Breaking News

Seguradoras avaliam ativos de bancos

Fonte: Valor Econômico

Companhias podem acompanhar crise e diversificar investimentos com fatias de instituições

Oliver Suess | Bloomberg

Seguradoras e resseguradoras poderão acompanhar as decisões de fundos de hedge e de firmas de "private equity", e participar de disputas por ativos, num momento em que os bancos europeus em dificuldades levantam capital para resistir à crise da dívida na região. "As seguradoras têm a grande vantagem de dispor de abundante liquidez proveniente de pagamentos de prêmios por seus clientes", diz Andrew Broadfield, analista do Barclays Capital, em Londres. "Elas poderão absorver ativos, que os bancos em dificuldades podem ter para vender, até o vencimento, mesmo que sejam ilíquidos". A Allianz já foi contactada por bancos, disse Oliver Baete, um executivo-chefe financeiro no início do mês, acrescentando que a maior seguradora da Europa está "pronta" para comprar ativos.

O Commerzbank, o BNP Paribas e outros bancos estão vendendo ativos ao mesmo tempo em que líderes europeus exigem que levantem capital para reforçar a confiança dos investidores, após terem rebaixado o valor de seus ativos em suas carteiras de dívida grega. Embora fundos de hedge estejam interessados no que Bruce Richards, cofundador da Marathon Asset Management , chama de "filão principal" de investimentos em dificuldades, as seguradoras estão se concentrando em vendas forçadas de ativos de maior qualidade e de maturação mais prolongada, como empréstimos hipotecários. As seguradoras, maiores investidores do mundo, ao lado de fundos mútuos e de pensão, também estão ponderando seu interesse em ativos bancários, pois os juros baixos pesam sobre os retornos e as regras de Solvência 2 (a regra de capitalização) limitam os investimentos em ações e imóveis.

"As seguradoras estão sob pressão porque, a longo prazo, o atual ambiente de juros é totalmente venenoso para elas", disse Philipp Haessler, analista da Equinet Bank, em Frankfurt. "Embora elas não estejam correndo atrás de ativos problemáticos mais arriscados, propriedades imobiliárias e empréstimos ao setor de infraestrutura e ao setor público, pode ser uma diversificação interessante devido a seu fluxo de caixa estável."

Apenas algumas seguradoras e resseguradoras têm poder de fogo suficiente para comprar ativos

As regras de Solvência 2, que a União Europeia pretende colocar em vigência em 2013 para alinhar os riscos das seguradoras com o capital que detêm, visando proteger os detentores de apólices de seguros, atualmente propõem exigências de capital mais elevadas para investimentos imobiliários diretos do que na montagem de carteiras de empréstimos hipotecários e de títulos, diz Carsten Zielke, analista de seguros da Societe Generale , em Frankfurt.

Apenas algumas seguradoras e resseguradoras têm "poder de fogo financeiro" suficiente para comprar ativos de modo a aumentar as taxas de capitalização dos bancos, diz Manfred Seitz, diretor internacional de resseguros da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. "Já realizamos alguns negócios com bancos nos EUA", disse Seitz. "Acho que também daremos uma olhada em ativos que os bancos europeus poderão colocar à venda."

A Zurich Financial Services, maior seguradora suíça, não comenta sua "estratégia de investimento referente a classes de ativos individuais", segundo sua porta-voz Tatjana Aepli. Emmanuel Touzeau, um porta-voz da Axa, em Paris, segunda maior seguradora europeia, não quis comentar. Bancos na França, Reino Unido, Irlanda, Alemanha e Espanha planejam reduzir seus balanços em cerca de ? 775 bilhões ao longo de dois anos, segundo dados compilados pela "Bloomberg".

Bancos europeus têm cerca de ?1,3 trilhão de empréstimos não essenciais em seus balanços, estimou em abril a firma de contabilidade PricewaterhouseCoopers. Isso pode incluir empréstimos para os setores imobiliário, comercial e de transportes. Na semana passada, a Standard & Poor's rebaixou a pontuação de crédito de alguns dos maiores bancos do mundo, entre eles o Bank of America, Goldman Sachs Group, UBS e Barclays, depois que a agência de classificação de crédito reviu sua metodologia para aumentar a ênfase no vigor do sistema bancário de cada país.

Os bancos europeus, prometendo vender ativos problemáticos, também estão emprestando dinheiro a compradores para fechar os negócios e evitar maiores perdas com o aprofundamento da crise da dívida soberana. Como a maioria dos compradores de ativos problemáticos banca suas compras com dívidas, que se tornaram cada vez mais caras e difíceis de obter, os bancos estão financiando eles mesmos essas operações, ainda que isso signifique manter os empréstimos em seus balanço patrimoniais. Isso irá desacelerar a desalavancagem e tornará necessárias mais vendas de ativos, dizem analistas. Embora a oferta vá ser "enorme", os primeiros ativos oferecidos poderão não ser os de melhor qualidade, segundo Baete, da Allianz. "A maioria dos bancos está, obviamente, começando com os pedaços de que não gostam", disse Baete numa entrevista coletiva com analistas em meados de novembro. "Com o tempo, uma grande quantidade de ativos menos líquidos e que atendem nossos requisitos de longa duração e retornos chegarão ao mercado".

Bancos europeus, às voltas com operações problemáticas, têm emprestado dinheiro a compradores

A Munich Re, maior resseguradora do mundo, anunciou que "observará atentamente" as oportunidades de mercado resultantes do incremento das exigências de capital para os bancos, de acordo com Reiner Back, diretor de renda fixa e gestão da carteira de moedas na unidade de asset management da MEAG, em Munique. "Somos altamente receptivos a investimentos que elevem o nível da nossa diversificação ou ofereçam maior potencial de retorno do que riscos comparáveis", disse Back. A R esolution, firma fundada por Clive Cowdery especializada na compra de serviços financeiros e sediada em Guernsey, anunciou em 9 de novembro que poderá inaugurar uma nova empresa para comprar ativos bancários. "Os negócios tornaram-se mais intensos, pois há uma grande percepção de que os bancos buscarão um reposicionamento e estarão empenhados em levantar capital", disse o executivo-chefe John Tiner. "Acreditamos que (o momento para) as operações pode estar se aproximando".

Atraídos pela perspectiva de compra de carteiras de bancos com descontos, fundos de hedge americanos e firmas de private equity como a Apollo Global Management LLC levantaram desde 2009 cerca de US$ 7 bilhões para fundos destinados a comprar ativos problemáticos europeus e estão buscando mais US$ 7 bilhões, segundo a Preqin, firma de pesquisas de Londres. As seguradoras provavelmente não irão disputar esses ativos, disse Zielke, da Société Générale. "Embora os ativos dos bancos em dificuldades possam oferecer retornos muito altos, não são apropriados como investimento para as seguradoras", disse ele. "Eles estão reservados para investidores como os fundos de hedge, com maior apetite por risco, dispostos a assumir esses riscos". Zielke disse que os bancos estão sendo forçados a vender ativos para cumprir as metas mais duras nas exigências de capital de Basileia 3. A Autoridade Bancária Europeia (EBA, em inglês) disse no mês passado que exigirá que os bancos elevem seu capital para ?106 bilhões, depois de remarcar sua dívida pública para valores de mercado em testes de estresse. "Se os bancos não foram capazes de levantar todo o capital de que necessitam, será nesse momento que as seguradoras poderão ficar gananciosas, e não antes", disse Broadfield, do Barclays. "As seguradoras estarão em uma posição muito boa, estou mais preocupado é com a execução".

O Commerzbank, segundo maior banco alemão, disse que até meados de 2012 poderá reduzir seus ativos ponderados por risco em até ?30 bilhões para cumprir as exigências de capital impostas pela EBA. O UniCredit , maior banco da Itália, planeja se desfazer de ?48 bilhões de ativos não estratégicos nos próximos anos, inclusive suas divisões de commodities na Ásia e nos EUA. O BNP Paribas, em Paris, comprometeu-se a reduzir seu balanço patrimonial em 10%, inclusive cortando ?82 bilhões em ativos nos setores empresarial e de bancos de investimentos. "O sistema bancário ficará cada vez menos em condições de manter em suas carteiras produtos ilíquidos ou envolvendo spreads", disse o executivo Baete, da Allianz. "Isso deverá nos proporcionar uma vantagem competitiva". As seguradoras, que investem dinheiro de seus clientes, tinham cerca de US$ 24,6 trilhões em ativos no fim de 2010, de acordo com o site thecityuk.com, um grupo lobista londrino gerido pela City of London Corp. Isso se compara a cerca de US$ 1,8 trilhão em ativos em fundos de hedge mundo inteiro. "A Allianz conquistou uma reputação de estar à frente da curva nesses investimentos alternativos", disse Ben Cohen, analista da Collins Stewart Hawkpoint Plc, em Londres. "Se esses empréstimos bancários vierem a um preço justo, a compra de alguns deles poderá ser a coisa a fazer."

(Tradução de Sergio Blum)

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario