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Swiss Re quer 15% do resseguro no Brasil

Fonte: Valor Econômico

Seguros Companhia, vice-líder mundial no setor, pretende ganhar mercado sem abrir mão da lucratividade

Carolina Oms e Thais Folego

A Swiss Re não será a primeira ou a última empresa europeia a priorizar o crescimento nos países emergentes, mas poucos executivos podem exemplificar seu interesse pelo Brasil como o atual presidente-executivo da segunda maior resseguradora do mundo, Michel Liès. Por duas vezes, as barreiras comerciais impostas pelas autoridades brasileiras obrigaram esse matemático nascido em Luxemburgo a comandar operações no Brasil.

Em perfeito português, Liès contou que morou em 1976 em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, quando o governo brasileiro insistiu que as coisas consumidas no Brasil precisavam ser produzidas aqui. Na época, ele era diretor financeiro de uma empresa europeia de fornos para cerâmica.

De volta à Europa, o executivo iniciou sua carreira na Swiss Re, em 1978, de onde não saiu mais. Mais de 30 anos depois tomou posse, em fevereiro deste ano, como presidente mundial da companhia. Em entrevista ao Valor, Liès reiterou seu interesse pelo país, mesmo depois que uma mudança regulatória no apagar das luzes de 2010 obrigou a empresa a mudar os planos para a operação no Brasil e a aportar US$ 74 milhões de capital na criação de uma resseguradora local - modalidade que tem reserva de mercado para 40% de todos os riscos ressegurados no país.

Apesar da mudança da linha do gol no meio do jogo de futebol, como disse, Liès reitera que o Brasil é um mercado suficientemente importante para que a companhia adaptasse sua estratégia. Os emergentes representam aproximadamente 10% dos nossos resultados globais e queremos dobrar essa fatia até 2020. E quando se fala de emergentes, se fala de Brasil como se fala de Índia e China. O país ganhou muita credibilidade nos últimos quinze anos.

Antes da imposição de reserva de mercado para as companhias locais (que têm capital mínimo de R$ 60 milhões), a empresa atuava no Brasil como resseguradora admitida, que tem exigência de capital de US$ 5 milhões, modalidade em que ficaria de fora de boa parte dos negócios.

Como resseguradora local no Brasil, a Swiss Re espera obter, no mínimo, a mesma participação de mercado que possui mundialmente - atingindo entre 12% a 15% no mercado de resseguro do segmento não-vida e 20% em resseguro de vida.

Em 2011, como resseguradora admitida, a Swiss Re emitiu US$ 200 milhões em prêmios de resseguro. Seu principal concorrente no mundo, a Munich Re, faturou R$ 501 milhões no Brasil no ano passado. O mercado de resseguro brasileiro teve receita de R$ 5,349 bilhões em 2011, um crescimento de 31% sobre o ano anterior, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) reajustados pela Terra Brasis (houve mudança contábil nos números da Susep no ano passado).

O interesse da Swiss Re no Brasil também contempla o seguro corporativo. A companhia comprou em 2010 o controle da UBF, seguradora especializada em seguro garantia (que cobre a entrega de obras e serviços conforme o contrato).

O segmento de garantia viu a concorrência crescer exponencialmente nos últimos anos, o que pressionou os preços para baixo. O presidente da Swiss Re disse, no entanto, que a empresa não vai abrir mão da lucratividade para ganhar mercado. Não somos escravos do volume de prêmios. Nos últimos cinco anos, fomos capazes de manter o nível de rentabilidade para manter o nível de resultados.

Liès considera, se necessário, reduzir a participação até que se opere uma limpeza no mercado. E alerta que esse momento pode não estar muito distante: Os preços praticados estão chegando a níveis dificilmente sustentáveis.

Entre os objetivos desenhados para o Brasil, Liès não vê necessidade de aquisição ou de novo aporte de capital na área de resseguros. Em seguro corporativo, o executivo pretende ampliar a gama de produtos oferecidos pela seguradora, que está capitalizada para dobrar seus prêmios nos próximos dois anos, avalia. Recentemente, a seguradora estreou em seguro de engenharia, transportes, seguro patrimonial, responsabilidade civil e energia.

A Swiss Re também tem se aproximado do governo brasileiro para oferecer soluções de seguros para desastres naturais. Liès conta que a resseguradora lançou estudos sobre inundações no Brasil e como o seguro pode auxiliar no desenvolvimento da agricultura no país.

O México, por exemplo, decidiu em 2006 adquirir cobertura para riscos de catástrofes climáticas com recursos de seu fundo para desastres. Com isso, o país implementou soluções para se proteger dos custos econômicos trazidos por esses eventos. É importante que os ministros da Fazenda conheçam as alternativas de seguros para que possam incluí-las nos projetos orçamentários, disse Liès, sobre conversas com o governo do Rio de Janeiro.

No cenário mundial, Liès vê como um dos principais desafios para o setor as baixas taxas de juros no mundo e as mudanças climáticas, que têm aumentado a incidência de catástrofes naturais. Uma taxa de juro muito mais baixa que a inflação diminui o ativo dos clientes do seguro de vida e obriga as seguradoras a terem um rentabilidade técnica. Ou seja, as empresas não podem mais compensar um déficit operacional com o resultado financeiro.

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