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Novo desenho do setor de seguros pode ser ruim para todos .

Com base no presente, Antonio Penteado Mendonça aponta ameaças reais que podem desenhar um futuro sombrio para o setor, com o domínio de grandes grupos, a extinção da corretagem de seguros e a criação da seguradora estatal. Mas este não é apocalipse, ele garante.

por Márcia Alves

Neste ano, a melhoria de renda da população deverá incrementar ainda mais o crescimento do mercado de seguros. Portanto, o cenário atual é positivo. Mas, e quanto ao futuro, qual será o desenho do setor de seguros? Para responder esta questão, o advogado e presidente do Conselho Consultivo da APTS, Antonio Penteado Mendonça, participou de Palestra do Meio-Dia, em 13 de abril, quando apresentou o tema “O seguro em 2011 – Ameaças e oportunidades”.

Uma de suas certezas em relação ao futuro é que o mercado segurador continuará concentrado. No desenho atual, três grandes conglomerados financeiros – Bradesco, Itaú e Banco do Brasil – dominam perto de 70% do mercado segurador e respondem por 97% da lucratividade.

Essa configuração poderá ser alterada, ainda com a entrada de dois novos players do setor financeiro. Um deles é a Caixa, e o outro é o Santander. Além de redução das margens de venda do seguro, essas mudanças exigirão a readequação das seguradoras independentes e de menor capacidade de investimento.

Resseguro

No resseguro, o advogado aponta uma ameaça que tem tudo para se tornar um risco. Trata-se da mudança de regras, com a edição das novas resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). O repasse de prêmios em operações intragrupos, antes proibido pela Resolução 224, acabou flexibilizado pela nova Resolução 232, que permitiu o repasse de até 20% dos prêmios.

A principal conseqüência dessa dificuldade imposta ao resseguro será a perda de competitividade do produto brasileiro. “O empresário brasileiro que tiver representação em outros países, passará a contratar resseguro fora do Brasil, sem infringir a lei”, prevê. “Perde, com isso, a atividade seguradora brasileira”, acrescenta.

Mudanças climáticas

Para agravar a situação, as catástrofes naturais que abalaram o Japão deverão gerar grandes perdas ao mercado de resseguros mundial. Segundo o palestrante, as estimativas apontam que os prejuízos, calculados em torno de US$ 300 bilhões, deverão representar um aumento nos preços dos seguros entre 20% e 30%. “O mercado de seguros e resseguros diminuirá, porque haverá um monte de gente tirando dinheiro dele”, diz.

Considerando apenas esse aspecto, ele já supõe que o cenário no próximo ano não será tão positivo quanto este. “Seguro é um negócio em que se pensa lá na frente. O Brasil, mesmo sem a ocorrência de terremotos e outras catástrofes naturais, também tem sofrido os impactos de eventos climáticos, como os deslizamentos de terra na região Serrana do Rio de Janeiro e as enchentes em Santa Catarina. Mas, a participação do seguro no ressarcimento dos prejuízos desses eventos ainda é pequena. “Quantas seguradoras pagaram seguro por enchente?”, questiona.

Baixo lucro

Na economia interna, preocupa o advogado o aumento da inflação e da taxa de juros. “Não existe nada mais perverso para uma seguradora do que a inflação”, diz. Essa situação, segundo ele, já começa a apresentar reflexos no desempenho do seguro de automóvel. “Está no zero a zero, nenhuma companhia está ganhando dinheiro com esse seguro”, afirma.

O microsseguro também foi alvo de suas observações. Segundo ele, muitos produtos de microsseguros comercializados atualmente não passam de seguros de pequeno valor. O desvirtuamento do conceito de seguro social pode estar abrindo espaço, na sua visão, para atuação do governo.

Penteado Mendonça acredita que o microsseguro somente será viável se for acoplado ao Bolsa Família. “Pelo custo de R$ 1 bilhão, o governo poderia oferecer esse seguro com cobertura de R$ 15 mil para vida e mais R$ 15 mil para imóvel”, informa. A participação do governo, entretanto, não eliminaria a atuação de seguradoras privadas. “Por meio de um convênio, o premio seria repassado às seguradoras”, diz.

Corretagem

O novo desenho do mercado de seguros no futuro apresentará mudanças na atividade de corretagem de seguros. Esse processo de transformação já está em curso, segundo Penteado Mendonça, com o crescimento de novos canais de venda de seguros massificados. “Por enquanto, esses canais ainda atuam de forma moderada. Mas, quando aprenderem como se faz, entrarão de forma violentíssima na intermediação de seguros”, prevê.

Segurobras vem aí

Entre todas as ameaças contra o setor de seguros, uma parece ser, para ele, a mais iminente. A temida seguradora estatal, chamada por ele de Segurobras, está mais próxima de se tornar realidade do que muitos acreditam. A mudança de regras no resseguro seria uma porta de entrada para essa empresa governo, assim como a falta de coberturas adequadas para necessidades da população, como os seguros para cobrir enchentes e o microsseguro. Este último, segundo o advogado, tem despertado o interesse do governo.

E caso a Segurobras passe a existir e encampe o microsseguro, não demora muito para, nas previsões de Penteado Mendonça, assumir também o DPVAT, cujo conceito é de seguro social. Os riscos declinados são outra porta aberta à entrada do governo no seguro. Mas, pior do que a perda de mercado das seguradoras privadas seria o fim da atividade de corretagem.

Aliás, ele enxerga essa ameaça também no crescimento e concentração dos grandes conglomerados financeiros no seguro. “Se os grandões disserem que não precisam mais de corretores, é possível que a sociedade aceite, porque poderá haver um ganho de eficiência e de escala, além da descomplicação do negócio”, analisa.

Ele teme que a inércia de seguradoras e corretores alimente essas ameaças. Entretanto, o advogado faz questão de ressaltar que “não está mostrando o cenário do apocalipse”, mas apenas “evidenciando as falhas do dia a dia do setor”.

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