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Fundo europeu pode contar com seguro

Fonte: Valor Econômico

Proposta da Allianz reforçaria plano de EUR 726 bi em até 4 vezes para ajudar países como a Grécia

Richard Milne

"Todas as coisas para todas as pessoas." A reação inicial de um investidor em bônus ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira - o fundo de resgate da zona do euro - é verdadeira na medida em que se multiplica o número de funções propostas para ele.

Destinado a ser um veículo de socorro para países da zona do euro com problemas, em breve terá poderes adicionais para comprar títulos de dívidas soberanas e recapitalizar bancos. E, se os líderes da União Europeia apoiarem novas reformas, poderá garantir o endividamento dos países da periferia da zona do euro, atuando como segurador de última instância.

Este plano mais recente vem sendo defendido pela seguradora alemã Allianz. Ela aventou a possibilidade de reforçar os EUR 726 bilhões em garantias que o EFSF em até quatro vezes. A proposta da Allianz chamou a atenção do Deutsche Bank, que uniu forças à seguradora para promover uma solução para a crise da dívida da zona do euro - que esperam ver os líderes da União Europeia discutindo na reunião do fim de semana.

A proposta do Deutsche Bank é mais modesta que a da seguradora, mas parece estar ganhando força entre os planejadores econômicos. O plano do banco alemão se concentra na Itália e na Espanha, e não na Grécia, Irlanda e Portugal, como propõe a Allianz. Ao garantir cerca de 25% das perdas sobre novos bônus soberanos desses dois países - a terceira e a quarta maiores economias da zona do euro -, o Deutsche Bank acredita que poderá ampliar os cerca de EUR 250 bilhões em recursos ativos que o EFSF tem à disposição, para segurar EUR 1 trilhão em bônus. Isso representa os financiamentos brutos que a Itália e a Espanha necessitam para os próximos três anos.

O plano provocou um debate acirrado entre os investidores sobre como poderá afetar os mercados de bônus, supondo-se que uma versão sua seja adotada pelos planejadores econômicos. "É melhor ter um plano do que nenhum. A ideia do seguro está ajudando os mercados", afirma Ken Wattret, principal economista do BNP Paribas para a zona do euro.

Os defensores do plano de securitização admitem que um mercado de bônus de dois níveis provavelmente será uma das consequências, com rendimentos menores sobre os títulos de dívida garantidos do que sobre os da dívida em aberto. Mas eles acreditam que a diferença entre os dois tipos de dívida vai diminuir e afirmam que algo parecido aconteceu com as dívidas bancárias garantidas pelos governos após a crise financeira de 2008.

A movimentação dos rendimentos dos bônus italianos e espanhóis desde que os detalhes do plano de alavancagem do EFSF começaram a surgir este mês tem sido impressionante. Ambos viram seus custos de empréstimo referenciais subir, com os rendimentos dos títulos de 10 anos da Itália avançando de 5,5% duas semanas atrás, para 5,8% ontem.

Mas, na maior parte, a reação dos mercados de ações tem sido positiva. O índice Dax-30 da Bolsa de Frankfurt acumula valorização de 12% desde os níveis de baixa verificados no começo do mês. Wattret sugere que os investidores em bônus podem estar se concentrando nos problemas da ideia do seguro: como, por exemplo, ele poderá fazer o EFSF pagar mais para tomar emprestado nos mercados.

"Há uma preocupação de que a iniciativa da securitização não consiga firmar os mercados soberanos, mas uma preocupação possivelmente ainda maior é se ela afetará capacidade do fundo de levantar dinheiro nos mercados, elevando os custos de seus empréstimos", diz ele.

Outra preocupação envolve as classificações "AAA" dos países da zona do euro, que são cruciais para a avaliação "triple A" do próprio EFSF. O maior risco vem recaindo sobre a França, já que as agências de avaliação de crédito vêm alertando que qualquer aumento em suas obrigações contingenciais seria um problema para sua classificação. Defensores do plano de seguro respondem que a França está mais ameaçada por uma intensificação dos problemas da Itália.

Uma pessoa a par do plano diz: "Ele será útil para a França e seus bancos reduzirem o estresse da Itália. Não deverá ameaçar suas classificações de crédito. O que faria isso seria uma intensificação dos problemas periféricos".

Os defensores afirmam que o plano de securitização seria apenas uma ferramenta entre uma série, que os planejadores econômicos poderão adotar na reunião de 23 de outubro.

Enquanto um segundo socorro à Grécia teria como objetivo resolver os problemas de solvência do país, a ampliação do EFSF seria concentrada no alívio dos problemas de liquidez da Itália e da Espanha. "O mais importante é eles poderem se refinanciar", diz um banqueiro europeu.

Mas outros banqueiros experientes estão céticos. Um dos problemas é como o resgate da Grécia, que vai impor perdas aos detentores de bônus, vai se encaixar ao plano para o EFSF. Impor uma maior perda de, digamos, 50% aos credores da Grécia estabeleceria uma norma para reestruturações na zona do euro, afirmam alguns banqueiros, fazendo uma garantia de 25% não valer tanto.

As pessoas envolvidas nas negociações do EFSF afirmam que ainda se negocia se o fundo assumiria a primeira perda ou se os investidores teriam de arcar com, digamos, os primeiros 10% antes que a garantia de 25% entre em vigor.

Um banqueiro europeu experiente envolvido nos resgates na zona do euro - mas não com o plano do EFSF - acha a ideia do seguro "muito complicada". Ele acredita que poderá aumentar os custos dos empréstimos para os países securitizados. "Você introduz parâmetros de crédito reais nesses títulos. Isso vai aumentar o rendimento exigido por esses títulos. Será que esta é a maneira de fazer as pessoas se sentirem confortáveis comprando bônus europeus?"

Até mesmo defensores do plano admitem que será insuficiente para resolver a crise. Uma pessoa familiarizada com o plano diz: "Não se trata de uma bala de prata. Ele terá defeitos? Sim. Mas quais são as alternativas? Se o BCE não quer assumir um papel único, então ele parece muito bom. Seria mais uma arma para o arsenal."

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