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Cade quer investigar taxa sinistra

Fonte: Época

Reportagem de ÉPOCA mostrou que a cobrança de R$ 100 feita pelas seguradoras para emitir apólices era contestada pela AGU

Foram abertas duas frentes de investigação sobre a cobrança de R$ 100 feita pelas seguradoras para emitir apólices. Esse valor de R$ 100 é um adicional, além do custo do seguro, autorizado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), a toque de caixa, num processo cuja legalidade é questionada por procurador da Advocacia Geral da União (AGU), conforme revelou ÉPOCA, em reportagem, no início de março. Só com a emissão de apólices, as seguradoras já arrecadaram algo em torno de R$ 4 bilhões, em dois anos, segundo cálculo de especialistas.

A Susep é o órgão federal fiscalizador e regulador do mercado. Era comandada pelo deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO) quando o valor máximo permitido para a cobrança da apólice foi alterado de R$ 60 para R$ 100. De cada R$ 100 arrecadados, R$ 20 ficam com os corretores de seguros, categoria cuja federação é presidida por Vergílio. Em 2010, Vergílio se elegeu, pela primeira vez, com ajuda financeira de seguradoras.
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Uma das investigações sobre a taxa de R$ 100 foi solicitada ao Ministério Público Federal pelo deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ). Na representação criminal, o deputado classifica a cobrança como ilegal e pede o envolvimento da Procuradoria da República no caso, por considerá-lo grave. "Todas as despesas da companhia seguradora, inclusive o de emissão de apólice, são os custos dos serviços contratados. Já fazem parte do cálculo atuarial para o prêmio", diz. "Imagine se os fabricantes de produtos industrializados pudessem cobrar adicionais pelos manuais de garantia (...). Absurdo!", completa o deputado.

A outra frente de investigação foi solicitada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) à Secretaria de Defesa Econômica. Os dois órgãos integram o sistema de defesa concorrencial do Ministério da Justiça. No ofício encaminhado à SDE, no dia 14 de março, o conselheiro do CADE Alessandro Octaviani cita a reportagem de ÉPOCA e solicita uma ampla apuração sobre "cobrança de taxas de corretagens e outras que não poderiam ser cobradas, majorando indevidamente" o preço dos seguros.

O custo de emissão de apólices existia desde 1998 no valor de R$ 60, sob o pretexto de compensar as empresas por despesas com correio e papéis, principalmente. A cobrança sempre foi facultativa. A fim de se tornarem mais competitivas, as seguradoras poderiam abrir mão dessa taxa, como algumas faziam. Hoje, apólices são encaminhadas por email e muito da papelada do passado foi eliminada. Ainda assim, desde o reajuste, a cobrança passou a ser uma regra no mercado. ÉPOCA fez cotação de seguro de veículos com diversas seguradoras e não conseguiu nenhum contrato que não cobrasse a taxa de R$ 100.

Em carta enviada a ÉPOCA, o deputado Vergílio afirmara que o pleito "seguiu os trâmites absolutamente normais dentro da autarquia". Ele também diz que esse custo, apesar de facultativo, "é cobrado regularmente por particularmente todas as seguradoras" e existe desde 1974.

ÉPOCA descobriu, porém, que, ao elevar o custo, a Susep não respeitou a sua própria burocracia interna. Documentos internos da autarquia revelam que o aumento foi aprovado com base, unicamente, na argumentação do interessado no pleito, a Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg). Não foi realizado nenhum estudo técnico para justificar o aumento. A Fenseg argumentou em documento diretamente enviado a Vergílio, entre outras coisas, o seguinte: "submetemos à consideração de V.Sª o pleito de revisão do valor do custo de emissão atualizando o valor que era de no máximo R$ 60 para, no máximo, R$ 100, o que permitirá o repasse de parte deste valor (20%) para os corretores de seguros que sofreram impactos semelhantes no custo de suas operações". Corretagem é um dos itens incluídos no valor do seguro. Em um despacho interno, o diretor de Autorizações da Susep, Nelson Victor LeCocq D'Oliveira, afirma que repassar parte desse custo de emissão da apólice para corretores "foge ao propósito do custo de apólice".


Consultado novamente, o deputado Armando Vergílio afirma que a decisão da diretoria, durante sua gestão, contou com o parecer do diretor técnico Alexandre Penner.

Em alguns dias, a diretoria da Susep irá votar se o reajuste tem validade legal ou se é o caso de revogá-lo. Procurada, a autarquia informou estar tomando "as devidas providências em relação a este caso, em tramitação na Procuradoria". A Susep confirma que "a falta de estudos técnicos, à época da decisão, chamou a atenção da autarquia. As diretorias afins, e suas coordenadorias, foram acionadas para verificarem a existência de dados que pudessem embasar àquela decisão, os quais, realmente, não foram encontrados. A Procuradoria está realizando estes levantamentos, fundamentando cada um dos aspectos envolvidos, para que sejam analisados sob a ótica da legalidade e do regimento interno da autarquia". 

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