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Novas oportunidades na área de seguros

Fonte: Valor Econômico

Aumento da remuneração atrai profissionais de outras áreas e até quem estava fora do Brasil. Por Letícia Arcoverde, de São Paulo

Letícia Arcoverde | De São Paulo

Antes uma área de pouco sucesso entre executivos do mercado financeiro, o setor de seguros passou por transformações e hoje oferece oportunidades em par com diversas outras indústrias. Ao oferecer salários mais competitivos, o mercado brasileiro está atraindo profissionais que até então faziam carreira fora do país ou atuavam em outros setores. Para atender ao rápido crescimento da área, as companhias estão agora sendo forçadas a investir em treinamento técnico e desenvolvimento de lideranças.

O bom momento se explica pelo aquecimento da economia no país, que ajudou, por exemplo, a subir o padrão das classes sociais. Isso contribuiu para que mais pessoas tivessem acesso a bens e, por consequência, comprassem seguros. Outros fatores que ajudaram o crescimento dessa indústria foram o boom na área de construção civil e a quebra do monopólio do Instituto de Resseguro do Brasil (IRB). Até 2008, ele era a única entidade autorizada a comercializar apólices de resseguro- transação que ocorre quando uma seguradora transfere o risco assumido por um bem ou projeto de muito valor a outra, e faz o seguro de um seguro.

Esse cenário promissor tem atraído cada vez mais empresas estrangeiras ao país, que precisam formar seus quadros. Durante muitos anos, o mercado esteve parado, por isso não atraiu nem formou talentos, explica o diretor da consultoria Flow, Bernardo Cavour. A chegada de companhias de fora e os diversos processos de fusão e aquisição forçaram as seguradoras a inovar. De acordo com um estudo da consultoria, que realiza recrutamento de executivos da área, o número de empresas do setor dobrou entre 2008 e 2011. Segundo dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), o mercado arrecadou R$ 129 bilhões em 2011, registrando crescimento de 16% em relação ao ano anterior.

Esse momento requer líderes capazes de acompanhar o novo perfil do mercado, completamente internacionalizado. Uma solução para as companhias encontrarem esses profissionais tem sido olhar para fora- tanto do país quanto da indústria seguradora.

Na Zurich desde 1999, o paulista Peter Rebrin passou praticamente toda a carreira no exterior. Atuou no Chile, na matriz suíça e no escritório regional para a América Latina, que até 2011 ficava em Miami, nos Estados Unidos. Em julho do ano passado, ele foi chamado para reforçar o time de executivos latino-americanos no Brasil, que passou a abrigar o escritório regional pela primeira vez. Houve uma mudança radical na percepção do país, explica o atual head of bank distribution de seguros gerais para a AL. De um momento para o outro, todos os olhos se voltaram para cá.

Segundo o executivo, o aquecimento na área facilita a movimentação interna de profissionais que até então estavam se desenvolvendo em outros países, sejam eles brasileiros como Rebrin ou estrangeiros com alguma passagem pelo Brasil. Antes de voltar, o executivo percebeu, inclusive, um grande interesse por parte de jovens, de diversos países, que tinham acabado de entrar na empresa. Pessoalmente, ele considera que esse foi um ótimo momento para retornar. Além de finalmente poder morar na mesma cidade dos pais, ele está feliz por poder criar a filha adolescente em seu país de origem. Acredito que essa boa fase vai durar, afirma.

A Euler Hermes, empresa do grupo Allianz especializada em seguro de crédito, começou um ciclo de investimento de três anos em 2011, resultado de uma política da matriz de reforçar as filiais com potencial de crescimento. Com planos de dobrar o faturamento no Brasil, nos últimos dois anos, a empresa aumentou o time de 26 para 37 pessoas. O objetivo é manter o ritmo de contratações pelo menos até 2014. Dos novos funcionários, apenas três vieram do mercado de seguros. Para ajudar a preencher esse novo quadro, a empresa passou também a investir pesado em treinamento técnico na área de seguro de crédito.

A economista Luiza Rodrigues faz parte da maioria que veio de outras áreas como bancos e indústria. Ela está na Euler Hermes há um ano, onde atua como analista de crédito setorial sênior, cargo semelhante ao que exercia no banco onde trabalhava. Como também dá aulas em uma faculdade sobre commodities, ela foi escolhida para atuar em projetos relacionados ao setor. Foi uma grande mudança, diz. Luiza diz que atualmente trabalha com um foco totalmente diferente em relação ao que fazia antes, quando mal sabia o que era seguro de crédito. Um dos fatores que a atraíram para a área foi a oportunidade de ter acesso às informações. A seguradora tem uma visão de mercado que ninguém mais tem.

Luiza acabou de voltar de um workshop na Califórnia, onde teve contato com profissionais da operação americana da Euler Hermes. Cerca de 40% dos funcionários já passaram pelo treinamento nos EUA, e a ideia é que neste ano toda a empresa participe da capacitação, que inclui processos de integração e certificação antes dos profissionais terem contato com os clientes. Isso é essencial para adaptar pessoas que vieram de outras áreas, conta o CEO da empresa, Guilherme Perondi. Dessa forma, conseguimos uniformizar os processos internos e assegurar que elas entrem no setor e não saiam mais, diz. Além de ter adequado o nível de remuneração em relação a outros segmentos, Perondi diz que aposta no potencial de crescimento da empresa- que chegou a 28% no ano passado - para atrair candidatos.

Segundo o estudo da Flow, a maior dificuldade para as companhias de seguro está em encontrar profissionais que combinem características técnicas, habilidades comerciais e o idioma inglês, hoje essencial para o mercado. A formação de quem atua na área costuma ser a mesma de quem trabalha no setor financeiro- economia, engenharias, administração ou contabilidade, entre outras. Por não existirem cursos específicos para a área, as competências acabam sendo adquiridas com a experiência. Em um mercado de trabalho com número limitado de executivos, as empresas se mostram cada vez mais dispostas a treinar funcionários em casa.

Cavour explica que o modelo de recrutamento realizado pela consultoria para executivos do setor de seguros é diferenciado. Os próprios consultores se mantêm atentos ao mercado e a outros segmentos com a intenção de achar profissionais qualificados, mesmo sem uma demanda prévia de um cliente. É o que ele chama de recrutamento proativo. Quase sempre as companhias aceitam a indicação e contratam, mesmo sem ter uma vaga aberta naquele momento.

A dificuldade em encontrar líderes no mercado levou a americana Assurant, especializada em seguros massificados- mercado que engloba seguro de roubo de telefones celulares, garantia estendida e cobertura de compra parcelada-, a investir na formação de sua própria mão de obra. Além de contratar 25 pessoas, a companhia espera até 2013 aumentar a equipe de 110 para 150 funcionários. Para estar preparada para esse crescimento, criou um programa de desenvolvimento de liderança pelo qual já passaram 35 profissionais entre diretores, gerentes e gerentes seniores. Nos próximos dois anos, a empresa deve incluir aulas desenvolvidas por uma consultoria externa e vivências conduzidas com especialistas vindos da matriz americana.

O mercado segurador está carente de profissionais quando se fala de liderança, explica o diretor de RH da Assurant, Danilo Dias. Em geral, eles são líderes técnicos. Esse investimento, segundo ele, tem sido essencial para acompanhar o desenvolvimento da empresa, que dobrou o faturamento nos últimos dois anos, e espera repetir a dose até 2015.

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