Breaking News

Educação no trânsito

Fonte: O Estado de Minas

Sem mudanças no quadro atual, a previsão é de que, até 2015, os acidentes serão a principal causa de morte nos países em desenvolvimento

Cleyton Pinteiro
Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo

A Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), instituiu o período de 2011 a 2020 como a Década de Ações para a Segurança no Trânsito. A ação envolve 150 países num esforço conjunto para a redução dos acidentes de trânsito, um problema que afeta todas as nações e que cresce vertiginosamente. As estatísticas mundiais indicam o tamanho dos desafios que governos e sociedades têm pela frente. Caso não haja mudanças no quadro atual, a previsão é de que, até 2015, os acidentes de trânsito sejam a principal causa de morte nos países em desenvolvimento.

Segundo estudos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a média brasileira de óbitos causados por esses acidentes proporcionalmente à população é muito superior à dos países mais desenvolvidos (2,5 maior que a dos EUA e 3,7 maior do que na União Europeia). Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que houve aumento de 30% nas mortes em acidentes de trânsito entre 2000 e 2007 no Brasil. Só em 2007 foram 66,8 mil óbitos, fato que colocou o país no triste ranking dos países com mais mortes no trânsito no mundo.

Nós, gestores do automobilismo nacional, habituados a conviver com os riscos inerentes à alta velocidade, nos surpreendemos com o recrudescimento do número de acidentes fatais provocados por imprudência e irresponsabilidade dos motoristas nas vias urbanas e nas estradas brasileiras. O que choca ainda mais é a comprovação de que as maiores vítimas de acidentes fatais são jovens, na faixa de 20 a 39 anos. Estima-se que 20% das vítimas carreguem sequelas para o resto da vida e 4% não sobrevivam. Acidente de trânsito é o procedimento mais custoso ao SUS - ultrapassam R$ 113 milhões anuais. O prejuízo não para aí: milhares são aposentados por invalidez, há os custos de conservação das vias e os altos investimentos para atender aos que foram atingidos pela tragédia e sobreviveram.

Ocorrências de trânsito refletem um conjunto de fatores estruturais da realidade social, que incluem a prioridade concedida aos automóveis nas vias públicas; a total ausência de investimentos, nos últimos 10 anos, por parte do governo federal em manutenção e segurança nas estradas; a falta de um banco de dados relativo aos acidentes de trânsito - principal entrave ao desenvolvimento de estratégias adequadas para combater o problema; entre outros.

A região do país que apresenta o maior crescimento no número de óbitos causados por violência no trânsito - 56,1% entre 1998 e 2008 - é o Nordeste. Esse quadro de maior prevalência de acidentes com mortes nas regiões menos favorecidas demonstra a urgência na implantação de políticas públicas eficazes para combater as causas principais do problema: falta de conscientização dos jovens sobre os graves riscos de usar drogas e outras substâncias psicoativas e dirigir e a falta de educação no trânsito.

Há uma luz no fim do túnel quando constatamos que, a partir de 2008, com os efeitos positivos da Lei 11.705/08 - que ampliou as penas para condutores alcoolizados ou que fizeram uso de outras substâncias psicoativas e instituiu a Operação Lei Seca (sob gestão dos governos estaduais) -, houve queda nos índices de acidentes fatais. Os efeitos dessas operações se refletem, por exemplo, na redução do número de atendimentos a vítimas do trânsito no Rio de Janeiro, nos hospitais Lourenço Jorge (Barra da Tijuca) e Miguel Couto (Gávea), áreas onde historicamente ocorrem mais acidentes envolvendo jovens alcoolizados na cidade.

A Confederação Brasileira de Automobilismo, entidade máxima do esporte no Brasil - influenciada pelo forte engajamento do presidente da FIA, Jean Todt, na campanha mundial capitaneada pela ONU -, ciente de sua responsabilidade social, fará a sua parte, criando uma campanha nacional de educação no trânsito, que será veiculada ainda em 2011, estrelada por alguns dos pilotos mais respeitados do Brasil e focada na conscientização dos jovens sobre os riscos da velocidade quando não associada a procedimentos de segurança mínimos.

Esperamos que o nosso exemplo seja seguido por outras federações desportivas, entidades governamentais e não governamentais e pela sociedade brasileira de maneira geral. As dezenas de manchetes de jornais que estampam anualmente imagens de carros destruídos, jovens mortos e pais desesperados nos chamam não só à reflexão, mas também à ação.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario