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O próximo 'Buffett' poderia ser um executivo de seguros

Fonte: The Wall Street Journal


Em meados do ano passado, enquanto os mercados financeiros sentiam o golpe do inédito rebaixamento da dívida dos Estados Unidos, Ajit Jain teve uma chance de fazer o papel de Warren Buffett.

Jain, que comanda a gigantesca divisão de resseguros da Berkshire Hathaway Inc., fez uma oferta não-solicitada pela Transatlantic Holdings Inc. Esta seguradora já havia concordado com uma fusão e estava sendo assediada por outros potenciais candidatos. Mas uma queda no valor das ofertas em dinheiro e ações desses candidatos, devido à crise da dívida americana, abriu a porta para que Jain fizesse uma oferta inteiramente em dinheiro. Era um típico caso de investimento oportunista, do tipo que tornou Buffett famoso e o consagrou como um guru das finanças.

O cortejo inusual à Transatlantic — Jain submeteu sua proposta numa carta sumária que estabelecia um prazo apertado e derrubava as outras propostas — não conseguiu convencer os executivos e o conselho da seguradora, que acabou decidindo se fundir com outra firma meses depois. Uma pessoa a par das negociações disse que a Transatlantic teria preferido receber um telefonema ou uma oferta do próprio Buffett, e não estava segura sobre os planos de Jain para o seu negócio.

A oferta foi um ato inusitado para o sexagenário Jain, cuja habilidade no setor de resseguro gerou bilhões de dólares para a Berkshire Hathaway e levou Buffett a cobri-lo de elogios em muitas ocasiões. A oferta também pôs em evidência as muitas exigências que a pessoa que acabe sucedendo a Buffett como diretor-presidente da Berkshire terá pela frente, incluindo a necessidade de identificar alvos para aquisições e a capacidade de negociar e completar acordos.

A questão sobre quem será o sucessor de Buffett ganhou uma urgência maior recentemente, depois que o bilionário investidor de 81 anos foi diagnosticado com câncer de próstata. Embora Buffett não espere que o tratamento tenha um grande impacto no seu trabalho e diga que sua doença não é fatal, muitos investidores que compareceram no fim de semana à assembleia anual da companhia de Omaha, no Estado de Nebraska, querem saber mais sobre sua saúde e planos de sucessão.

Jain, que não respondeu a solicitações de comentários, há muito é visto como o líder na corrida para o cargo, dado seu conhecimento sobre risco e seu sucesso em alocar capital — apesar de seu status de favorito ser baseado inteiramente em especulações pelos "Buffettólogos" que procuram por pistas nas palavras e ações de Buffett.

Algumas pessoas que acompanham a Berkshire acreditam que o conselho administrativo pode preferir um diretor-presidente mais jovem e com um caminho mais longo pela frente, ainda mais que Buffett deve continuar à frente da empresa por outros cinco a oito anos. Jain é mais velho que alguns dos demais gerentes da Berkshire vistos como possíveis sucessores de Buffett, e não tem tanta reputação de ter feito grandes aquisições. Considerações de idade já fizeram analistas descartar outros gerentes proeminentes da Berkshire na lista de possíveis substitutos, como Tony Nicely, há muito tempo o diretor da seguradora Geico Corp. da Berkshire, que está próximo dos 70 anos.

Analistas da Dowling & Partners disseram num relatório de fevereiro que, depois de analisar mais de doze candidatos a diretor-presidente levando em conta a idade, eles se concentrariam em Matt Rose, que chefia a operadora de ferrovias Burlington Northern Santa Fe, e Greg Abel, diretor da operadora de serviços públicos MidAmerican Energy. Rose e Abel, que têm respectivamente 53 e 49 anos, já participaram de aquisições nos seus respectivos setores, disseram os analistas, acrescentando que ambos têm uma "vivência que seria útil no comando da Berkshire".

Buffett disse que um dos diretores das subsidiárias da Berkshire havia sido identificado como o novo diretor-executivo da empresa, e também procurou garantir aos acionistas que a transição na liderança seria ordenada. O sucessor vai supervisionar um extenso conglomerado com mais de 270.000 empregados e dezenas de divisões variadas, de ferrovias a fábricas, e será responsável por manter a cultura corporativa que Buffett desenvolveu por quase cinquenta anos. Talvez o mais importante, Buffett disse que o novo diretor-presidente terá que fazer grandes negociações para a Berkshire e adquirir mais empresas para um portfólio sempre em expansão. Buffett contratou separadamente dois gerentes de investimentos, Todd Combs e Ted Weschler, que assumirão a responsabilidade pelos mais de US$ 100 bilhões do portfólio de ações, títulos e outros investimentos da Berkshire, depois que ele se aposentar ou morrer. Buffett disse em fevereiro, na sua carta anual aos acionistas, que ele também espera que a dupla ajude o futuro diretor-presidente da Berkshire a fazer aquisições.

Os admiradores de Jain veem nele muitas das qualidades de Buffett. Ele é altamente respeitado por colegas e concorrentes, e apontado por muitos como uma pessoa inteligente e afável, que vai rapidamente direto ao ponto em complicados assuntos de negócios. Ele dispensa a profusão de consultores, analistas e advogados que geralmente participam das transações de seguros. Seu escritório em Stamford, no Estado de Connecticut, com um carpete gasto e uma vista por demais próxima dos trens que passam por ali, contrasta com o dinheiro que o negócio dele gera para a Berkshire todo ano. Jain é próximo a Buffett, e transformou o negócio de resseguros do bilionário de uma firma minúscula em meados dos anos 80 na gigante de hoje.

Uma série de grandes acordos de seguros que ele conseguiu ao longo dos anos trouxe dezenas de bilhões de dólares em fundos de longo prazo para a Berkshire investir — inclusive o contrato de seguro de vida do ex-campeão de boxe Mike Tyson e o seguro de promoções da PepsiCo Inc.

Assim como Buffett, Jain é visto como um negociador duro, pronto a desistir de um negócio se não puder obter o preço que deseja, como ilustrado pela forma como abordou a Transatlantic. Ele está sempre preparado para agarrar oportunidades quando seus concorrentes não são capazes de agir de imediato.

Nos últimos meses, Jain viajou repetidamente para a Tailândia para se atualizar sobre o setor de manufatura do país, depois que uma enchente severa em 2011 causou US$ 12 bilhões de prejuízos, disse Rod Fox, fundador e diretor-presidente da TigerRisk Partners, uma corretora de resseguros. Muitos seguradores e resseguradores em todo o mundo ficaram surpresos com a gravidade da enchente, e estavam procurando reduzir sua exposição a perdas futuras, vendendo menos seguros no país. Isso levou o preço do seguro às alturas e acabou atraindo Jain para tirar proveito da oportunidade.

"É um exemplo clássico de como ele pode chegar junto imediatamente", disse Fox, cujo escritório em Stamford fica alguns andares acima do de Jain. "Ele se tornou um dos maiores resseguradores naquela área praticamente do dia para a noite."

Nascido no Estado de Orissa, no leste da Índia, Jain obteve um diploma de engenharia na Índia, e trabalhou como engenheiro e vendedor para a International Business Machines Corp. da Índia, antes de estudar administração na Universidade Harvard, segundo Robert Miles, autor de "The Warren Buffett CEO", publicado em 2001. Jain entrou na Berkshire em 1986. Buffett sempre disse que ele fala com Jain todos os dias, mais do que com qualquer um das dezenas de gerentes da Berkshire subordinados a ele.

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