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Entrevista com Marco Antônio Rossi, Presidente da Fenaprevi

Fonte: Brasil Econômico

Executivo aponta a necessidade de se investir em planos para a classe C; segundo ele, setor deve voltar a registrar crescimento de dois dígitos neste ano

Além de principal executivo da Bradesco Seguros, Marco Antonio Rossi representa o setor no comando da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Rossi defende a necessidade de melhorar a linguagem dos produtos para facilitar o entendimento dos clientes, principalmente da classe C - que se tornou um importante mercado para as empresas de previdência -, acredita que o Brasil tem produtos de nível internacional e espera que o setor registre novamente dois dígitos de crescimento em 2010.

Há quanto tempo o mercado de previdência privada começou a deslanchar no Brasil? Quais motivos levaram a esse movimento? 

O mercado começou a crescer no final da década de 90, e isso se acentuou nos últimos anos. Com a inflação em baixa, os consumidores costumam ter uma visão mais voltada para o longo prazo, ou seja, começam a fazer investimentos com prazos maiores. Além disso, a flexibilidade dos produtos e a sua transparência ajudaram o cliente a entender melhor os verdadeiros propósitos da previdência privada.

O governo também deu sua contribuição, ao permitir a dedução no imposto de renda. E por último, podemos incluir o aumento da expectativa de vida das pessoas, que estão vivendo cada vez mais. Isso tem despertado sua consciência a respeito da necessidade de guardar dinheiro para o futuro.

Há alguns anos, qual era o intuito das pessoas ao adquirir um plano de previdência privada? O que mudou nesse sentido? Qual é o perfil dos brasileiros atualmente? 

A cada dia, novos brasileiros entram no mercado de previdência privada.

Há cinco anos, a média de idade dos consumidores que passavam a economizar recursos por meio da previdência privada era de 37 anos. Hoje, já está em 34. Houve uma redução de três anos durante esse período. Nos anos 80, quando o Brasil começou a trabalhar com os primeiros planos, a mentalidade das pessoas era gerar 100% de renda vitalícia. As pessoas se aposentavam mais cedo, com cerca de 55 anos.

Ao longo do tempo, esse cenário foi mudando. Com 60, 70 anos, as pessoas ainda têm muita saúde e não querem deixar de trabalhar. E também se aposentam mais tarde. Por isso, pegam essa reserva e abrem seu próprio negócio, ou fazem aquela viagem dos sonhos. Ou usam os recursos para fazer as duas coisas.

Atualmente, as pessoas enxergam a previdência privada como instrumento apenas de benefício próprio? Ou abriram a mente para outras possibilidades, como o financiamento dos estudos dos filhos? 

A questão da educação e previdência privada virou uma realidade. Qual família não quer proteger seus filhos? E a previdência vem ajudar nesse sentido. Os pais podem começar a guardar esses recursos, sem que isso pese no bolso, e garantir que os filhos façam sua faculdade. Acumular esses recursos para esse tipo de finalidade é uma tendência que ainda vai tomar muita força no mercado brasileiro.

Qual foi o papel das empresas de previdência privada nesse sentido? 

Nos últimos anos, as empresas têm feito um trabalho de conscientização, por meio da imprensa, de ações de comunicação, para mostrar as vantagens dos produtos de previdência privada para os brasileiros. O maior ganho que tivemos é que hoje ela já faz parte do dia a dia das pessoas. Elas já sabem o que significam siglas como PGBL, VGBL e os ganhos significativos que esses produtos podem proporcionar para o seu futuro.

Com a crise econômica, o mercado de previdência privada sofreu um impacto direto? 

As pessoas passaram a investir menos? Mesmo quando as maiores economias do mundo estavam com sérios problemas, nosso mercado no Brasil cresceu 10% em 2009. Não houve fuga de recursos nas carteiras das empresas. O que aconteceu é que, em um primeiro momento, houve uma realocação de ativos para investimentos mais conservadores.

Mas isso não afetou nosso desempenho e nem a captação de novos clientes. Nossa indústria não sofreu nesse período. Após o período turbulento da crise econômica, aos poucos a economia brasileira voltou a ficar aquecida.

O acesso ao crédito tornou a se expandir e o consumo ficou a todo o vapor. O mercado de previdência privada seguiu esse caminho? 

Nós continuamos a ter um forte desenvolvimento, que nos trouxe alguns segmentos nos quais a previdência privada não tinha penetração, como é o caso dos consumidores das classes mais baixas e também das pequenas e médias empresas, que passaram a adquirir esse tipo de produto para reter seus funcionários.

No geral, os brasileiros têm um forte apetite para consumo e falta de cultura de poupança. Como o mercado se desenvolve nesse cenário?

Esse tipo de comportamento dos brasileiros vem mudando ao longo do tempo. E isso pode ser traduzido por meio de números. O mercado brasileiro de previdência privada representa 25% do PIB, enquanto que no Chile esse índice chega a 50%. Mas vale lembrar que esse país não tem a previdência pública. Já nos Estados Unidos, essa participação chega a 70%. Isso prova que estamos vivendo um crescimento bastante acelerado.

De acordo com um estudo encomendado pela Fenaprevi para a consultoria Kantar Worldpanel, apenas 10% das famílias das classes A e B têm planos de previdência privada. Por que isso acontece, já que é um público que tem condições de consumir e também poupar?


É um processo evolutivo. Aos poucos, com o aculturamento da necessidade de se pensar no futuro, o volume de adesão dessas famílias vai se tornando maior. A indústria da previdência privada no Brasil é relativamente nova, se compararmos aos Estados Unidos, cuja história do produto já está sendo construída há quase um século. Em outras gerações, os pais achavam que os filhos e o próprio Estado teriam recursos para ampará-los na velhice, mas essas duas possibilidades têm limitações. Como o país ainda é composto por uma boa parte da população considerada jovem, a quantidade de pessoas aposentadas proporcionalmente não é muito grande.

O que tem levado as pessoas a se preocuparem com o seu futuro? 

Percebemos um número cada vez maior de jovens, com mais de 30 anos, optando por alimentar um plano de previdência privada, visando o futuro. Existe uma preocupação e os planos estão cada vez mais simples em termos de entendimento por parte do consumidor.

Se pudéssemos eleger um mercado modelo de previdência privada no mundo, qual seria? Quais são as diferenças em relação ao brasileiro? Falta muito para alcançar esses resultados? 

O mercado americano é um excelente exemplo em termos de sucesso operacional. No entanto, se você me perguntar sobre um bom produto, digo que é o brasileiro, que pode ser considerado hoje de alto nível internacional.

Ele contempla exatamente os nossos anseios. Acredito que em 10 anos vamos encostar no mercado americano em termos de participação e resultados.

Uma das barreiras da previdência privada, assim como no setor segurador, é a questão da linguagem. Por que ainda há dificuldade de compreensão por parte dos consumidores, mesmo aqueles mais esclarecidos?

Nós já evoluímos um pouco em termos de simplificação, mas ainda existe muito a ser feito. Já estamos trabalhando para melhorar cada vez mais esse entendimento, com base no treinamento da força de vendas. Hoje os ganhos são claros nesse sentido. Por isso a participação da classe C no universo da previdência privada vem crescendo a cada mês.

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