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É tudo uma questão de conta

Fonte; O Estado de São Paulo

No decorrer do ano, o preço do seguro dos carros deve subir acima da inflação. A alta ocorre pelo aumento, por exemplo, no número de furtos e roubos

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

De acordo com informações das seguradoras, o preço do seguro de automóvel deve sofrer um reajuste acima da taxa de inflação ao longo de 2012. E este reajuste será maior ainda em São Paulo.

Nada de novo no quadro. As notícias são ruins para o setor faz bastante tempo.O aumento do furto e do roubo de veículos é tendência nacional, com até um balneário como o Guarujá entrando na dança com o significativo aumento de 81% no número de roubos e furtos de automóveis durante as férias.

Quem fizer um esforço de memória vai se lembrar de pelo menos uma ou duas matérias mostrando o aumento deste tipo de crime ou elencando o ranking das regiões onde ele mais ocorre, como é o caso dos bairros de Pompéia e Perdizes, na capital paulistana. Mas o preço do seguro tem mais uma variável: a reparação das perdas parciais. E ela também está custando mais caro.

Seguro é matemática pura e pode ser simplificado na seguinte equação: tem de entrar um pouco mais do que sai para manter o mútuo estável e a carteira líquida e assim fazer frente aos compromissos futuros.

Ao fazer o cálculo para precificar seus seguros, uma seguradora leva em conta a sinistralidade, as despesas comerciais e administrativas, a carga fiscal e qual o lucro que espera ter. A soma delas é o preço puro do seguro. É verdade que este preço pode ser um pouco reduzido pela adição do resultado da aplicação dos prêmios no mercado financeiro ao resultado final.

A conta do resultado do negócio pode ser resumida assim: o prêmio menos os sinistros, menos despesas comerciais, menos despesas administrativas, menos carga tributária é igual ao resultado da seguradora. Se o número for menor que cem a seguradora está ganhando dinheiro; se for maior, está perdendo. Mas se ao resultado negativo a seguradora somar o resultado das aplicações financeiras, o resultado final pode cair para menos que cem, permitindo o lucro com o negócio.

Acontece que o resultado médio do "índice combinado", que é o nome desta conta, anda na casa de 108 nos seguros de automóveis. Ou seja, asseguradoras estão perdendo dinheiro. Isso poderia ser compensado, como de fato foi durante muito tempo, pelos altos juros pagos no Brasil. Acontece que os juros estão em queda e, se descontarmos a inflação, dificilmente alguém consegue um rendimento real de 6% ao ano. Quer dizer, continuam faltando 2 pontos para elas zerarem a conta, o que não quer dizer ganhar dinheiro.

Quando isso ocorre, em qualquer lugar do mundo, a única solução é aumentar o preço do seguro. Se a seguradora não fizer isso, o mútuo que dá suporte para toda a operação da companhia começa a ficar comprometido, porque as entradas ficam menores do que as saídas.

É por isso que os seguros de automóveis no Brasil terão, ao longo de 2012, seus preços reajustados para cima. Todas as variáveis que interferem na conta da precificação estão piorando. Os furtos e roubos continuam em franca ascensão; as perdas parciais, que são as batidas em que compensa consertar os veículos, estão ficando mais caras, pelo aumento da frequência e pelo preço das peças e da mão de obra; e as aplicações financeiras estão pagando menos, pela queda das taxas dos juros e pelo aumento da inflação.

Como o cenário é mais ou menos generalizado, as seguradoras podem estimar com bastante certeza um aumento médio da ordem de 10% para todo o País, da mesma forma que podem prever um aumento maior para São Paulo, onde os indicadores são ainda piores.

Atualmente, os seguros de veículos são quase que individuais e absolutamente regionalizados. Com a adoção do questionário do perfil do segurado, o uso da informática e o suporte de pesquisas acuradas, as seguradoras sabem o que está acontecendo com suas carteiras a cada minuto. E um bom número sabe que está perdendo dinheiro com os seguros de veículos. Nesta hora, até a concorrência acirrada, que é a marca registrada deste produto, abre espaço para a sobrevivência. Não há outra solução, senão os preços subirem.

É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA RÁDIO 'ESTADÃO ESPN'

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