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Saiba definir o valor da sua renda mensal na aposentadoria

Fonte: Folha de São Paulo

Há algum tempo se diz "melhor idade" em vez de "terceira idade", já repararam? E essa pode ser, de fato, a nossa melhor idade se planejarmos e nos prepararmos cuidadosamente para ela. Fase de desfrutar a vida! Seu patrimônio, construído com sabedoria, será gerador de renda para complementar o orçamento necessário para viver sem trabalhar. Filhos criados e independentes financeiramente.

Se ainda não conquistaram essa independência, terão de trilhar esse caminho e aprender a viver com a renda que são capazes de gerar, assim como você fez.

Mas fica a dúvida: qual o valor da renda mensal necessária, daqui a alguns anos, para viver confortavelmente minha "melhor idade"?

Os especialistas da área recomendam que seja um valor entre 60% e 70% da renda durante a vida ativa.

Como as variáveis são diferentes, caso a caso, estime qual será o valor da sua renda na aposentadoria.

Para isso, você deve ter seu orçamento detalhado, com as despesas que compõem esse orçamento e o peso relativo de cada uma: moradia, alimentação, transporte, educação, saúde, lazer.

Alguns itens tendem a diminuir e outros, a aumentar.

Moradia: espaço para redução caso você decida se mudar para um imóvel menor. As despesas de condomínio e manutenção serão reduzidas.

Transporte: outro item com chance de redução. Exclua do orçamento gastos de transporte relativos ao trabalho. Por outro lado, analise se você pretende viajar mais durante os finais de semana.

Educação: pode ser excluído do seu orçamento, exceto se você pretende voltar aos estudos, agora que terá tempo livre, ou iniciar uma reserva para custear os estudos dos netos, por exemplo.

Alimentação: provável redução, já que será menor a quantidade de pessoas da família.

Saúde: é aqui que mora o perigo! O valor da mensalidade do plano de saúde aumenta progressivamente com a idade. Aumentam também os custos com consultas e com exames médicos. O custo de medicação de alguns tratamentos pode ser bem elevado. Aumente substancialmente o valor destinado a esse item do seu orçamento.

Lazer: se permita desfrutar a vida e amplie a verba destinada ao lazer.

CÁLCULO

Vamos supor que seu orçamento mensal atual seja de R$ 8.000. Depois de analisar item por item, você concluiu que precisa de 70% desse valor na aposentadoria para manter seu padrão de vida, ou R$ 5.600. Entretanto, existem outras variáveis que precisam ser consideradas.

A inflação é uma delas. É recomendável supor que haverá inflação dos preços dos itens que compõem sua cesta básica de consumo.

Existe uma diferença importante entre a quantidade de dinheiro que temos e quanto conseguimos comprar com essa quantidade de dinheiro. O poder de compra de R$ 5.600 hoje não será o mesmo daqui a 10 ou 15 anos.

Estime inflação de 5% ao ano e calcule o valor corrigido da renda necessária. Se a aposentadoria ocorrer em dez anos, serão R$ 9.122.

Outra variável a ser considerada é a contribuição previdenciária feita ao INSS. Se você contribuiu para a Previdência Social durante sua vida ativa, terá direito a benefício definido conforme o tipo de aposentadoria concedida pelo INSS.

O valor desse benefício é definido na ocasião do pedido de aposentadoria e não poderá ser inferior ao salário mínimo, nem superior ao teto fixado pelo governo.

O teto definido pelo INSS, hoje de R$ 3.691,74, gera impacto significativo de perda de renda nas pessoas que ganhavam salário superior a esse valor durante a vida ativa.

Quanto maior a renda, maior será o valor a ser complementado por outras rendas para que a pessoa possa manter o mesmo padrão de vida antes da aposentadoria.

COMPLEMENTO

Retomando nosso exemplo: nosso personagem que ganhava salário de R$ 8.000 definiu que precisa de renda mensal de R$ 5.600, ou R$ 9.122 projetados em dez anos.

Da mesma forma que aplicamos um índice de inflação, é razoável supor que o Ministério da Previdência Social também fará correções no valor da tabela que define o valor dos benefícios. Se aplicarmos o mesmo índice de inflação estimado, o teto do INSS será de R$ 6.013.

Dessa forma podemos concluir que o personagem do nosso exemplo precisa de uma renda complementar de aproximadamente R$ 3.109 (R$ 9.122 menos R$ 6.013).

De onde virá esse dinheiro? De rendimentos proporcionados por ativos de seu patrimônio (imóveis alugados, investimentos em títulos, ações, fundos de investimento etc.) ou de um plano de previdência complementar que foi adquirido exatamente com essa finalidade.

COMPRE UM PLANO QUE GARANTA RENDA MENSAL NA APOSENTADORIA

Não raro, observamos que pessoas compram um plano de previdência complementar como estratégia de investir dinheiro e acabam sacando os recursos acumulados, algum tempo depois, para comprar um carro, pagar a escola dos filhos, reformar a casa ou cobrir despesas inesperadas.

Embora essa seja uma possibilidade, a principal vocação desse produto é permitir a conversão, em renda, do capital acumulado durante a primeira fase do plano.

A partir da data que define o início da segunda fase do produto, a fase dos benefícios, o participante passa a usufruir do fluxo contínuo de renda mensal.

Essa característica do produto explica as taxas cobradas pelas seguradoras. Afinal, é o único produto que reúne o atributo de investimento com a possibilidade de contratar o pagamento de renda futura.
Simplificadamente, o produto funciona assim: contrate um plano de previdência complementar (tipo PGBL ou VGBL) e acumule, durante a vida ativa, o maior capital possível.

Defina a idade a partir da qual deseja converter esse montante em renda e, também, o valor da renda futura mensal desejada.

Com base em diversas variáveis (idade atual, idade de aposentadoria, projeção de taxa de juros, custos, tributos, expectativa de vida, entre outros), a seguradora vai estimar qual é o capital necessário para "comprar" essa renda futura.

A seguradora assume o risco de pagar uma renda mensal vitalícia supondo que você viverá, por exemplo, 80 anos. Se você viver mais do que o estimado, azar da seguradora.

Se você morrer cedo -por exemplo, cinco anos depois de ter convertido sua reserva em renda-, sorte dela.

Você comprou uma renda futura por 20 anos, por exemplo, e ela pagará somente por cinco anos.

RENDA FUTURA

O valor da renda futura comprada mediante conversão de plano de previdência em renda varia bastante. E o raciocínio é intuitivo. Quanto maior o risco da seguradora, menor será a renda mensal disponível.

Suponha que você contrate uma renda vitalícia reversível ao cônjuge e aos filhos. O tempo de pagamento dessa renda futura é longo, pois a seguradora estima que lhe pagará durante determinado período; ao cônjuge, no caso de sua morte; e aos filhos, no caso da morte do cônjuge.

Por outro lado, o valor será maior se você contratar renda por um período definido de 10 ou 20 anos, por exemplo.

TAXA DE JUROS

Seja conservador na projeção da taxa de juros, pois trata-se de variável que não depende de você. No longo prazo, ela deve ser bem menor do que a taxa de juros corrente. Sendo conservador nessa projeção você está, de certa forma, descontando a inflação, os custos e os tributos.

Recomendo que você adote 3% ao ano para uma carteira de investimento conservadora e cerca de 5% para uma carteira agressiva.

TÁBUA ATUARIAL

As tábuas atuariais indicam a probabilidade de sobrevivência e morte de uma população e são usadas para o cálculo de benefícios de renda. As mais comuns para os planos abertos são AT-49, AT-83 e AT-2000.

As seguradoras adotam atualmente a tábua mais conservadora, a AT-2000, que prevê 79,6 anos de expectativa de vida.

Você receberá um benefício menor, mas, em compensação, ela é mais realista e reduz o risco de a seguradora ficar insolvente.

SIMULAÇÃO

Vários simuladores são encontrados na internet para projetar quanto poupar, por quanto tempo, para comprar determinada renda futura.

Entretanto, muitos deixam de considerar variáveis importantes como custos e tributos, além de deixar a escolha da taxa de juros para a pessoa que simula, podendo assim patrocinar uma projeção improvável.


MARCIA DESSEN, certified financial planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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