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Seguradoras temem perda com furacões e fusões no setor

Fonte: Valor Econômico

Catástrofes: No primeiro semestre, prejuízos chegaram a US$ 22 bi, o dobro da média mundial em dez anos

As seguradoras e resseguradoras do mercado Lloyd's of London observam com nervosismo enquanto furacão Earl passa perigosamente próximo à costa leste dos Estados Unidos. Advertências contra os fortes ventos e pesadas chuvas do furacão foram emitidas em partes da Carolina do Norte e Massachusetts, embora não se espere que atinja a terra. Mais preocupante, no entanto, é o fato de o Earl ser o terceiro furacão contabilizado no Atlântico neste ano, sendo que a época mais ativa da temporada de furacões está apenas começando.

Em 2009, quando o El Niño reduziu a frequência de tempestades, foram registrados apenas dois furacões grandes o suficiente para receberem nomes. Para este ano, a previsão é de uma das temporadas mais ativas na história.

O mundo dos seguros já foi atingido por grandes perdas com o terremoto de fevereiro no Chile e uma custosa tempestade de inverno na Europa, que fizeram do primeiro semestre de 2010 um dos piores em prejuízos com catástrofes naturais. As perdas mundiais no primeiro semestre totalizaram US$ 22 bilhões, mais que o dobro da média mundial dos últimos dez anos, segundo a Munich Re.

Além disso, as seguradoras deparam-se com um cenário difícil para investimentos financeiros, com taxas de juros baixíssimas e perspectivas econômicas frágeis, que afetam o retorno obtido com suas principais aplicações, em renda fixa. O retorno dos investimentos das empresas do Lloyd's caiu drasticamente no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2009, para uma taxa média anualizada inferior a 3%.

Quanto mais tempo durar esse cenário, mais penosa será a situação para o setor, especialmente para os que fazem seguros de riscos de mais longo prazo, como para acidentes ou para casos de acusações de negligência profissional.

Apesar desses fatores, os prêmios pagos pelos segurados ainda estão em queda em quase todos os segmentos, com exceção das coberturas para riscos de terremoto na América Latina e das apólices para operações de petróleo e gás no Golfo do México, que aumentaram após os problemas com plataforma de águas profundas da BP. Essa tendência provavelmente ganhará mais força, a menos que surjam prejuízos relacionados a alguma grande tempestade, de acordo com especialistas.

Ainda assim, a maioria das empresas do Lloyd's apresentou lucros sólidos e muitos conseguiram expandir seu valor patrimonial - ativos líquidos tangíveis - por ação, que é um indicador-chave para os investidores no mercado Lloyd's.

Com exceção da Amlin, Hiscox e Lancashire, as ações de todas as empresas listadas do Lloyd's são negociadas abaixo do valor patrimonial, uma vez que os investidores se afastam do setor. As empresas do Lloyd's não estão sozinhas - a maioria das resseguradoras bermudenses com ações listadas em Nova York também é negociada com descontos.

"As ações do setor estão sendo negociadas a valores baixos porque os investidores estão descontando o impacto combinado da moderação das taxas e o fraco retorno dos investimentos", diz Thomas Dorner, analista da Oriel Securities. A grande questão nos próximos meses é se esses valores baixos atrairão ofertantes pelas empresas e ajudarão a incentivar uma onda de fusões.

O grupo de investimentos em participações Apollo está em meio a uma extensa avaliação das contas da Brit Insurance, após ter apresentado oferta de 10,75 libras esterlinas por ação há cerca de quatro semanas. A Pamplona, instituição financiada principalmente com dinheiro russo, ainda possui participação de quase 10% na Chaucer, que poderá usar para incentivar a empresa a entrar em algum tipo de fusão. Um investidor do setor diz são necessárias mudanças, pois há excesso de capacidade e de custos.

"Essas empresas sempre estão dispostas a fazer mais negócios, mas elas precisam aumentar suas taxas internas de retorno", afirma o investidor. "Deverá haver mais consolidação, mas precisam surgir mais investidores ativos, private equity e fundos hedge para servirem de catalisador."

Michiel Bakker, chefe da unidade de mercados de capitais europeus na corretora de seguros Willis, afirma que muitos dos ingredientes para uma consolidação estão presentes, mas ele é cauteloso quanto ao volume de fusões e aquisições que estaria por vir. "As perdas no primeiro semestre atingiram mais duramente às pequenas empresas, o que mostra as vantagens de ter escala e diversificação", diz Bakker. "Também está a expectativa geral de aumento das exigências de capital para seguradoras, o que poderia levar a uma consolidação."

"Nas Bermudas, as pessoas falavam sobre a necessidade de fusões há anos, mas isso apenas começou a ocorrer."

Para Stephen Catlin, executivo-chefe da Catlin, não é apenas o nível das exigências de capital que pode encorajar as fusões, mas também o custo de cumprir regulamentações mais rigorosas.

"Acho que vai ser muito, muito difícil para os pequenos participantes sobreviverem, não por falta de qualidade, mas simplesmente porque o custo de se fazer negócios está aumentando."

Há, entretanto, vários obstáculos para uma onda de fusões. Os baixos valores podem atrair o interesse de compradores do setor financeiro como o Apollo, mas executivos de banco de investimento consideram extremamente difícil para um conselho de administração recomendar [aos acionistas] uma oferta abaixo do valor patrimonial. Também está a questão cultural, segundo Dorner. "As fortes personalidades envolvidas no setor dificultaram as fusões no passado."

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