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Antifurto de fábrica não sai do papel

Fonte: Valor Econômico

Por Eduardo Laguna

As empresas de autopeças que investiram no desenvolvimento e fabricação de dispositivos antifurto estão com as novas linhas de produção paradas diante das sucessivas alterações de cronograma que atrasaram a implantação da legislação contra roubos de veículos no país.

A iniciativa ainda esbarra na falta de investimentos do governo na infraestrutura de telecomunicações necessária para fazer o sistema rodar. Paralelamente, as montadoras, preocupadas com o aumento no custo do automóvel, tentam adiar a obrigatoriedade dos rastreadores com o argumento de que o dispositivo precisa de mais ajustes.

Há um consenso entre empresas e entidades envolvidas no processo de que o cronograma que prevê a instalação obrigatória desses equipamentos a partir de janeiro - começando por 20% da produção de carros- está novamente comprometido.

Inicialmente, os dispositivos antifurto começariam a ser instalados em agosto de 2009, mas os prazos foram alterados cinco vezes -, seja pela necessidade de um período maior de testes, seja pela demora do governo em tirar do papel o sistema de gerenciamento e registro dos dispositivos, que será operado pelo Denatran, do Ministério das Cidades.

Essa plataforma é importante porque por ela passará todo o processo de ativação e desativação dos rastreadores, uma vez que caberá ao Denatran configurar os equipamentos.

Wayne Alves, diretor de engenharia da Kostal, fabricante de componentes elétricos de origem alemã, diz que os testes dos equipamentos foram realizados com o uso de estruturas de terceiros e nunca no sistema definitivo. "Ainda não tivemos acesso à configuração que o governo vai fazer", afirmou o executivo.

Além do desenvolvimento do produto, a Kostal fez investimentos na linha de produção para alcançar uma capacidade superior a um milhão de rastreadores na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

Em geral, os fabricantes de autopeças que apostaram nos dispositivos antifurto já têm acordos de fornecimento com as montadoras, mas estão com as linhas subutilizadas. "Já deveríamos estar enviando para as montadoras, mas não recebemos os pedidos", conta Nelson Bastos, diretor comercial da Pósitron, que produz rastreadores em Manaus. A empresa ainda tem a saída de fornecer os dispositivos para frotas de empresas, mas está utilizando apenas metade de sua capacidade de produção, diz Bastos.

Roberto Akiyama, presidente da Abraciclo - associação dos fabricantes de motos - afirma que seu setor já está preparado para as novas regras, mas ainda aguarda o funcionamento da infraestrutura dio governo. "Não podemos comprar os equipamentos e deixá-los no estoque esperando."

O cronograma atual prevê a instalação desses equipamentos em um quinto da fabricação de carros a partir de 15 de janeiro, evoluindo gradualmente para a totalidade da produção até 15 de agosto do ano que vem.

Paulo Butori, presidente do Sindipeças - o sindicato que representa a indústria de autopeças - diz que, embora o setor esteja tecnicamente preparado para atender ao sistema nacional antifurto, falta vontade política para levar a legislação adiante. "É uma lei que não pegou. As pessoas que autorizaram o investimento acreditaram na legislação", afirma, acrescentando que sabe de empresas que destinaram ao redor de R$ 100 milhões no projeto.

Procurado pela reportagem do Valor, o Denatran não fez comentários sobre a demora na implantação do sistema.

Pelo lado dos fabricantes de veículos, a preocupação é que os dispositivos aumentem significativamente o preço do carro, colocando em risco a expansão do setor. Fala-se no mercado de um incremento de R$ 700 a R$ 1 mil no valor do automóvel a partir da instalação do novo equipamento antifurto.

Fora isso, o consumidor terá de contratar uma empresa de monitoramento e rastreamento de carros se desejar acionar o aparelho instalado na fábrica. A resolução sobre os dispositivos antifurto dá liberdade ao proprietário do veículo decidir se quer ou não habilitar o equipamento. A expectativa é que a adesão ao sistema gire ao redor de 5% a 8% dos carros com o dispositivo.

A Zatix, que presta serviços de monitoramento e rastreamento, espera morder pelo menos 12% da base que será habilitada. "Existe um mercado de 20 milhões de carros que não são atendidos por seguros e que poderiam se proteger do roubo de veículos", conta Guilherme Tatini, presidente da empresa.

Se sair do papel, a lei poderá gerar uma grande demanda aos prestadores de serviços de rastreamento, levando-se em conta as vendas de 3,6 milhões de veículos novos no país. De acordo com Tatini, isso é mais do que o dobro do volume de veículos rastreados atualmente, ao redor de 1,7 milhão de unidades.

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