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Competição ainda pressiona seguro de carro

Fonte Valor Econômico

Entrada de novos concorrentes e aumento de gastos com indenizações limitam reajustes de preços

Para as seguradoras que atuam com apólices de automóveis, 2012 começou com promessas de aumentos nos preços de seguros, para compensar o resultado fraco da carteira no ano anterior. Passada a primeira metade do ano, porém, há um consenso entre analistas que, embora os preços tenham subido, o incremento ficou abaixo do que se esperava inicialmente.

Tudo porque um fator recusou-se a se comportar como esperado, a concorrência. A expectativa era que a disputa entre as seguradoras se arrefecesse neste ano, após uma guerra de preços em 2011 que corroeu as margens das empresas. Mas a entrada de novos participantes internacionais no segmento, como Chartis (antiga AIG), Generali e Ace, manteve a competitividade em alta.

Apesar de terem feito ajustes nos preços, seguradoras como Allianz e Zurich seguem com fome de ganhar mercado. Para o segundo semestre, uma maior agressividade do grupo Banco do Brasil e Mapfre pode intensificar esse cenário.

Para o segundo semestre, o retorno de um concorrente significativo ao mercado de automóveis pode reforçar ainda mais a competição. O grupo segurador BB-Mapfre, terceira maior seguradora de automóveis do país, promete intensificar os esforços no segmento na segunda metade do ano, com a integração entre as duas casas totalmente concluída, disse Jabis Alexandre, diretor de automóveis da seguradora, em entrevista concedida em maio.

Se o mercado estivesse menos competitivo, teríamos feito um aumento maior de preço, afirma Marcelo Picanço, diretor financeiro e de relações com investidores da Porto Seguro, maior seguradora no ramo de automóveis, com cerca de um quarto do mercado. Ele diz que a seguradora já fez a maior parte dos ajustes que planejava para o ano no segundo trimestre. O impacto desse ajuste no resultado da seguradora, porém, deve ser sentido apenas a partir da segunda metade do ano.

Sempre tem concorrentes que estão fora da curva, afirma Picanço. Mas acho que há uma certa amnésia no mercado, entre um ciclo de competição e o próximo. O cliente ganho pelo preço mais baixo é o primeiro que vai embora.

Para analistas, mesmo que os resultados das seguradoras melhorem no fim do ano, o balanço é que 2012 será uma ano ruim para os papéis das duas empresas do segmento listadas na Bovespa, Porto Seguro e SulAmérica. Há pouco espaço para melhora da lucrativadade [das seguradoras] em 2012, conclui a equipe de analistas do Goldman Sachs, em relatório.

Os analistas do Goldman esperavam maior sensibilidade nos preços por parte das seguradoras neste ano, o que não aconteceu, avaliam. Preços (particularmente no seguro de automóveis), não aumentaram consistentemente e, na verdade, caíram no primeiro trimestre.

A competição segue feroz e investidores ainda não têm evidência de um ponto de virada. Mas com o acentuado declínio nas taxas de juros, acreditamos que os maiores participantes estão inclinados a perseguir estratégias de melhorias de margens nos próximos 12-18 meses, avaliam os analistas do Barclay's em relatório. Eles ponderam, porém, se os investidores darão o benefício da dúvida, esperando um ciclo melhor de resultado operacional.

Acredito que o investidor que compra papéis de seguradoras tem uma percepção de longo prazo, afirma Eduardo Dal Ri, diretor de automóveis da SulAmérica. Um aumento de preços feito hoje só se reflete, de fato, nos resultados do ano que vem.

Na visão dele, o maior apetite competitivo de algumas seguradoras internacionais não freia, necessariamente, o aumento de preços. A competição hoje acontece em um patamar de preço mais alto, diz. Ele estima que o mercado como um todo tenha aumentado preços entre 7,5% e 15% desde o começo do ano.

Se os preços não subiram dentro do esperado, não foi por falta de pressões nos custos. Além dos fatores já conhecidos em 2011 (recomposição de margens e quedas nas receitas financeiras com corte da taxa básica de juros), o semestre trouxe uma leva adicional de pressões para seguradoras. Desde o começo do ano, um pico nos roubos de carros em grandes metrópoles tem elevado os gastos com indenizações.

Junto com isso, em abril, a Superintendência de Seguros Privados (Susep), reduziu o valor máximo que as seguradoras podem cobrar dos clientes como custo de emissão da apólice. O teto, que havia sido ampliado para R$ 100 em fevereiro de 2010, voltou ao patamar original de R$ 60 por apólice. Na Porto Seguro, as receitas com emissão de apólice equivaleram a 26% do lucro líquido da companhia no primeiro trimestre, segundo cálculo do Barclays. A SulAmérica não informa quanto ganha com receita de emissão de apólice.

As duas seguradoras afirmam ter compensado essa perda com preços mais caros. Mas como as receitas com seguros são contabilizadas durante toda vigência da apólice, e as receitas com emissão de apólices são contadas imediatamente, o descasamento trará perdas em um prazo mais curto.

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