Breaking News

Sem seguro, escolas do Rio têm prejuízo de R$ 20 milhões

Fonte: Valor Econômico / Paola de Moura

Carnaval: Incêndio na Cidade do Samba destrói carros e fantasias

Com prejuízos calculados em mais de R$ 20 milhões, três escolas de samba do Rio, que tiveram quase toda sua produção para o desfile de Carnaval destruída pelo fogo ontem, não têm seguro para cobrir os prejuízos. O incêndio destruiu os galpões da Portela, União da Ilha e Grande Rio na Cidade do Samba, no bairro da Gamboa, região central do Rio. Segundo especialistas, é um setor ainda muito desorganizado e com risco altíssimo para que sejam criados contratos específicos.

O incêndio começou por volta de 7h e só foi controlado no fim da manhã. Seis carros e quatro mil fantasias (90% da produção) da Grande Rio foram destruídos. A escola foi vice-campeã do Carnaval de 2010 e tinha como tema para este ano a cidade de Florianópolis. O prejuízo é calculado em torno de R$ 10 milhões.

Na Portela, que ia apresentar na avenida o porto do Rio, 2.800 fantasias foram perdidas. A União da Ilha, cujo enredo era o mistério da vida, calcula ter perdido 2.300 fantasias, além de um carro alegórico. Em cada uma delas houve prejuízo de cerca de R$ 5 milhões.

A Cidade do Samba foi construída no governo do ex-prefeito Cesar Maia para abrigar as escolas do Grupo Especial do Rio, o grupo que reúne as 12 maiores escolas do Estado. Inaugurada em 2005, sua proposta é de um centro turístico e também de produção das escolas. Situada perto do Sambódromo, a Cidade do Samba resolveu um antigo problema do transporte dos carros alegóricos nos dias de desfile. Além disso, como os galpões ficam um ao lado do outro, uma passarela instalada sobre eles permite ao turista pode acompanhar a produção das escolas.

A ideia também era dar mais segurança às agremiações, que antes utilizavam velhos galpões improvisados na região do porto. Entretanto, especialistas do setor de seguros avaliam que o projeto levou em conta a funcionalidade das escolas e turismo, mas não contemplou o risco. Gustavo Cunha Mello, sócio da Correcta Consultoria e professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), critica a obra e diz que as instalações que abrigam as escolas deveriam ter uma separação de pelo menos 7,5 metros uma da outra. Também seria necessário separar o material inflamável da produção de carros alegóricos, que usam maçarico e gás. É um absurdo, diz.

O ex-prefeito Cesar Maia diz que o projeto é da Liga das Escolas de Samba (Liesa), mas lembra que o Corpo de Bombeiros faz vistorias sistemáticas no local. No entanto, dentro do galpão da Portela, havia uma churrasqueira. Isto aumenta o risco e, se houvesse seguro, já seria um motivo para o sinistro não ser pago, afirma Cunha Mello.

Hoje, nenhuma escola de samba do Rio possui contrato de seguro, apesar de investir cifras que passam de R$ 10 milhões no desfile de Carnaval. Bruno Amorim, diretor de lazer, esporte e entretenimento da Aon Risk Services,, uma das maiores empresas em corretagem de seguros e gerenciamento de riscos do mundo, diz que há vários pontos que impedem a formatação de um contrato de risco. O objetivo do seguro é restabelecer o equilíbrio econômico do negócio. O problema é como mensurar o preço de um alegoria. É um trabalho artesanal, que não tem valor de mercado.

Amorim também critica a estrutura informal e sem segurança com que as escolas produzem. Há muito material inflamável, solvente, tinta, dentro de um ambiente propício a incêndios. Para ele, o acidente de ontem pode fazer com que as escolas olhem melhor para o problema. Se houvesse a contratação de seguro, a seguradora faria inspeções, daria orientações e recomendações. Mas seria um processo demorado, de mudança de cultura.

Na avaliação de Cunha Mello, a formatação de um contrato de seguro para as escolas de samba é quase impossível. Não há como pulverizar o risco, já que são apenas 12 agremiações e estão todas juntas, no mesmo local. Ele afirma que, com mudança de estrutura, é possível fazer uma cobertura para estoques, mesmo assim, com dificuldades.

Para ajudar na reconstrução das três escolas, as agremiações não atingidas decidiram ajudar. Entre outras medidas, haverá alteração na ordem do desfile, porque Portela, União da Ilha e Grande Rio desfilariam todas na segunda-feira de Carnaval. Outra sugestão é não haver rebaixamento da última colocada do Grupo Especial para o Grupo de Acesso O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), prometeu dar dinheiro para ajudar as escolas e disse que a reconstrução da Cidade do Samba começa ainda esta semana.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario