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Financiamento imobiliário barateia seguro de vida

Fonte: Portal IG

Estudo aponta diferenças de mais de 100% entre contratar produto livremente ou adquiri-lo com crédito para a casa própria

Quem financia um imóvel tem acesso a um seguro de vida por preço menor do que se contratá-lo livremente, direto nos bancos e com corretores. Análise do Centro de Estudos da Consultoria do Senado aponta diferenças de até 148% nos valores cobrados por bancos ao longo dos períodos de financiamento. Foram avaliados seis diferentes bancos: Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Citibank, Bradesco e Santander. “Isso pode ser sinal de falhas de mercado no segmento e graves ineficiências no mercado livre, provavelmente decorrentes de regulação inadequada”, diz Marcos Köhler, autor do estudo.

Os seguros de vida contratados para morte e invalidez permanente (MIP) e danos físicos ao imóvel (DFI) em um valor de imóvel de R$ 350 mil e financiamento de R$ 280 mil em 20 anos custam para uma pessoa de 35 anos de R$ 81,76 a R$ 96,04 na primeira prestação. Mas, segundo o levantamento, um mesmo produto contratado livremente, simulando a evolução do mesmo valor assegurado ao longo de 20 anos, custa R$ 140 na primeira prestação.

Ao longo dos 20 anos, segundo o estudo, o consumidor que contratou o seguro por meio do financiamento terá pago entre R$ 15,4 mil e R$ 21,7 mil de prêmio, enquanto aquele que contratou o seguro independentemente do empréstimo terá pago R$ 27,2 mil, para ter exatamente a mesma cobertura.

O estudo indica, portanto, que, para aqueles que tenham financiamento imobiliário, vale mais a pena ter um seguro de vida atrelado ao crédito do que se contratado livremente. “Os prêmios de seguro de vida oferecidos no mercado livre são sistemática e significativamente superiores aos cobrados nas apólices de seguro de vida vinculadas a financiamentos habitacionais”, diz o consultor do Senado.

Transparência

A primeira percepção de falta de competitividade e transparência no setor de seguros de vida foi percebida por Köhler na hora de levantar os preços. “A maioria das instituições não permite o acesso a essa informação pela internet”, diz. Quando conseguiu os dados, os bancos apresentavam agregadas as coberturas de MIP e DFI, o que dificulta mais a comparação, diz.

Para Köhler, o financiamento imobiliário é um segmento mais competitivo do que o de seguros de vida e, ao contratar o serviço junto com o crédito, o consumidor acaba se beneficiando com taxas mais baratas de seguro. Além disso, ele destaca que, com o financiamento imobiliário, os seguros de vida são mais padronizados e, portanto, é mais fácil compará-los e pechinchar.

Segundo ele, o consumidor também se sente mais motivado a comparar preços pelo financiamento imobiliário do que ao contratar um seguro de vida, por conta das quantias envolvidas nos dois processos. No seguro com o financiamento, "é racional para o consumidor arcar com maiores custos de pesquisa, de informação e de barganha, uma vez que qualquer diferencial obtido nessas etapas redundará em ganho significativo, que podem compensar os gastos envolvidos.”

No seguro atrelado a um financiamento também há mais estímulo regulatório para a concorrência entre as empresas. Em novembro de 2009, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que os bancos têm de oferecer aos contratantes de um financiamento no mínimo uma apólice de seguro de empresa que não seja parte do mesmo conglomerado.

Outro fator apontado por Köhler que pode levar ao encarecimento do seguro de vida é a exigência legal de um corretor como intermediário entre o cliente e a seguradora. Em outros seguros, como de automóvel, esse custo seria mais diluído.

Participação no PIB

Há anos, o setor de seguros busca criar produtos de vida mais simples, que sejam mais baratos, para aumentar o acesso da população a eles. No Brasil, a participação desses seguros em relação ao PIB é estável há anos em cerca de 0,3%. Em países desenvolvidos, essa proporção é muito maior, acima de 1%.

Para a Superintendência de Seguros Privados (Susep), responsável pela regulação do setor, a conclusão do estudo de Köhler é “superestimada” no que se refere aos custos decorrentes do marco regulatório. Quanto ao custo de corretagem, a Susep ressalta que, na prática, várias operações de seguros de vida prevêem o repasse da comissão à Escola Nacional de Seguros (Funenseg), representando uma baixa participação relativa no valor bruto dos prêmios, uma vez que não há um percentual mínimo regulamentado.

Segundo a Susep, no primeiro semestre deste ano, as seguradoras arrecadaram em seguros de vida individuais prêmios de R$ 514 milhões, enquanto pagaram de sinistro, ou seja, indenizações, R$ 85 milhões. No caso dos seguros de vida em grupo (pagos, principalmente, por empresas aos seus funcionários), essa disparidade é menor. Nesses casos, foram arrecadados R$ 3,8 bilhões e pago em sinistro R$ 1,6 bilhão.

Procuradas por meio da Federação Nacional das Seguradoras de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), as empresas não se manifestaram ao iG, alegando falta de tempo hábil para avaliar o estudo da Consultoria do Senado. Como proposta para melhora da concorrência no setor, Köhler propõe a criação de seguros de vida livres mais homogêneos e maior transparência na apresentação dos custos e coberturas.

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