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Munich Re, a central de riscos do mundo

Fonte: O Estado de São Paulo

Por dentro da empresa de resseguros que assume riscos considerados grandes demais até para as gigantes do setor

A frente de baixa pressão que provocou inundações na cidade de Görlitz, na fronteira oriental da Alemanha com a Polônia, se desenvolveu no Mediterrâneo, contornou o flanco oriental dos Alpes, dirigiu-se para a Polônia e finalmente fez uma parada em Erzgebirge, ao longo da fronteira entre Alemanha e República Checa. Mas Angelika Wirtz ainda não estava preocupada.

Quando as chuvas tombaram o longo do Rio Neisse, ela começou a ficar mais atenta. Görlitz foi inundada na noite de 7 de agosto, quando as águas do rio subiram quatro metros em três horas. Quando Angelika recebeu a notícia, fez algumas anotações no computador, mas não muito longas - já tinha visto coisa pior.

No fim de semana das inundações em Görlitz, o Paquistão foi assolado por chuvas de dimensões apocalípticas; na Rússia, houve notícias de mais de 800 focos de incêndio; um temporal na Finlândia deixou 70 mil pessoas sem eletricidade; e pelo menos 80 pessoas morreram e centenas estavam desaparecidas devido a deslizamentos de terra na China.

Angelika Wirz colocou todas essas informações no seu computador na manhã de 9 de agosto. Ela está habituada às provações que a vida prepara para os seres humanos. Há 17 anos dirige a chamada "célula de crise" da Munich Re, a maior empresa de resseguros do mundo.

O banco de dados da Munich Re contém informações sobre desastres que já ocorreram e também sobre os que estão começando ou podem ocorrer no futuro. Dados de todos os terremotos e tremores na crosta terrestre, sobre a altura das ondas oceânicas, temperaturas do ar e da água, e sobre a direção e velocidades das correntes. Informações sobre o derretimento das geleiras no Himalaia e nevascas no Ártico e Antártida também estão documentadas.

Os novos conhecimentos nas áreas de nanotecnologia, incineração de lixo, produção de petróleo, construção naval, os avanços no campo médico dos transplantes e da reprodução também estão armazenados nos computadores.

Essa oferta ilimitada de dados, provavelmente sem paralelo em tamanho e profundidade, flui de cada continente para um grupo de prédios ao lado do Jardim Inglês em Munique. A Munich Re é uma seguradora das companhias de seguros. Ela assume os riscos que são grandes demais para gigantes do setor, como a Allianz ou a alemã Gothaer.

Probabilidades. Contando com suas subsidiárias, a empresa tem 47 mil funcionários em todos os continentes, e mais de um quarto da população do mundo, cerca de dois bilhões de pessoas, está indiretamente garantido por meio dela. As decisões tomadas por essas pessoas, os acidentes que elas sofrem, as circunstâncias do seu nascimento e morte, todas essas informações são transmitidas para a Munich Re. O objetivo é encontrar padrões dentro do caos e probabilidade no que é improvável.

Até onde vai o risco de um acidente com um cargueiro no Midland Canal, na Alemanha, provocar um apagão na Itália? Quanto pode custar para assegurar toda a cadeia logística de uma montadora internacional, um total de quatro mil empresas espalhadas por todos os continentes, contra qualquer problema concebível na entrega dos veículos, desde greves até erupções vulcânicas? Esses são os tipos de pergunta que os pesquisadores da Munich Re têm de responder. A tarefa deles é avaliar os riscos o maior cuidado possível, porque o nível de risco vai determinar o quão frequentemente um prejuízo pode ocorrer. E a frequência desses prejuízos, ou pedidos de indenização, é que vai determinar o valor do prêmio a ser pago. Por exemplo, se uma determinada casa tem risco de ser inundada por um rio uma vez por ano, o prêmio do seguro vai corresponder ao valor da casa.

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