Breaking News

Capitalização ganha nova roupagem

Fonte: Valor Econômico

De jantar com galã a título sustentável, vale tudo para impulsionar produto rentável

Alfredoooooo!, gritava, na antiga propaganda do papel higiênico Neve, quem se encontrava no banheiro sem tão essencial item. E lá vinha o mordomo. Passou o tempo e a Neve repaginou o serviçal. Agora, quem traz a bandeja com rolos do papel branquíssimo é Reynaldo Gianecchini, que carrega também a chance de ganhar prêmios e um jantar com o ator.

As felizardas que venceram a promoção não estavam interessadas em títulos de capitalização, que estão mais associados à Tele Sena do que a galãs globais vestidos de mordomo. Mas foi isso que levaram sem saber.

Cada número do sorteio tinha por trás um título de capitalização, de valor ínfimo. Os títulos foram vendidos à Kimberly -Clark, fabricante do produto, pela SulAmérica Capitalização (SulaCap).

A promoção Mordomo dos Sonhos é apenas um exemplo das maneiras inventivas que as empresas têm encontrado para ampliar a venda de capitalizações, um dos produtos mais rentáveis para a indústria financeira e que se equilibra na fronteira entre aplicação e jogo de azar. No ano passado, o setor de capitalização faturou R$ 11,8 bilhões, com crescimento de 16,5% sobre 2009. A taxa de crescimento anual recente tem oscilado entre 10% e 15%.

Maurício Maciel da Rocha, vice-presidente da FenaCap (federação que reúne as empresas de capitalização), diz que muitas das novas embalagens da capitalização têm origem em regras para o setor emitidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) na segunda metade de 2008.

No caso da promoção do jantar com Gianecchini, trata-se de uma modalidade chamada capitalização de incentivo e muitas outras campanhas que envolvem sorteios, de variadas empresas, se valem dela.

Mas não é só. As empresas criaram a capitalização com apelo sustentável e outra para fazer as vezes do fiador do aluguel de imóveis. O avanço da oferta de seguros às classes de menor renda também vem impulsionando a capitalização. Os pacotes de seguros de baixo valor (microsseguros) ofertados a esse público quase sempre incluem um título de capitalização.

Hugo Assis, superintendente de seguros e capitalização do Santander, diz que as empresas combinam capitalização com microsseguros por causa da popularidade do sorteio. O apelo do prêmio nas classes C e D é mais importante. O valor do prêmio muda a vida dessa pessoa. Para ele, a capitalização deve continuar crescendo. O cliente gosta do jogo, diz.

Com o sugestivo nome de Amparo, a Caixa Econômica Federal vende em lotéricas um seguro de assistência funerária por 12 meses, mediante pagamento único de R$ 40,00. Além da certeza que seu ente querido descansará em paz, o Amparo também proporciona sorteios mensais de R$ 40 mil, para alegria dos vivos sorteados, graças a um título da Caixa Capitalização que vem acoplado.

Junto com os seguros premiados, outros produtos financeiros também são vendidos com capitalizações acopladas. A Icatu Capitalização já vendeu títulos que permitiram que a Credicard e o Banco BMG fizessem sorteios. Na Credicard, quem gastasse R$ 250, R$ 400 ou R$ 500 passava a concorrer a duas vezes o valor da fatura do cartão. No caso do BMG, quem adquirisse empréstimo pessoal em determinado período concorria a sorteios de R$ 10 mil.

Para Gustavo Rosa, gerente de produtos de capitalização da Icatu Seguros, a demanda pelos chamados títulos de incentivo tem aumentado bastante. As instituições financeiras estão aprendendo a lidar com essa capitalização, diz. Mas a capitalização tradicional sempre será a principal.

De fato, a capitalização mais clássica, em que o cliente recebe de volta o valor nominal investido, às vezes com pequena correção, ainda detém a principal fatia do mercado, embora a de incentivo venha ganhando fatia. Dados da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), mostram que, até março deste ano, a modalidade tradicional de capitalização representou cerca de 80% do faturamento total do setor, frente a 13% dos títulos de incentivo. Em 2009, a capitalização tradicional representou 84% do mercado e a de incentivo, 9%.

Até mesmo os produtos mais simples têm ganho novos atributos. A Bradesco Capitalização criou, há cerca de cinco anos, a capitalização socioambiental. O produto não mexe muito na fórmula da capitalização, mas permite que uma parte do valor aplicado seja destinado a uma ONG como a SOS Mata Atlântica ou o Instituto Ayrton Senna. O valor sai da taxa de administração da empresa. O produto corresponde a um terço do faturamento da Bradesco Capitalização, que no ano passado teve receita líquida de R$ 2,4 bilhões.

Norton Labes, presidente da Bradesco, conta que esse produto tem se popularizado até entre clientes corporativos, que normalmente não compram capitalizações. Percebemos um aumento de 40% na nossa receita com títulos corporativos entre 2008 e 2010.

Outra capitalização que ganhou espaço no mercado foi a garantia de aluguel. O produto foi inicialmente oferecido pela SulAmérica, mas agora o Banco do Brasil e a Caixa já oferecem título semelhante. A capitalização substitui o fiador num contrato de locação. Seu valor varia conforme o valor do aluguel mensal. A vantagem é que até mesmo quem tem nome sujo na praça pode fazer a capitalização, o que nem sempre é verdade no caso do seguro-fiança. No final do contrato, o cliente recebe o valor nominal depositado. De acordo com César Dominguez, diretor comercial e de marketing da SulAmérica, o produto é responsável por cerca de 40% do faturamento com capitalização da empresa. O restante vem da venda de produtos de incentivo.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario