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Competição derruba preço de seguro garantia em até 50%

Fonte: Valor Econômico

O restrito clube das seguradoras que atuam com apólices de garantia - que cobrem a entrega de uma obra ou serviço conforme o contrato - terá que se acomodar a um novo e mais desafiador cenário para o segmento. Nele, há um maior número de competidores, que praticamente dobrou em 2011. Isso provocou uma acentuada queda nas taxas cobradas pelas apólices, que caíram entre 30% e 50% para as grandes obras, de acordo com as 12 seguradoras e corretoras de seguros ouvidas pelo Valor.

A consequência é que a receita de seguro garantia deve ter fechado 2011, ano que começou com expectativas de até 20% de crescimento na receita, andando de lado. A estimativa é que o avanço fique entre 5% e 10%. Até novembro, o seguro garantia registrou R$ 721 milhões em faturamento, alta de 12% na comparação com mesmo período de 2010. Dezembro, que não deve os dados consolidados, porém, será o fiel da balança, já que em 2010 o faturamento cresceu em cerca de R$ 100 milhões só nesse mês.

Para 2012, as projeções de alta estão entre 12% e 15%, segundo Cristina Tseimatzidis, da corretora Marsh. As apólices de concessão dos aeroportos, do Trem de Alta Velocidade (TAV) e de poços de petróleo podem puxar a recuperação. Em 2010, o segmento também tinha andado de lado, crescendo apenas 5%, graças à menor quantidade de obras públicas, além disso, o ano de 2009 havia tido os dados inflados por obras como as usinas do Rio Madeira. A esperança era que, com a quantidade de obras planejadas para Copa, Olimpíada e pré-sal, o setor voltasse a crescer em 2011 perto do ritmo de 2009 e 2008, quando ganhou 39% e 44% respectivamente - percentuais que, combinados com uma baixa frequência de indenizações, atraíram os novos participantes do mercado.

O cenário, no entanto, não se concretizou. Com os escândalos no Ministério dos Transportes, somados ao fato que o ano passado foi o primeiro de um novo governo - tradicionalmente mais fraco em obras - o número de obras na mesa em 2011 ficou abaixo do esperado. E foi aí que a competição no segmento ficou hostil.

"No Brasil, o único jogo que não é proibido é o cassino do seguro garantia", diz Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora J. Malucelli, a maior no ramo de garantia, com cerca de 30% do mercado. Alexandre compara o segmento a um jogo de sorte, sendo algumas seguradoras novas que entraram no ramo os maiores "apostadores".

Para ele, o que atraiu os novos concorrentes foram três fatores: 1) o pouco capital necessário para se abrir uma seguradora na modalidade, de R$ 17 milhões; 2) a menor exigência de retenção de risco tanto pelas seguradoras quanto pelas resseguradoras que atuam no ramo de garantia, o que permite que o risco da apólice seja quase integralmente repassado; e 3) a grande capacidade oferecida pelas resseguradoras internacionais para riscos brasileiros, na medida em que os mercados americano e europeu tropeçam na recuperação econômica.

"Quem ganha com esse excesso de capacidade são as empresas que tomam as garantias. As seguradoras, por outro lado, sofrem com a estagnação dos prêmios (preço pago pelo seguro) e a queda nas taxas", avalia Adriano Almeida, diretor de produtos financeiros da corretora Aon.

Como um limite de crédito dado pelo banco, as seguradoras dão para cada empresa um valor máximo para cobertura de suas garantias - limite conhecido como capacidade. Almeida calcula que atualmente as empresas utilizam apenas um quinto dessa capacidade.

A expectativa pela execução de grandes obras no ano passado fez o setor até então disputado basicamente pelas já tradicionais J. Malucelli, UBF e Cesce Brasil ganharem quase 20 novos concorrentes. Empresas que já atuavam com grandes riscos em outras linhas, como Chubb, Liberty, Zurich, Chartis e Tokio Marine, passaram a dar ênfase para garantia, causando um descompasso entre o volume de operações e o número de participantes do mercado.

"No mercado brasileiro, 20 empresas competindo em grandes riscos é demais. O mercado fará uma autocorreção e, como são apólices de longo prazo, algumas seguradoras vão carregar isso na carteira por um bom período", avalia Angelo Colombo, diretor executivo de grandes riscos da seguradora Allianz.

"Tem um pouco de incoerência no movimento das taxas. Há operações de seguros feitas com empresas de portes e situações financeiras diferentes mas com taxas no mesmo nível baixo", diz Walkiria Melo, gerente da divisão de grandes riscos da Liberty. Ela conta que a seguradora, uma das novas participantes do mercado, ficou surpresa com a grande capacidade disponível no mercado.

A Zurich, que também reforçou a operação de garantia em 2011, conta que vem encontrado refúgio da guerra de preços em operações envolvendo o setor privado. "Temos feito muitas apólices para montadoras que vêm instalar fábricas no Brasil, depois da mudança da tributação", diz Tatiana Moura, superintendente de seguro garantia da Zurich.

O grupo BB Mapfre também está de olho no setor privado, como parte de um "reposicionamento estratégico" de sua área de garantia em 2012, diz Wady Cury, diretor-geral de grandes riscos do grupo. Ele conta que a rede de distribuição do Banco do Brasil terá um papel importante nessa estratégia.

Mesmo com a diversificação de nichos, Luiz Pestana, vice-presidente da Swiss Re Corporate Solutions (antiga UBF), acredita que o faturamento do seguro garantia continuará concentrado em poucas empresas. "Só as grandes seguradoras têm fôlego para emitir apólices de garantia de longa duração, que concentram os maiores valores."

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