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Os desastres naturais mudam o perfil dos seguros no Brasil?

Fonte: Cacau Araújo, de EXAME.com

Especialistas consultados por EXAME.com dividem opiniões sobre a possibilidade de aumento de preços, mas concordam que o brasileiro deve se atentar mais aos seguros

Agência Brasil

Brasília - As chuvas que alastram a região serrana do Rio de Janeiro há uma semana já são consideradas o pior desastre natural já ocorrido no Brasil. Até agora, foram registradas 713 mortes, mais de 20 mil pessoas estão desabrigadas. Doações para ajudar os atingidos pelas enxurradas chegam - com dificuldade - de todo o Brasil.

No momento de reestruturar a rotina, ter um seguro pode ajudar - pelo menos do lado material. Para Adelson Cunha, presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), o Brasil ainda não tem costume de cuidar do patrimônio. “É uma lacuna a ser preenchida, não temos essa cultura de fazer seguro de todos os bens”, afirmou.

O presidente da FenSeg acredita que a população ainda não se deu conta que aqui há riscos de alagamento e inundação, mas a situação vivida pelo Rio de Janeiro deve mudar esta ideia. De acordo com Cunha, a tendência é o número de pessoas que passem a fazer seguros contra desastres naturais deve aumentar. “A partir do momento que se começa a ter a percepção de que se pode ser atingido, as pessoas vão atrás de uma forma de se proteger”, explicou.

Cunha apontou ainda que há uma possibilidade de os seguros na área atingida pelas enxurradas no Rio de Janeiro passarem a pagar mais caro para segurar seus bens. “Estaria mentindo se dissesse que não haveria mudança ali. Uma seguradora nada mais é do que uma administradora do recurso do segurado, e se o local traz mais riscos pro cidadão, pode existir uma mudança de taxa. É possível e provável”, ponderou Cunha.

Já para Luiz Francisco Minarelli, diretor de Sinistros da Liberty Seguros, por enquanto, os preços dos seguros na região serrana do Rio não devem subir. “É um caso especifico, isolado.Não dá para pegar um caso isolado e aplicar uma taxa sobre isso, não se pode definir isso como tendência ainda.”

De acordo com Minarelli, o números de sinistros registrados pela companhia ainda não são alarmantes. Até o início da semana, a seguradora tinha uma média de 100 sinistros de veículos. “O prejuízo é um pouco maior, porque a maioria é quadro de perda total”, contabilizou.

Apesar de terem opiniões diferentes sobre a possível alta nos preços de seguros depois da catástrofe no Rio, tanto Adelson Cunha quanto Luiz Francisco Minarelli concordam em uma coisa: o brasileiro deve começar a se preocupar em se proteger – e proteger seu patrimônio – contra os desastres naturais. Para Minarelli, os sucessivos problemas com as chuvas em todo o país deve começar a gerar uma demanda por seguros contra enchentes e inundações.

Deus é brasileiro?

Para o líder regional de BCM da Marsh para a América Latina, Roberto Zegarra, a resposta é não. “Fica óbvio que aquele ditado de antigamente que ‘Deus é brasileiro’ e os desastres não acontecem no Brasil não é verdade, os riscos estão mudando”, aponta Zegarra.

Na carteira de serviços da Marsh está a consultoria de gerenciamento de risco para empresas. E de acordo com Zegarra, existe uma necessidade cada vez maior de entender melhor os riscos relacionados aos desastres naturais. Segundo ele, a companhia está vendo um aumento “significativo” na prevenção e no trabalho de continuidade – como agir depois de o risco ter, de fato, acontecido.

“O que estamos vendo é o aumento da quantidade de desastres naturais no Brasil. Antes enchentes, vendavais eram esporádicos, mas quanto mais catástrofes, mais as seguradoras precisam de dinheiro para pagar os prêmios dos segurados”, avaliou o vice-presidente sênior da Marsh.

O risco de um local é calculado a partir de um conjunto de mapeamentos meteorológico e geológico, quais são as áreas suscetíveis a inundação etc. “E o cenário pode mudar, pode haver uma área que hoje não é suscetível a esses problemas, mas os riscos mudam. Às vezes por fatores externos, como desmatamento, urbanização desorganizada, falta de infraestrutura”, explicou Zegarra, que considera que o trabalho inteiro tem um objetivo só: descobrir maneiras de minimizar os riscos.

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