Um voo sobre o resseguro
Fonte: Folha de São Paulo
Com medidas adotadas pelo governo federal em 2010, IRB conseguiu elevar participação no mercado, de 26% para 43% do total de prêmios de resseguros em 2011
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
De acordo com dados recentemente publicados no "Relatório do Mercado
Brasileiro de Resseguros", da Terra Brasis Resseguros, a situação das
resseguradoras locais em operação no Brasil é bastante confortável,
tanto faz a ótica sob a qual seja analisada.
Se as medidas adotadas pelo governo no final de 2010 e início de 2011 para tentar reverter a queda de participação do IRB Brasil Reno mercado tinham boa chance de ser um tiro pela culatra, na prática não foi isso que aconteceu.
Em primeiro lugar, após a implementação das medidas alterando as regras do jogo, o IRB
conseguiu reverter completamente sua situação, passando de uma
participação em queda, de 26% em 2010, para líder absoluto do mercado,
com 43% do total dos prêmios de resseguros em 2011.
Além disso, ao que parece, não houve, pelo menos de forma generalizada,
um aumento significativo no preço do resseguro brasileiro. Ou seja, os seguros
de todos os tipos comercializados no País estão dentro da média, não
havendo que se falar na possível elevação dos custos e sua transferência
para o preço do seguro por causa das novas regras de cessão de resseguro para o exterior.
Não cabe aqui entrar nos detalhes do que ocorreu. O importante é que o
cenário pessimista, que apontava uma melancólica decadência para o
antigo ressegurador monopolista nacional, não só não se concretizou,
como o IRB
deu a volta por cima, recuperando rapidamente o terreno perdido e se
consolidando como o principal ressegurador em operação no Brasil,
respondendo por quase 2/3 do faturamento total das resseguradoras
locais.
Quer dizer: Os que imaginavam que o governo, ao alterar as regras
durante o jogo, havia agido de forma equivocada - entre eles eu - na
prática, se enganaram, já que o pragmatismo dos grandes resseguradores
internacionais prevaleceu sobre todas as questões éticas ou de
credibilidade do País que envolveram o tema.
No novo cenário, os resseguradores em operação no Brasil estão numa
situação bastante confortável, com as resseguradoras locais trabalhando
com níveis de retenção acima do legalmente exigido. Ou seja, elas têm
capacidade ociosa, o que lhes permitem assumir mais riscos do que os que
compulsoriamente vão sendo colocados nelas.
De acordo com a publicação, uma forma de aferir a capacidade de
retenção das resseguradoras locais seria aplicar a equação que determina
que o prêmio anual de uma resseguradora não deve ultrapassar duas vezes
o seu patrimônio líquido. Com base nisso, o teto para aceitação de
resseguros do mercado local seria duas vezes a soma do patrimônio
combinado das resseguradoras locais. O resultado da conta mostra que,
para uma retenção próxima de R$ 2 bilhões, no fim de 2011, as
resseguradoras locais teriam capacidade para reter algo próximo de R$
7,5 bilhões, ou seja, há margem de sobra para que essas empresas
expandam seus negócios apenas com a utilização de suas respectivas
estruturas atuais.
Além disso, o balanço consolidado das resseguradoras locais em 2011
aponta um lucro líquido consolidado de 537 milhões de reais, ou seja,
14,6% sobre o patrimônio líquido, o que não pode ser desprezado. A contrapartida para esse cenário altamente positivo é que vários
riscos estão sem cobertura de seguro. E não são apenas riscos como as
enchentes ou os danos causados pela água das tempestades de verão, que
sempre tiveram colocação extremamente difícil.
Diversas empresas de setores que trabalham com madeira, espumas,
produtos químicos, supermercados, etc., não conseguem contratar sequer
os seus seguros de incêndio, obrigatórios por lei.
Segundo fontes confiáveis, algumas resseguradoras colocam restrições
para aceitação de mais de 60 tipos de atividades em seus contratos. O
curioso é que se no passado, quando havia monopólio, o IRB
aceitava esses riscos. Atualmente, parece que até ele está propenso a
deixá-los de lado, ainda que sabendo, por experiência própria, que é
possível ganhar dinheiro com eles.
É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA RÁDIO ESTADÃO ESPN
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