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De novo a cobra morde o rabo

Fonte: Folha de São Paulo

Ao contrário do que alguns pensam, os planos de saúde privados não são máquinas de ganhar dinheiro.A luta pelo equilíbrio é difícil e depende de fatores externos a eles

Antônio Penteado Mendonça 

Mais uma vez os médicos que atendemos planos de saúde privados fizeram uma espécie de greve, ou movimento nacional, visando melhorar seus ganhos. Os médicos estão certos? Sem dúvida nenhuma, sob a ótica de um médico norte-americano, os médicos que atendem os planos de saúde privados brasileiros estão certos. Seria inimaginável para ele atender uma consulta por algo próximo de US$ 25.

Então, sob este ângulo, não haveria discussão e os planos de saúde teriam que rever suas políticas de remuneração porque estariam em total descompasso com a realidade. A questão é que a realidade em tela é a da nação mais rica do mundo.Um país que gasta com saúde mais de US$ 2 trilhões por ano. E que nem por isso resolveu todos os problemas nesta área.Atualmente, cerca de 50 milhões de norte americanos não têm acesso a saúde, o que levou o governo Obama a eleger o tema como uma de suas prioridades e a apresentar um modelo de atendimento revolucionário para tentar mudar a situação.

Prosseguindo na comparação com nossos irmãos do norte, o custo médio anual dos planos de saúde norte americanos está na faixa dos US$ 2.500. Numa conversão por baixo, eles custariam ao redor de R$ 4.500, ou seja, bem mais do que o dobro do preço médio anual dos planos de saúde privados brasileiros.

Plano de saúde privado e seguro funcionam baseados num princípio chamado mutualismo, no qual se constitui um grande fundo, composto pela contribuição proporcional de cada participante,de onde a operadora retir ao numerário necessário para fazer frente aos atendimentos e indenizações, despesas administrativas e comerciais,impostos e margem de ganho, seja para reinvestimento sou distribuição de lucros.

Assim, não tem como o plano não quebrar se as saídas forem maiores do que as entradas.Como a ordem de grandeza do faturamento do setor não é comparável com a realidade norte-americana, temos que, sob esta ótica, as operadoras dos planos brasileiros também estão certas. Ou seja, se pagar em mais, seja lá para quem for, correm o risco de desequilibrarem o mútuo e comprometerem sua atuação futura, deixando milhões de pessoas, que já estão pagando hoje, sem atendimento amanhã.

É um quadro complexo e que, se fosse fácil de resolver, não teria desaguado na Lei dos Planos de Saúde Privados, com certeza das leis ruins que já foram votadas no Brasil.

É preciso dizer que a Agência Nacional de Saúde Suplementar, que é o órgão público encarregado da regulamentação e fiscalização das operadoras de planos de saúde privados, vem se aprimorando e atuando de forma bastante consistente, principalmente através do desenvolvimento e implantação de soluções capazes de melhorar as condições dos usuários, sem, todavia, onerar desproporcionalmente as operadoras. Todo mundo sabe que o cobertor é curto. Não adianta puxar demasiadamente para cá ou para lá. Se acontecer isso, alguém corre o risco de ficar descoberto e os resultados podem ser catastróficos para o sistema como um todo.

Mas será pior ainda para a nação brasileira. Atualmente, os planos de saúde privados, apesar de atenderem algo perto de 50 milhões de usuários, entram com mais de 60% do total do dinheiro investido em saúde no País.

Com esta contribuição, com todas as distorções que afetam o sistema - e que não são poucas - os planos privados desoneram o governo, permitindo que os 40% restantes sejam investidos no SUS, melhorando o atendimento dos 60% de brasileiros menos favorecidos, que não têm recursos para contratar um plano de saúde privado.

O movimento dos médicos é importante e tem como base a reivindicação de uma remuneração digna para um profissional que precisa estudar continuadamente para desempenhar suas atividades. O freio é que, ao contrário do que alguns pensam, os planos de saúde privados não são máquinas de ganhar dinheiro. A luta pelo equilíbrio é difícil e depende de fatores externos a eles.Por exemplo,a queda do emprego formal tem forte impacto e ela começa a acontecer.

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