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Nem aí para o mercado

Fonte: Revista Exame

A Porto Seguro perdeu um quarto de seu valor de mercado em 2011. Os analistas estão bem mais preocupados que seu fundador

Lucas Amorim

Pode-se acusar o mercado financeiro de tudo, menos de ser paciente. Quando uma empresa familiar abre o capital, logo se diz que caberá ao fundador "se adaptar" às exigências de investidores, analistas, jornalistas e quem mais faça parte dessa instituição conhecida como "mercado" quem pensava de 30 em 30 anos tem de pensar de três em três meses, seja lá isso bom ou ruim para o negócio. E como pensa o "mercado", e ponto final. Volta e meia, no entanto, surge um empresario que não demonstra interesse algum em seguir essa cartilha -,o que, fatalmente, resulta em briga. E o que vem acontecendo com o paulista Jayme Garfinkel, fundador da Porto Seguro, quarta maior seguradora do país, com receitas de 10 bilhões de reais em 2011. Há quase três anos, Garfinkel decidiu vender parte de sua empresa para o Itaú Unibanco. Os investidores ficaram encantados com a promessa de sinergias que uma fusão como essa costuma trazer: a acão da Porto subiu 9% no dia do anúncio. Mas, recentemente, o mercado passou de eufórico a depressivo. Para os analistas, está demorando para que os ganhos da fusão apareçam nos resultados, e eles pedem mais pressa na integração. Garfinkel tem uma resposta pronta: "Nunca fiz e não vou fazer nada às pressas", disse ele a EXAME. "Os analistas que pensem o que quiserem. 55 Não vou tomar nenhuma decisão para valorizar as ações no dia seguinte.

De um ano para cá, os acionistas da Porto entre eles o próprio Garfinkel, que ainda é dono de 40% da empresa têm sofrido um bocado. As ações caíram quase 25% no último ano, o que representou uma perda de 800 milhões de reais para o empresário. Ao contrário do que se esperava, os resultados da Porto após a parceria com o Itaú pioraram em vez de melhorar. Ainda que continue líder no segmento de apólices de automóveis, sua participação de mercado caiu. O mesmo ocorreu com rentabilidade e lucro. É verdade que 2011não foi um período fácil para quem vende seguros de automóveis, ramo que responde por quase 60% da receita da Porto. "O número de roubos e furtos de carros bateu recorde e pequenas empresas fizeram promoções agressivas, o que corroeu as margens do setor", diz Luiz Castiglione, consultor especializado em seguros. Mas, em razão do acordo com o Itaú, a expectativa era que a Porto passasse por essas dificuldades de forma mais suave, o que não ocorreu.

Os sistemas de tecnologia do Itaú e da Porto, por exemplo, ainda funcionam de forma totalmente separada (em fusões bem mais complexas, como a do próprio Itaú com o Unibanco, os sistemas foram integrados em dois anos). Além disso, não há incentivos para que os gerentes do Itaú vendam seguros do parceiro. A ordemé, primeiro, oferecer a apólice do próprio banco - e só mostrar algum produto da Porto se o cliente pedir. Os analistas estrilam. Garfmkel diz que a integração acontece lentamente porque é preciso negociar a mudança com os corretores que trabalham para a empresa - um batalhão de 20 000 profissionais que respondem por 95% das vendas e que ficariam insatisfeitos se as apólices da Porto também fossem vendidas pelos gerentes do Itaú. "Não queremos deixar nossos parceiros na mão, porque, sem eles, estaríamos acabados", diz Garfinkel. O resultado é que apenas 5% das vendas de 2011 foram feitas nas agências (a expectativa era que o número estivesse em 15% atualmente).

DESAFIOS

Como Garfinkel pretende ganhar dinheiro daqui para a frente? Sua estratégia é continuar fazendo a integração de forma lenta. A meta é que, até 2014, 10% das vendas sejam feitas pelas agências do Itaú. Enquanto isso, ele lançará novos produtos, como seguros rurais e apólices que custem até 10 reais por mês. Apesar dos problemas do último ano, a Porto continua sendo uma das seguradoras mais rentáveis do mercado - sua margem de lucro no segmento de automóveis é 3 pontos percentuais superior à média da concorrência. Finalmente, quando se olha a floresta, e não a árvore, o jeitão "tô nem aí" de Garfinkel se transforma num inegável bom negócio para os investidores. As ações da Porto Seguro valorizaram 325% desde sua abertura de capital, em 2004 - enquanto dezenas de empresas que foram à bolsa de lá para cá valem menos do que valiam no dia da estreia. Eis o paradoxo: não seguir a cartilha do mercado pode ser a melhor forma de agradá-lo.

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