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Aplicações financeiras, e não apólices, dão lucro a seguradoras

Fonte: Brasil Econômico

Resultado da Porto Seguro e SulAmérica no primeiro trimestre vem de rendimentos das reservas técnicas, motivo de preocupação para analistas em um cenário de queda da taxa Selic; ações devem sentir impacto

Flávia Furlan

As seguradoras ainda estão baseando seus resultados na aplicação de recursos da reserva técnica, diante do prejuízo que têm tido com a operação de venda de apólices, em meio a um cenário de maior competitividade e maior incidência de eventos para pagamento de indenizações. O desempenho é visto com preocupação pelo mercado, uma vez que grande parte dos investimentos das seguradoras está alocada em ativos relacionados ao juro básico, em queda desde agosto do ano passado. Em cinco reuniões consecutivas, a taxa Selic caiu de 12,50% ao ano para os atuais 9%, com sinais emitidos pelo Banco Central de que o patamar histórico de 8,75% pode ser batido já no primeiro semestre deste ano, o que tende a reduzir aindamais o retorno obtido com a aplicação das reservas técnicas.

Dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNSeg) mostram que as seguradoras fecharam 2011 com R$ 451,6 bilhões em investimentos, entre provisões técnicas e patrimônio líquido, sendo que mais de 90% está aplicado em títulos do governo.

No primeiro trimestre, o quadro se manteve. A Porto Seguro, por exemplo, registrou lucro líquido de R$ 147 milhões no trimestre do ano, queda de 4% frente ao mesmo período do ano passado. O índice combinado foi de 100,6% no período, o que significa que as despesas operacionais corroeram todas as receitas com venda de seguros. Ao final do ano passado, este indicador estava em 98,2% - caracterizase lucro operacional em uma seguradora quando este índice é menor que 100%.

"O principal motivo foi o aumento da sinistralidade do produto automóvel, que concentra dois terços do nosso negócio", pondera Marcelo Picanço, diretor financeiro e de relações com investidores da Porto Seguro. O lucro líquido registrado vem do resultado financeiro de R$ 261 milhões no primeiro trimestre do ano, alta de 26% frente ao mesmo período de 2011.

A SulAmérica, por sua vez, teve lucro líquido de R$ 112,8 milhões no primeiro trimestre, alta de 10,6% na comparação com o mesmo período de 2011. O índice combinado da seguradora foi de 101% no primeiro trimestre. A carteira de investimentos, no entanto, gerou resultados de R$ 158 milhões, alta de 3% frente ao mesmo período de 2011.

"Preocupa o ritmo lento de recuperação das margens operacionais, que não estão suscetíveis a compensar os ventos contrários do ambiente de baixa taxa de juro", afirma a equipe de analistas do Barclays, em relatório sobre a SulAmérica.

Já o analista da Lopes & Filho Consultoria, João Augusto Salles, acredita que enquanto a Selic cair e prejudicar o desempenho das reservas técnicas, ela também permitirá crescimento econômico e contratação de mais seguros por parte da população. "A seguradora ganha através do volume de negócios gerado", avalia.

Os analistas do Goldman Sachs, por sua vez, dizem que, com a queda da Selic, as ações das seguradoras vão sofrer em bolsa. "No entanto, nós vemos um potencial de recuperação na rentabilidade quando os preços começarem a recuperar completamente, provavelmente em 2013", ponderam em relatório.

Picanço, da Porto Seguro, diz que uma das estratégias para recuperação dos resultados operacionais tem sido justamente a alta de preços, além de ganhos de eficiência. "Estamos otimistas que as coisas melhorem até o final do ano."

Melhora de eficiência operacional também tem sido a tônica do Bradesco Seguros. A seguradora teve lucro líquido de R$ 905 milhões no primeiro trimestre, alta de 18,9% frente ao ano anterior. Neste caso, o índice combinado foi de 85,7%. "Estamos focando em eficiência administrativa, revisão de processos, automatização e redução de fluxos operacionais", diz o diretor Haydewaldo Chamberlain, que afirmou que a ordem geral no Bradesco é evitar desperdícios, tanto no banco quanto na seguradora. Salles, da Lopes Filho, diz que a vantagem das seguradoras de bancos neste cenário são os ganhos com sinergia operacionais.

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