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As tragédias e o seguro

Fonte: Funenseg - Seguro Em Pauta

 Artigo de João Elisio Ferraz de Campos

Embora o mercado segurador esteja inserido no sistema financeiro que vive momentos de apreensão, nem em 2008 nem agora pairou qualquer dúvida sobre a sua capacidade de honrar compromissos

Tempos atrás escrevi um artigo intitulado “Um dia sem seguro” para mostrar a sua importância em todos os campos da atividade humana e os transtornos que ocorreriam se – no curto espaço de um dia – o mundo se visse privado desse instrumento de proteção de pessoas e patrimônios. Em linhas gerais, o texto afirmava que nada funcionaria porque nem pessoas, nem empresas ou entidades, em sã consciência, estão dispostas a viver, trabalhar e produzir expostas a riscos que, individualmente, não conseguem suportar.
O assunto me veio mais uma vez à reflexão, agora sob um outro enfoque. A sua solidez mesmo diante das crises da economia mundial e a sua importância no caso das grandes tragédias provocadas por fenômenos naturais, como os furacões, terremotos e tempestades (essas aqui no Brasil), ou pela insanidade humana, como o atentado às torres gêmeas nos Estados Unidos, que completou dez anos em setembro passado e foi lembrado com tanta repercussão.

Embora o mercado segurador esteja inserido no sistema financeiro que, em consequência da crise econômica internacional vive momentos de apreensão, nem em 2008 nem agora pairou qualquer dúvida sobre a sua capacidade de honrar compromissos, mesmo quando o crescimento dos pagamentos de indenizações coincide com as dificuldades financeiras internacionais, como foi o caso do terremoto do Japão seguido de tsunami. Isso porque, graças a sua grande capilaridade na diluição dos riscos, o sistema se comporta como uma espécie de corrente de solidariedade formada com as reservas de todos os segurados, de tal forma que, de qualquer lugar do mundo, podem estar vindo os recursos para pagar determinada indenização. Não vou me ater aos detalhes técnicos da operação nem como os seguradores e resseguradores conduzem o processo. O certo e importante é que, na prática, funciona assim e é por este ângulo que deve ser visto e entendido por toda a sociedade.

O seguro nasceu quando alguns comerciantes na Antiguidade se reuniram e resolveram constituir um fundo para cobrir, com uma parcela de todos, eventuais prejuízos de algum. Na verdade deram a cada um a tranquilidade de trabalhar com a certeza de que, no caso de um infortúnio, todos, solidariamente, cobririam os prejuízos. E até hoje é esse o seu princípio.

Os seguradores não podem, é certo, mitigar a dor dos que perdem familiares ou bens numa tragédia, mas o recomeço de suas vidas fica muito mais fácil quando há a cobertura de uma apólice de seguro. No Japão, por exemplo, um país que tem um dos maiores consumos de seguro per capita do mundo, com toda a certeza, boa parte da reconstrução está sendo feita com os recursos oriundos das indenizações. O mesmo aconteceu quando o furacão Katrina atingiu os Estados Unidos ou os terroristas derrubaram as torres gêmeas. Só nesses três eventos, o mercado segurador desembolsou mais de US$ 100 bilhões para minimizar os prejuízos de seus segurados – um valor, é claro, que não daria para resolver a crise financeira internacional, mas certamente seria uma ajuda considerável aos países em dificuldades na zona do euro sem exigir sacrifícios de suas populações. Já no terremoto do Haiti e também nos prejuízos causados pelas tempestades aqui no Brasil, a proporção é bem menor porque é menor a parcela da população que está coberta por uma apólice de seguros.

Tudo isso reforça de maneira incontestável o papel do seguro como instrumento de proteção das pessoas contra riscos extraordinários e a sua força indutora do processo de desenvolvimento do país através da aplicação de suas reservas em investimentos econômicos. Há que se destacar, ainda, o dinamismo que imprime às atividades produtivas na reconstrução de bens avariados – como acontece claramente no setor automobilístico – e também como instrumento de desenvolvimento social. Não deve ser mera coincidência que o consumo de seguros per capita, em qualquer lugar do mundo, é diretamente proporcional à distribuição da renda e ao bem-estar de seu povo.

Quanto mais penso nessas questões, mais me convenço da importância do seguro como instrumento de proteção social e de que quanto maior for a sua presença em uma sociedade, menor será a dependência do cidadão dos favores do governo.


João Elisio Ferraz de Campos, ex-governador do Paraná, é empresário e presidente do Conselho de Administração da Centauro Seguros.

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