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Em busca de novas ondas

Fonte: IstoÉ Dinheiro

José Felipe Vieira de Castro, presidente da corretora AON no Brasil, planeja e executa a própria sucessão.
Por Cláudio GRADILONE

Processos sucessórios corporativos costumam ser dramas com fortes emoções, que tendem a paralisar o negócio enquanto não se resolvem. Ainda mais quando a sucessão envolve o fundador, que confunde a empresa com sua própria biografia. Nesse sentido, a troca de comando na corretora de seguros AON foi uma exceção à regra. Fundada há três décadas pelo empresário carioca José Felipe de Castro, a corretora teve seu controle vendido à americana AON em 2000. Pelo contrato, Castro permaneceria no comando do negócio por cinco anos, renováveis por mais cinco. Ao completar a primeira década, ele pediu aos controladores que começassem um processo de sucessão – que vai se encerrar no fim deste ano. “Em janeiro de 2013 eu vou para o conselho”, diz Castro com exclusividade à DINHEIRO. “Minha contribuição como executivo já está dada, agora é hora de passar o comando à geração mais jovem.”
Castro: "Tenho 58 anos e ouço George Benson, mas meu cliente ouve Oasis".

A presidência será assumida por Marcelo Almeida, um funcionário de carreira que hoje dirige a AON Hewitt, especializada na elaboração de benefícios corporativos. “Até lá, ele será o COO, o responsável pela operação ao longo deste ano”, diz Castro. Fernando Pereira, sócio de Castro desde a fundação da corretora e atual COO, foi convidado a dirigir as operações na América Latina. O processo sucessório foi realizado com a ajuda de uma empresa de consultoria e recrutamento especializada no mercado financeiro, a paulista Fesa. “Foi um processo demorado, em que fizemos uma avaliação profunda dos candidatos em potencial, todos eles pertencentes à AON”, diz Renata Fabrini, sócia da Fesa. Depois de identificar os executivos com potencial, a consultoria realizou avaliações 360 graus – ouvindo chefes, subordinados e clientes.

O passo seguinte foi realizar entrevistas pessoais e diversas etapas de seleção. “Cada candidato gerou um relatório de avaliação de centenas de páginas”, diz Renata. “Analisamos os pontos fortes e as deficiências, não apenas na técnica, mas também em liderança e comunicação.” Castro trata da mudança com pragmatismo. “O executivo precisa se olhar no espelho e perceber quando tem de dar lugar a lideranças mais jovens”, diz ele. “Vou fazer 60 anos, mas os vice-presidentes financeiros ou de RH das empresas que são nossas clientes têm entre 35 e 40 anos e falam uma língua diferente da minha. Eu ouço George Benson, mas eles gostam de Oasis.” Não é apenas desprendimento filosófico. Os seguros são uma das atividades mais promissoras do mercado financeiro brasileiro e continuarão assim ao longo dos próximos 20 anos.

“O aumento da renda da população vai estimular a compra de seguros patrimoniais pelas pessoas físicas, e as obras de infraestrutura devem aumentar a venda de apólices para proteção de grandes riscos”, diz Luciene Magalhães, sócia da área de seguros da empresa de auditoria KPMG. “Nesse setor, as pessoas que prestam os serviços fazem toda a diferença.” O processo na AON não foi a única mudança recente entre os executivos do mercado segurador brasileiro. Subsidiárias de empresas importantes, como a espanhola Mapfre, a suíça Zurich e a americana MetLife trocaram seus presidentes nos últimos meses – a mudança mais recente é a da alemã Allianz, que anunciou uma troca de comando no dia 13 de fevereiro.

Segundo Renata, da Fesa, essa dança das cadeiras decorre não apenas dos prognósticos de crescimento do mercado, mas também do aumento das exigências de capital das seguradoras, no âmbito das mudanças previstas no acordo de Basileia III. Destinados a aumentar a segurança do sistema bancário, os acordos de Basileia passaram a afetar também as seguradoras, exigindo mais patrimônio e controles de risco mais precisos. O novo cenário exige seguradoras e corretoras mais ágeis e rentáveis, bem diferentes das que prosperavam em um mercado sustentado principalmente pelos ramos elementares – os seguros automotivos e de vida. “As empresas terão de ser capazes de lançar novos produtos com mais agilidade”, diz Renata. Castro justifica a decisão traçando um paralelo com seu passado de surfista. “Eu ainda surfo, mas prefiro as long board, enquanto a moçada quer pranchas mais nervosas”, diz.

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