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Resseguradora estrangeira investe no país

Fonte: Valor Econômico

Estratégia: Em resposta às limitações de repasse de risco para fora, a suíça Zurich abre empresa local no Brasil

Aline Lima e Thais Folego

Grupos seguradores internacionais começam a se mexer para trazer mais capital para o Brasil. A suíça Zurich anunciou ontem que vai abrir uma empresa de resseguros no Brasil. A matriz fará um aporte de R$ 100 milhões assim que a autorização for concedida pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). A Swiss Re também apresentou ontem um projeto ao conselho de administração da matriz para criar uma resseguradora local.

O movimento é uma reação a duas recentes resoluções tomadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), que visam estimular justamente a retenção de riscos de resseguros no país. Desde o início deste ano, as operações de resseguro não podem mais ser repassadas para empresas do mesmo grupo com sede no exterior. Além disso, pelo menos 40% do risco de cada operação tem de ser direcionado a resseguradoras locais.

Não quero que a capacidade se torne um limitador, diz Marcos Vinicius Martins, presidente de auto e seguros gerais da Zurich Brasil. A companhia atuava no mercado local desde março de 2009 com a licença de resseguradora admitida, que exige apenas um depósito de US$ 5 milhões como garantia de suas operações e um escritório de representação.

Assim como a Zurich, operam hoje no mercado brasileiro mais 26 resseguradoras admitidas, de acordo com dados da Susep. Outras 66 estrangeiras atuam como resseguradora eventual (sem escritório de representação no país) e apenas 8 são locais - Ace RE, Austral Re, Chartis Re, Mapfre Re, Munich Re, XL Re e as brasileiras J. Malucelli Re e IRB Brasil Re. É para essas resseguradoras locais que devem ser cedidos no mínimo 40% do risco das operações. O mercado brasileiro de resseguros movimentou no ano passado R$ 4,3 bilhões.

A Zurich tem grande apetite por grandes riscos e não pode depender da disposição de outras companhias, explica Martins. Segundo ele, a Zurich já planejava abrir uma resseguradora no Brasil, mas as medidas de governo anunciadas em dezembro do ano passado aceleraram o projeto. O objetivo, num primeiro momento, é que a resseguradora da Zurich ofereça suporte apenas às operações de seguros de grandes riscos da própria companhia suíça no mercado local.

Não é nosso interesse trabalhar para terceiros nesta fase inicial nem competir em resseguros, diz Martins. A Zurich encerrou 2010 com R$ 843,9 milhões em prêmios emitidos, sendo US$ 200 milhões referentes a grandes riscos (seguros de engenharia, patrimonial de responsabilidade civil, entre outros).

Já a Swiss Re pretende, sim, competir de forma mais agressiva no mercado local de resseguros nas linhas que atua hoje como admitida (engenharia, garantia, transporte, aviação, entre outros). Para Rolf Steiner, vice-presidente do escritório de representação da Swiss Re no Brasil, o principal ponto a ser analisado no caso de uma eventual abertura de companhia local é a eficiência de capital.

A Swiss Re opera hoje com duas empresas admitidas, cada uma com US$ 5 milhões de capital. A dúvida é se vale a pena trazer R$ 60 milhões [capital mínimo exigido para abrir resseguradora local] para acessar 40% do mercado que hoje, como admitida, não consigo atuar, diz Steiner. Além da maior capacidade de absorção de risco, pesa a favor da abertura de uma empresa local a menor concorrência pelos 40% de prêmios de risco que precisam ser retidos no país - apenas oito companhias estão habilitadas, até agora. A pouca competição ajuda, consequentemente, a render comissões melhores para as resseguradoras locais.

A Swiss Re vai continuar operando por meio das licenças como admitida, ainda que opte por abrir uma resseguradora no Brasil. Em 2010, as duas companhias admitidas apresentaram receita de prêmios de US$ 75 milhões. A expectativa é fechar 2011 com US$ 100 milhões.

A alemã Allianz vai esperar 12 meses para avaliar se abre ou não uma resseguradora local. Abrir uma resseguradora local não resolve todos os problemas, diz Angelo Colombo, diretor de grandes riscos da Allianz Seguros. Se por um lado a local tem acesso a uma fatia maior do mercado, por outro, continua existindo a restrição de cessão de prêmio para a matriz.

Colombo explica que, pela atual regra brasileira de solvência, uma resseguradora local pode reter o risco de uma operação em volume equivalente a 10% de seu capital. Ou seja, se uma companhia tem R$ 200 milhões de capital local, ela pode reter no máximo R$ 20 milhões do risco de uma siderúrgica, exemplifica Colombo. O problema é que uma siderúrgica tem bilhões de reais em ativos. Para poder absorver um risco como este, uma resseguradora tem que trazer um capital similar ao do IRB, de R$ 1 bilhão, ressalta. Do faturamento de R$ 2,1 bilhões da Allianz no Brasil no ano passado, 8% ficou com a resseguradora admitida.

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