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Receita de longevidade

Fonte: Valor Econômico

Chegar aos cem anos é um feito e tanto num país em que a idade média das empresas não passa de dez. As estatísticas revelam que a cada ano são criados mais de 1,2 milhão de empreendimentos formais no Brasil, mas o destino da maioria só ressalta a trajetória de instituições como o Banco do Brasil e de empresas como Granado, SulAmérica Seguros, Melhoramentos e Malwee. Todas ultrapassaram a marca de um século, mas esbanjam saúde quando se trata de apostar na renovação como um dos segredos da sobrevivência. Não há um levantamento completo sobre quantas empresas centenárias existem no Brasil. Segundo o Cadastro Central de Empresas (Cempre), do IBGE, das 4,5 milhões de empresas ativas no país em 2010 apenas 0,5% tinham pelo menos 46 anos.

Empresas centenárias são, portanto, vencedoras. O levantamento mostra que quase oito de cada dez empresas não sobrevivem ao ciclo dos trinta anos. Mais: duas em dez morrem antes de completar um ano e quatro deixam o mercado apenas dois anos depois, segundo o IBGE. A diferença entre o fracasso e o sucesso nem sempre está na má gestão: esse é o motivo de apenas 10% dos negócios que fecham as portas. Além da qualidade do produto, pesam o planejamento sucessório, o crescimento estável e a busca pela inovação.

No Brasil, as empresas dificilmente resistem à transição da primeira para a segunda geração. Falta cultura de encaminhamento do processo sucessório, os investimentos em tecnologia são ínfimos e não se pensa a empresa vinte anos à frente. Empresa que não pensa, morre, diz José Eduardo Amato Balian, professor do curso de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Empresas centenárias têm em comum as questões de sucessão, crescimento e visão de futuro. A maioria faz melhoria de processos para reduzir custos sem se dar conta que isso é melhoria de olho no passado. O que importa é olhar para o que vai acontecer para antecipar as transformações, afirma Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC).

Uma das razões da longevidade da empresa é a renovação, diz Patrick de Larragoiti Lucas, presidente do Conselho de Administração da SulAmérica Seguros. Representante da quarta geração da família no comando da empresa, ele deixou a presidência executiva e assumiu a presidência do Conselho de Administração em nome de outra inovação: a profissionalização da gestão. Hoje, aos 116 anos, a SulAmérica é a maior seguradora independente do país com 6,7 milhões de clientes e faturamento de R$ 9 bilhões por ano. O leque de novos produtos acompanhou a evolução dos tempos. A SulAmérica vendia apenas seguro de vida em 1895, quando o espanhol Joaquim Sanchez Larragoiti, diretor-geral do Departamento Hispano-Americano da New York Life Insurance Company, resolveu criar a própria seguradora depois que a empresa americana decidiu encerrar as atividades no Brasil pois um decreto imperial obrigava as seguradoras estrangeiras a aplicar suas reservas no país. Nos anos 30 do século passado diversificou com o seguro de automóveis e já na década de 70 passou a operar com seguro saúde. Para aproximar-se do consumidor, a SulAmérica lançou a assistência 24 horas e a Rádio SulAmérica Trans, com informações 24 horas por dia sobre o trânsito de São Paulo. Só não mudam os nossos princípios: transparência e idoneidade, afirma Larragoiti.

De olho na inovação e também na expectativa de crescimento, a Granado investe em uma nova fábrica, de 28 mil m² e no processo de treinamento de estagiários para formar os gerentes do futuro.

O planejamento sucessório é outra preocupação do empresário Christopher Freeman, de 65 anos, dono da empresa desde 1994. No ano passado, ele levou os três filhos para um curso nos Estados Unidos sobre sucessão empresarial em família. A longevidade de uma empresa depende acima de tudo da qualidade dos produtos e da confiança do consumidor, mas planejamento sucessório, crescimento e inovação são imprescindíveis para a sobrevivência, ensina Freeman.

A Granado, fundada em 1870, ficou três gerações nas mãos da família do empreendedor português José Antonio Coxito Granado. Já tinha um século quando Carlos Granado achou que o melhor seria vendê-la porque não tinha herdeiros. A botica da antiga rua Direita, no Centro do Rio, deu lugar a uma moderna loja no mesmo endereço da via, hoje 1º de Março, e se espalha por 11 filiais com a mesma qualidade que a tornou farmácia oficial da Família Real Brasileira, título concedido por Dom Pedro II. Duas fábricas, uma no Rio e outra em Belém do Pará, onde ficava a Phebo, incorporada à Granado em 1998, produzem 10 milhões de unidades por mês. O faturamento no ano passado foi de R$ 200 milhões.

A opção pela qualidade garantiu nichos de mercado e a consolidação das marcas Granado e Phebo, diz Freeman.

A busca por inovação está no DNA da Melhoramentos, afirma também Sergio Sesiki, superintendente da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Os negócios da empresa, primeira a editar um livro infantil em cores no Brasil, no século passado, englobam editora, livraria e fibras celulósicas. Em 2011, a editora negociou novos contratos de direitos autorais com Noruega, China e Coreia do Sul e o ramo florestal fez a primeira exportação para a Europa da fibra TGW (Thermo Ground Wood).

A receita operacional líquida do conglomerado foi de R$ 124 milhões - 23% superior ao desempenho de 2010. O espírito inovador e empreendedor, conjugado aos valores de responsabilidade social e ambiental, de respeito à diversidade, de transparência e de honestidade, formam os pilares dos 121 anos de existência e sucesso da empresa, diz Sesiki.

A saga centenária da Malwee começou em 1906, quando o casal Wilhelm e Bertha Karsten Weege criou o laticínio Weege em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. O negócio depois virou também frigorífico, tinha um braço na agricultura, ganhou loja de departamentos, incorporou um engenho de arroz e só nos anos 60 enveredou pelo ramo têxtil.

Mais recentemente houve uma diversificação dos negócios para a área de energia renovável. O grupo atua em todo o país em mais de 25 mil pontos de vendas, emprega 10 mil pessoas e produz 55 milhões de peças anuais em sete fábricas. Para garantir os próximos cem anos nossa aposta é a mesma: foco na cultura da empresa e investimentos permanentes em pesquisa e renovação, diz o presidente da Malwee, Guilherme Weege, de 31 anos, que durante quatro anos foi preparado para suceder o pai, Wander.

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