Breaking News

Escolas de samba têm de se profissionalizar mais para ter acesso ao seguro

Fonte: Revista Apólice

A fatalidade que aconteceu esta semana na Cidade do Samba deve mudar os conceitos de risco e prevenção do Carnaval carioca. Embora a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) tenha contratado apólice de property com a Mapfre no valor de R$ 40 milhões, com corretagem da Lua Nova Seguros, a regulação não será tão simples quanto as escolas de samba atingidas desejam. Além disso, o valor total do seguro leva em conta o patrimônio e talvez algum maquinário dos 14 barracões existentes no local, ou seja, será contabilizado considerando que quatro deles foram atingidos pelo incêndio. Estima-se que o prejuízo total das três escolas atingidas - Grande Rio, Portela e União da Ilha - ultrapasse os R$ 20 milhões.
Conforme informações da assessoria de imprensa da Liga, a expectativa é que nesta quinta-feira, 10 de fevereiro, a seguradora Mapfre faça um adiantamento pelos danos sofridos. Como o contrato estabelecido entre a Mapfre e a Liesa detém cláusula de confidencialidade, a seguradora não se manifestou, pois a mesma tem de ser autorizada pela contratante.

O laudo do incêndio ainda deve demorar alguns dias para ficar pronto. Entre as várias controvérsias existentes, esperam-se explicações como onde o incêndio começou, a causa, dentre outras. "A Construção da Cidade do Samba foi feita em 2003 pela Delta Oriente. É nova e moderna, mas o projeto não considerou o gerenciamento de risco", alerta Gustavo Mello, diretor da Correcta Seguros e professor da Funenseg.

Ele afirma que em um dos barracões do local havia uma churrascaria que mantinha estoque de inflamáveis. "É um desvio grande do risco segurado". Além disso, relatos apontam que sprinklers não funcionaram e que a bomba d'água de incêndio não era automática e dependia de autorização para ligar. "O correto seria ter construído os barracões com uma separação de oito metros, assim um incêndio não destruiria três escolas de samba ao mesmo tempo", explica ele, que ressalta: "Teremos uma regulação de sinistro complicada".

No momento, o que as escolas atingidas mais desejam é fazer bonito na Sapucaí, mesmo diante de tantas perdas. Para isso, estão contando com o apoio da comunidade e com os recursos das escolas de samba para tentar, em menos de um mês, recuperar fantasias e alegorias perdidas no incêndio. "Temos de levar a comunidade de Duque de Caxias para desfilar na Sapucaí. Mesmo sem alegorias, a escola vai desfilar", desabafa Anilton Loureiro da Silva, Diretor Jurídico da Grande Rio.

A prefeitura do Rio de Janeiro anunciou verba de R$ 3 milhões para as escolas, sendo R$ 1,5 milhão para a Grande Rio e R$ 750 mil para Portela e União da Ilha, mas como a mesma arrecadou o valor idêntico com a iniciativa privada, talvez não seja preciso utilizar os recursos públicos prometidos. De acordo com o departamento financeiro da Grande Rio, a escola ainda trabalha apenas com o seu caixa. "Estamos refazendo o Carnaval com os nossos recursos", confirma Julio Guilherme dos Santos, responsável pelo setor financeiro da escola.

Ele informa que a Grande Rio não tem um seguro específico para cobrir os estragos com alegorias e fantasias, mas não descarta a possibilidade de recorrer ao mercado securitário em busca deste tipo de proteção após o incidente. "Só pensamos no seguro depois que temos o carro roubado. É sempre assim", justifica.

Tudo é segurável

Apesar de não ser costume das escolas de samba fazer seguro, de acordo com especialistas entrevistados por Apólice, todos os objetos existentes nas agremiações são seguráveis. Conforme informações da SulAmérica, a apólice poderia cobrir os equipamentos e materiais para produção de alegorias e fantasias, desde que as escolas tenham meios de comprová-los em caso de sinistro. "Tudo no mundo é segurável", corrobora Dulce Thompson, especialista em esportes, eventos e entretenimento da corretora de seguros Marsh.

Segundo ela, as escolas de samba poderiam ter contratado um seguro multirisco que cobrisse não só os danos materiais, as alegorias, figurino, mas também o cancelamento do evento. "As escolas de samba são grandes empresas. Elas investem milhões na preparação do Carnaval, têm funcionários, maquinários, utilizam a parte logística, de transporte etc", enumera ela.

É possível incluir na apólice, de acordo com a especialista, o custo por ala ou total da escola de samba, contratar coberturas de Responsabilidade Civil, entre outras proteções, desde que haja um orçamento do objeto segurado. Um bom exemplo foi o seguro intermediado pela Marsh para todo o figurino do espetáculo musical Bela e a Fera. "São roupas caríssimas e que vieram dos Estados Unidos", lembra ela.

Este tipo de proteção é possível com a adoção de boas medidas de gerenciamento de risco. Planos de contingência, que preveem incêndios ou alagamentos, locais seguros de armazenamento, vistorias permanentes, sistemas de proteção e segurança, entre outras medidas têm de ser levadas em conta. Até porque boa parte do material utilizado além de ser inflamável, nem sempre está separado conforme deveria nos barracões das escolas, principalmente, quando os dias de folia se aproximam e o trabalho e a correria aumentam. "O elevado risco de incêndio existente no espaço, em função dos materiais utilizados na confecção das alegorias e fantasias, como espuma, isopor, cola, tecidos, plásticos, entre outros, dificultam a aceitação do seguro, fazendo com que o local e a atividade das escolas de samba tenham severas restrições no mercado", explica a SulAmérica por meio de nota.

Apesar deste difícil gerenciamento dos riscos envolvidos diariamente nas agremiações e levando em conta que cada seguradora tem a sua política de aceitação de risco, as seguradoras estão interessadas em ajudar o segurado a economizar no prêmio do seguro desde que ele assuma uma postura pró-ativa perante a gestão do seu risco. Para Luciano Santos, Gerente de Riscos Patrimoniais da Ace Seguros, enquanto o segurado está olhando só o risco dele, a seguradora traz uma boa bagagem em termos de análise e gerenciamento. "Nós temos a experiência de vários clientes e podemos auxiliar os segurados, orientando-os em coisas simples e contribuindo para que eles economizem na apólice e faça a gestão do seu risco".

E mesmo com algumas seguradoras não tendo apetite pelos variados riscos do mundo do Carnaval, os grandes patrocinadores de uma das maiores festas populares do Brasil comprovam a fortaleza e dimensão do evento. Esse é um dos termômetros em termos de seguro neste segmento. "Foi um susto necessário. Há muito interesse do mercado em segurar os riscos do Carnaval. Mas, para isso, as escolas precisam se organizar mais e conhecer melhor os seus riscos", conclui Dulce, da Marsh.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario