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O mercado de resseguro brasileiro amadurece

Fonte: Sonho Seguro - www.sonhoseguro.com.br

por Denise Bueno

Não pude cobrir pessoalmente a 3 ª Conferência Brasileira de Resseguros no Rio de Janeiro. Infelizmente. Mas em conversas com quem participou e lendo os textos publicados no site da revista inglesa Reactions, que promoveu o evento, trago aqui um resumo do que aconteceu nos dois dias de debates sobre os três anos de abertura do mercado de resseguros brasileiro.

O mercado de resseguros no Brasil deverá triplicar até 2030, segundo especialistas que participaram do evento promovido nos dia 24 e 25 de março. Em volume de faturamento, isso significa passar dos US$ 2,4 bilhões de 2010 para US$ 7,2 bilhões até 2030. Muitos consideram essa expectativa para lá de conservadora diante dos milionários investimentos necessários para sustentar o crescimento econômico do Brasil, sede da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016.

O seminário aconteceu justamente na semana em que governo e iniciativa privada discutiam mudanças significativas nas regras do resseguro. As resoluções 224 e 225 foram editadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) em dezembro. A 224 veta o repasse de contratos de resseguros entre empresas do mesmo grupo e a 225 exige que 40% do contrato sejam obrigatoriamente colocados com resseguradoras locais, ou seja, estabelecidas com companhias aberta no país.

Tais mudanças, que podem para alguns ser banais, tem o poder de mudar o destino de uma indústria caso estejam muito fora do que é praticado mundialmente. Tanto a liberdade total não foi benéfica no caso da Argentina, na década de 90, levando o ressegurador estatal à falência, como também muitas restrições acabam por desproteger o país como avaliou o estado de Nova York. Após os atentados de 11 de setembro, o estado reduziu as restrições para que as resseguradoras estrangeiras pudessem assumir mais riscos demandados pelo novo cenário de globalização e interligação das economias.

As seguradoras estrangeiras, que trouxeram para o Brasil o braço de resseguros do conglomerado, utilizaram todo o peso das entidades internacionais para influenciar o governo brasileiro. Conseguiram o adiamento da validade das regras, passando de janeiro para o final de março. Com dois meses de discussão, conseguiram também flexibilizar um pouco a restrição inicial de repasse dos contratos de resseguros entre empresas do mesmo grupo. A primeira versão da resolução 224 era de que uma seguradora não poderia repassar absolutamente nada para a resseguradora do mesmo grupo contratos de resseguro. Uma proposta de 20% foi colocada na mesa de discussão. Na última versão conhecida, o limite chegava a 40%, excluindo dessa reserva contratos de seguro garantia, de crédito e rural.

As seguradoras estrangeiras agora finalizam a criação de uma associação para defender seus interesses diante de proteções consideras inconstitucionais por advogados renomados no país. Ainda lutam para o adiamento das regras e trabalham em novas propostas, como a tributação, cronograma de novos investimentos, oferta de capacidade para riscos complexos como pré-sal e um roteiro de autoregulamentação do setor.

Segundo vários executivos, a 224 foi feita para beneficiar o IRB Brasil Re, que vinha perdendo mercado diante da competição natural de um mercado recém aberto. Um dos motivos é o custo administrativo. Enquanto o IRB tem 500 funcionários, as resseguradoras estrangeiras operam com um numero infinitamente menor, que sequer chega a 50 no caso daquelas que abriram uma resseguradora local. Já as admitidas, contam com um numero que não chega a 20 funcionários, por usarem a infraestrutura da matriz.

Leonardo Paixão, presidente do IRB-Brasil Re, maior resseguradora local do Brasil, defendeu as mudanças nas regras do resseguro, limitando o repasse de contratos de resseguros entre empresas do mesmo grupo. Segundo divulgou a revista inglesa Reactions, que promoveu a Conferência Brasileira de Resseguros do Brasil, o executivo disse durante palestra que “depois de observar algumas práticas que eram quase clandestine, órgão regulador decidiu agir para conter tais abusos”.

Paixão disse a plateia que as restrições visam proteger os resseguradores locais e não o IRB. “Temos de ter um mercado local de pelo menos 40%. Acreditamos que teremos mais resseguradores locais com as regras e que ninguém deixará o país”, acrescentou Paixão.

Caso as negociações avancem dentro do que os estrangeiros solicitam, é praticamente certo a transformação de seis grandes grupos da categoria ressegurador adminitido para ressegurador local, segundo uma influente fonte do setor. Ou seja, cada uma delas teria de aportar R$ 60 mil como capital mínimo, além do investimento em contratação de pessoas e tecnologia.

Uma das formas de tornar o IRB mais competitivo, segundo o presidente Paixão, é internacionalizar o ressegurador que após quase 70 anos de monopólio vem se adaptando para competir num mercado aberto. “A proteção do IRB está na modernização da empresa e na internacionalização”, disse aos executivos presentes.

Apesar de tudo, otimismo se mantém em alta

Apesar das discussões e demonstrações de descontentamento com a atitude do governo, as empresas se mantêm otimistas e confiantes sobre as oportunidades de longo prazo em uma das economias que mais cresce no planeta.

De acordo com os painelistas do evento, o mercado do Brasil já percorreu um longo caminho desde a abertura, em 2008. E agora luta para corrigir imperfeições e assim ajustar-se para acompanhar o crescimento da economia, que entre os BRICs (Brasil, Rússia, índia e China) é o que mais tem atraído investimentos estrangeiros, perdendo apenas para a China, considerada o motor do mundo com seus mais de 1,6 bilhão de habitantes que começam a ingressar no mundo do consumo.

Segundo avaliação de vários palestrantes durante o disputado evento, as grandes empresas consumidores de seguros, que por quase 70 anos foram obrigadas a comprar resseguro do IRB Brasil Re, beneficiaram-se da concorrência gerada com a entrada de 96 resseguradores internacionais, que trouxeram especialização, técnica e preço diferenciados.

Segundo Luiz Alberto Pestana, vice-presidente da UBF Seguros, em 2007, a grande pergunta era se a abertura seria boa ou ruim para o país. “Costumávamos responder depende. Será boa para os bons riscos e ruim para os rmaus riscos. O que temos hoje é no mínimo um mercado mais justo”, opinou. Pestana.

Jacques Bergman, presidente da Fairfax Brasil, relatou que houve uma completa mudança nos preços porque as resseguradoras internacionais trazem uma abordagem mais técnica para a subscrição. “Hoje os preços são completamente diferentes do que eram quando o mercado era monopolio do IRB, pois estamos em um mercado aberto”, diz Bergman em sua palestra.

Segundo Phillipe Rochaix, presidente da XL Re Latin America, a principal mudança veio com a possibilidade das resseguradoras poderem usar suas técnicas para calcular o preço de acordo com o risco apresentado e ofertar coberturas diferenciadas para atender as necessidades de proteção dos clientes.

Com um cálculo mais apurado de levantamento de probabilidades e histórico de prevenção e de acidentes, as empresas que investem em gerenciamento de risco e um histórico de poucos acidentes têm taxas mais baixas. “Os riscos ruins têm taxas mais altas porque tem um histórico de perdas”, informa Bergman.

“Acreditamos que isso vai contra a prática internacional”, disse Benjamin Gentsch, CEO adjunto da Scor Global P&C, informa a Reactions. “Nós acreditamos que é preciso haver uma discussão entre o governo e a indústria de seguros e resseguros. A tendência de perdas do mercado internacional com as recentes catástrofes podem agravar ainda mais a situação para o Brasil em caso de ser aprovada regras restritivas a atuação dos estrangeiros.

“A indústria de resseguros é caracterizada pela pulverização global do risco”, comenta Gentsch, afirmando não ser contra as regulamentações brasileiras. “Mas é preciso ter coerência, como Austrália, Nova Zelândia e Japão. Países que sofreram com catástrofes recentes e contam com seguro para ajudar na reconstrução”.

Segundo Philippe Rochaix, presidente e CEO da XL Re Latin América, disse em sua palestra que a mudança de regra no Brasil atrapalha a eficiência do setor. “A principal regra do resseguro é a pulverização do risco em todo o mundo”, disse ele. “O Brasil tem a chance de se tornar um centro de resseguros na América Latina, desde que haja coerência na regulamentação”.

Ajustes fazem parte do desenvolvimento do mercado

Nick Metcalf, CEO da Liberty Syndicates, ponderou que mudanças nas regras são típicas de mercados recém abertos. “Eu não acredito que o protecionismo é a palavra correta, mas é importante que as regras não sejam discriminatórias. Tenho certeza que p tema será mais debatido para que se encontre uma solução eficaz para o Brasil”.

Para Metcalf, em um mercado recém aberto é natural que alguns players tenham mais apetite do que outros e atuem com uma estratégia agressiva para obter volume. “Vimos isso em vários países que liberalizarem seus mercados. E como resultado, temos um mercado maduro, onde se destacam as empresas que apostaram nas relações de longo prazo e a saída daquelas que optaram por um estratégia de curto prazo”.

Para o CEO da Liberty Syndicates, o mercado de resseguros no Brasil, com prêmios de US$ 2,6 bilhões, é pequeno para as 96 resseguradoras autorizadas a operar localmente. “Mas isso é uma das características de uma pós-mercado liberalizado”, disse ele, segundo informa a reportagem da Reations.

“Como as coisas se acalmam, vamos encontrar os números diminuem. É um mercado gato não para que haja um pouco mais de transparência nos resultados, e como as empresas vêem os problemas de rentabilidade que vem através de pessoas vão sair. ”

Gentsch, da Scor, comentou que em outros mercado dos mundo há mais de 100 resseguradoras competindo por uma fatia do bolo e que cerca de 30, no máximo, são mais ativos nas negociações.

Demanda crescente por proteção para riscos globais

O crescimento econômico no Brasil traz um novo cenário de riscos para as empresas brasileiras, onde as apólices de interrupção de negócios e responsabilidade civil tem um grande potencial para se desenvolverem, acredita Florian Kummer, executivo da Liberty Syndicates, braço de resseguros do grupo Liberty Mutual e um dos principais sindicatos do Lloyd’s of London, segundo reportagem publicada pela Reactions.

O seguro de lucro cessante tem sido mais demandado por empresas que tem cadeias complexas de suprimentos, como as indústrias químicas e automotiva. Já o seguro de responsabilidade civil vem de encontro as necessidades da indústria de construção civil, onde o seguro de produtos e de danos ambientais são essenciais para garantir a sustentabildiade dos negócios.

Para Florian, a grande vantagem da Liberty está na técnica de subscrição. Por serem produtos inovadores para o país, quem tiver mais capacidade de fazer uma boa subscrição conseguirá se destacar com produção e com rentabilidade.

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