, intimidade com o cliente, transparência empresarial e vontade de pagar. Acima de tudo, vontade de pagar.

A mosca da ganância pica nosso hipotético interessado. A curiosidade o leva a perguntar o que ele precisa fazer para receber o dinheiro que, naquela altura ele não tem mais dúvidas, é seu de pleno direito.

A voz do outro lado fica mais amável ainda. Lhe diz que está enviando o formulário para ser preenchido com alguns dados essenciais para o sistema liberar o pagamento e que, enquanto isso, para apressar, ele pode fazer um depósito de X reais numa determinada conta corrente para pagar os custos de cadastro e administração.

É aí que o peixe morde a isca. O interessado percebe o cheiro de golpe. Imagine fazer um depósito! E ele responde que não fará depósito nenhum, que aquilo é golpe, que não é bobo, nem coisa nenhuma.

A voz do outro lado é calma e pacificadora, amansa a fera e diz que, perfeitamente, ele não tem que fazer depósito nenhum imediatamente, que falara aquilo apenas para acelerar o processo e o cliente ter seu dinheiro mais rapidamente. Que o pagamento poderia ser feito depois de responder e encaminhar o questionário.

Dito e feito. O cidadão recebe o questionário, preenche e, logo depois, faz o depósito na conta indicada. Neste momento, ainda sem saber, ele acaba de entrar para o longo rol dos patos que caem em golpes bem armados.

Meu amigo teve o cuidado de me encaminhar a documentação e por isso não teve prejuízo nenhum. Mas quantos e quantos podem assinar embaixo dessa historinha? Se você receber algo no gênero, antes de tudo, entre em contato com a Susep para ver se a tal empresa ao menos existe. Invariavelmente, a superintendência lhe dirá que se trata de golpe. Com essa informação é sempre mais fácil jogar a carta no lixo.

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