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Mudança de hábito

Fonte: Valor Econômico

Depois de criar produtos para estimular o crédito, bancos investem em programas que ensinam os jovens a gastar melhor.

Denise Bueno
para o Valor , de São Paulo

A educação financeira deixa de ser um discurso ou um programa cheio de boas intenções para se tornar uma estratégia das instituições financeiras.

Bancos, administradoras de cartões de crédito e seguradoras estão atentas às mudanças trazidas pela mobilidade social.

Para evitar um atraso no crescimento do país com o mal uso do crédito farto, elas decidiram apostar de forma mais eficaz na educação financeira, principalmente nas classes de menor poder aquisitivo.

Mais de 32 milhões de pessoas ingressaram na classe C na última década e outras 30 milhões deverão seguir o mesmo caminho nos próximos anos. "É um desafio imenso num país carente de educação de boa qualidade e com uma população tendo acesso ao consumo e ao crédito de forma inédita em nossa história", diz Fábio Moraes, diretor de educação financeira da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

Depois de criar uma infinidade de produtos para atender a demanda de consumo da população nos últimos dois anos, a bola da vez passou a ser ensinar as pessoas a usar esses produtos de forma consciente. "A educação financeira é um dos pilares da sustentabilidade das instituições e por isso apostamos nossas fichas nesse tema, que é uma responsabilidade permanente de todos e requer um diálogo com os mais diferentes públicos", diz Fernando Martins, vicepresidente do S a n t a n d e r.

Pensando nas crianças, o banco criou o "Quanto Vale?", canal direcionado a ensinar os pequenos a lidar com dinheiro. Luísa Lara, de 11 anos, mandou a sua dúvida para o site: "Minha mãe não quer comprar um fichário e me deu cadernos. Tenho um pouco de dinheiro que dá para comprar um fichário simples. Compro o fichário ou fico com os cadernos?" Para o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, o consumidor do futuro tem um grande poder nas mãos: garantir que o Brasil seja uma grande nação. Ele é quem determinará mudanças no pacto social com o governo e no comportamento das empresas com a sociedade. Para que ele exerça esse poder com sucesso é preciso mudar o hábito arraigado, e muito estimulado pelo período inflacionário, de desfrutar hoje sem pensar no amanhã.

De olho no futuro, os programas de educação financeira vem ganhando espaço no orçamento das instituições financeiras desde 2006. A maior parte deles é voltada para o equilíbrio da gestão do orçamento doméstico, com dicas de como sair do vermelho, como calcular os juros de um financiamento e como funcionam produtos financeiros como cartões e financiamentos.

Os projetos abordam desde a criança até o idoso e vão de simples cartilhas até cursos de MBA para qualificar executivos de bancos na oferta dos produtos financeiros.

Os cartões de crédito, basicamente o primeiro acesso da população ao mercado financeiro, tem sido o vilão quando o assunto é inadimplência. Enquanto o índice médio de atrasos no pagamento de dívidas é de 7%, nos cartões esse indicador chega a 24%. Por isso, boa parte dos programas tem foco no uso consciente do crédito, seja uma operação concedida pelos bancos como pelo comércio.

A Visa partiu para passar conceitos financeiros de forma lúdica.

O "Teatro Finanças Práticas" será apresentado em 43 Centros Educacionais Unificados (CEU) de São Paulo, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Segundo a Visa, o projeto quer levar a mais de 14,5 mil crianças e jovens informações relevantes sobre finanças pessoais.

Já para o público jovem, o grande apelo tem sido o despertar para o futuro. "É um investimento com resultados no longo prazo, pois envolve mudança de hábitos", diz Marcos Daré, diretor do departamento de investimentos do Bra d e s c o. Haja mudança. "Criamos o site clickconta.com.br para contribuir com essa mudança, dis-ponibilizando ferramentas para ajudar nas escolhas certas." "Boa parte das pessoas que chega aqui já está endividada, seja pelo cartão de crédito, seja pelo crediário do varejo", conta Fernanda Aidar, do Projeto Arrastão, que conta com recursos do Citibank e da Credicard. Um dos projetos é o Família do Azul, desenvolvido pela ONG Arrastão em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, para treinar universitários. "O projeto beneficiou 6 mil pessoas. Antes dos cursos, 35% das famílias faziam orçamento com frequência e 21% poupavam. Depois, 70% passaram a controlar despesas e receitas e o índice de poupança subiu para 71%", conta Priscilla Cortezze, superintendente de sustentabilidade do Citi.

Os universitários merecem boa parte da atenção das instituições.

"É grande fonte de aprendizado e disseminação para as famílias e um formador de nova mental i d a d e", diz Denise Hills, superintendente do centro de sustentabilidade do Itaú Unibanco.

O Itaú tem um programa de "Uso consciente do dinheiro", com ações que vão desde a sair do vermelho até o beabá de investir recursos de forma mais requintada.

O portal www.itau.com.br\/invista visa ajudar os jovens a se organizar e a decidir onde investir.

Cássia D\\'Aquino, especialista em educação financeira, destaca o programa Desafio, da BM&F Bovespa. "Acho essa iniciativa muito válida, pois dá aos jovens a possibilidade de pensar sobre o futuro." O Desafio já atraiu mais de 9,9 mil participantes interessados em conhecimentos sobre educação financeira e o mercado de ações. Para que decidam em quais ações irão investir, a bolsa fornece cotações, informações macroeconômicas e outros dados sobre empresas de diferentes setores, com o objetivo de auxiliar as equipes a planejar a aplicação dos recursos.

Até junho, mais de 3,1 milhões de pessoas foram atingidas por algum tipo de ação educativa oferecida pela Bolsa.

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