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Reserva de mercado ajuda IRB a ressuscitar e dobrar participação

Fonte: Valor Econômico

Seguro. Fatia do instituto no setor saiu da minima de 22,8% em fevereiro de 2011 para 43,6%

A trajetória recente do IRB-Brasil Re, o mais tradicional ressegurador do país, é uma história de evolução na marra. Após 79 anos de monopólio, a resseguradora viu sua participação de mercado cair de 100% em 2007 para a mínima de 22,8% em fevereiro de 2011. Mas, impulsionado pela instituição da reserva de mercado para empresas locais e por uma reestruturação que buscou modernizar a companhia, o IRB conseguiu ressuscitar.

A companhia tem angariado cada vez mais espaço e fechou o ano passado com 43,6% do mercado, segundo dados compilados pela resseguradora Terra Brasis, que ajustou os dados às mudanças contábeis feitas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) em meados de 2011. A recuperação foi observada no espaço de quase um ano. Queremos chegar a até 45% do mercado brasileiro, diz Leonardo Paixão, presidente do IRB. O IRB se recusou a morrer depois da quebra do monopólio. Ressuscitamos e estamos crescendo, afirma.

O resseguro é conhecido como o seguro do seguro. Isso porque é a operação pela qual uma seguradora cede todo ou parte do risco para outra empresa, a resseguradora, que o pulveriza pelo mundo.

O IRB, no entanto, não foi o único entre os resseguradores que precisou evoluir para sobreviver em um cenário em constante mutação. Depois da efetiva abertura do mercado de resseguros, em 2008, veio a reserva de mercado para companhias locais e a restrição de ceder de forma integral riscos (e também as receitas) para a matriz estrangeira, no ano passado. Agora, a queda na taxa básica de juros, acompanhada pela competição crescente, forçam mais alterações.

As resseguradoras brasileiras vêm aprendendo as lições da seleção natural darwinista. Da mais tradicional às mais novatas, elas se viram obrigadas a melhorar a eficiência, investir em canais de venda e lançar novos produtos para sobreviver (leia mais abaixo).

O IRB, por exemplo, precisou começar a drenar sua estrutura inchada, acumulada nos anos de monopólio. A empresa diminuiu o quadro de funcionários de 545 empregados, em dezembro de 2009, para 395 em dezembro de 2011. Também ajustamos preços. Havia ramos que cobrávamos as mesmas taxas desde a década de 1970, conta Paixão.

O ressegurador ampliou os limites internos para aceitação de grandes riscos, o que o ajudou a capturar fatias maiores de apólices importantes, como as das usinas Angra 3 e Belo Monte. Não estávamos operando com toda a força que nosso capital permitia, diz Paixão.

A companhia também abriu uma operação na Argentina. Queremos conquistar uma participação relevante no país ainda neste ano, diz Paixão. Aberta no segundo semestre do ano passado, a operação argentina do IRB perdeu o período em que ocorreram as maiores renovações de resseguros do país, em julho. Mas, com as resseguradoras argentinas se reorganizando, após recente mudança na regra local, o IRB espera conseguir angariar espaço nesse mercado ainda este ano.

Todas essas mudanças se refletiram no resultado da resseguradora em 2011. O lucro do IRB foi de R$ 465,8 milhões, alta de 18,5% na comparação anual. A receita foi de R$ 2 bilhões, com 97% de crescimento na mesma comparação. O índice de retenção, que indica o quanto de faturamento ficou no IRB e o quanto repassou para outras resseguradoras, caiu de 72% em 2010 para 58% em 2011, pois algumas apólices do ano eram grandes demais até para o IRB reter sozinho.

Parte desse vultuoso crescimento de receita é explicado pela mudança de ambiente competitivo, com a instituição de 40% de reserva de mercado para as resseguradoras locais (que têm no mínimo R$ 60 milhões de capital no país), que passou a valer de fato em março do ano passado. Com a medida, as resseguradoras admitidas (com sede no exterior, mas com escritório de representação no país, com capital mínimo de US$ 5 milhões, que não precisa ser trazido para o Brasil) e eventuais (precisam apenas de cadastro junto à Susep para atuar no país) só podem acessar 60% de todo o mercado.

Para poderem ter acesso a uma fatia maior de negócios, várias empresas abriram operações locais. Tanto que o número de resseguradoras locais aumentou de seis para dez após a medida, número que vai subir para 12 em breve, pois Terra Brasis e AGCS (do grupo Allianz) aguardam autorização da Susep para começar a operar.

Muitas seguradoras que operavam com resseguradoras admitidas ou eventuais por imposição da matriz tiveram que passar a operar como locais, após a regra, conta Angelo Colombo, atual diretor de grandes riscos da Allianz Seguros. O executivo está de mudança, pois vai comandar a operação local da AGCS, que terá sede no Rio de Janeiro.

Mas não foi só o IRB que se beneficiou da reserva de mercado. A Ace Re, por exemplo, cresceu até mais do que poderia. A receita saltou 187,8% em 2011, para R$ 164,3 milhões. Foi tanto que desenquadrou a companhia das regras de solvência - que limitam a alavancagem das resseguradoras em relação a seus prêmios. O índice fechou o ano negativo em 5%, ante 21% positivo de 2010. A matriz aportou R$ 24,8 milhões para corrigir a situação.

A Munich Re também sentiu impactos positivos da reserva. Passamos a receber ofertas que não receberíamos anteriormente, diz Adriana Seemann, chefe de relações com clientes. A Munich cresceu 56,8% em receita, para R$ 500,7 milhões, em 2011.

As grandes obras ajudaram o mercado de resseguros a fechar 2011 com R$ 5,9 bilhões em faturamento, alta de 31,8% na comparação com o ano anterior, segundo dados da Terra Brasis. O crescimento de resseguros impressiona se comparado ao avanço do mercado segurador. Em 2011, o mercado de seguros (excluindo VGBL e DPVAT) movimentou R$ 75,1 bilhões, alta de 17% na comparação anual.

Mas este ano pode ser crítico para as resseguradoras, avalia um executivo de companhia local do setor que pediu anonimato. O raciocínio é que grandes indenizações, como as das usinas de Jirau e Belo Monte, podem apertar resultados e mudar a maré do mercado.

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