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Quadro 'Samba', de Di Cavalcanti, destruído em incêndio, valia R$ 50 milhões

Fonte: O Globo

RIO - O marchand romeno Jean Boghici, de 84 anos, um dos maiores colecionadores de arte do Brasil, disse na terça-feira, sem citar valores, que os quadros “Samba” (1925), de Di Cavalcanti, e "Floresta Tropical” (1938), de Guignard, foram as principais pinturas que se perderam no incêndio que atingiu seu apartamento no edifício da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, na noite de segunda-feira. Ainda segundo o marchand, um quadro de Torres García (uruguaio) foi perdido, mas o outro salvo — ambos comprados por Borghici com o dinheiro recebido do seguro de seis telas da coleção do pintor queimadas no incêndio do MAM, em 1978.

Apesar da tragédia da segunda-feira, muitas obras foram salvas. Entre elas estão três quadros de Tarsila do Amaral: “O sono”, “Sol poente” e “Pont neuf”, além do móbile de Alexander Calder que ficava na sala. Outra estrela da coleção, uma tela de Lucio Fontana, precisará de reparos. Há ainda pinturas de Antonio Dias danificadas, além de trabalhos de Vicente do Rêgo Monteiro. Boghici garantiu que a exposição do Museu de Arte do Rio (MAR), na Zona Portuária, programada para novembro, está mantida.

O risco que as paredes escondem

“Samba”, de 1925, adquirido por Boghici nos anos 1960 numa loja de móveis da Rua Barata Ribeiro, tem valor estimado em R$ 50 milhões, segundo especialistas. Era a obra mais cara da coleção do romeno, que chegou ao Brasil em 1949. O valor de toda a coleção de Boghici, porém, é difícil de se calcular.

— É uma coleção de US$ 100 milhões, sei lá. Eu não tenho ideia. É uma coleção de maravilhas — disse o marchand Afonso Costa ao telejornal RJTV, da TV Globo.

Para o marchand Jones Bergamin, da Bolsa de Artes do Rio, “Samba” tem, para a arte brasileira, a importância de “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, hoje na coleção do argentino Eduardo Constantini. Amigos próximos de Boghici dizem que as obras tinham seguro. A marchand Soraia Cals diz que, provavelmente, a seguradora é estrangeira, já que, “não há no Brasil seguradoras que cubram obras de arte com tal importância.”

Abalado, Boghici e a sua mulher, a francesa Geneviève, passaram a manhã de terça-feira acompanhando o trabalho da perícia na cobertura duplex que pegou fogo. Apesar da perda das obras, o marchand lamentou a morte da sua gata.

— O meu sentimento é de raiva e vingança contra o destino, vou fazer uma bela exposição. Estou muito chateado e com vontade chorar. Não por causa do quadro, mas pela minha gata que morreu. Estou muito traumatizado pela perda da minha gata Pretinha. Ela dormia do meu lado — disse, emocionado, o marchand.

De acordo com o organizador da exposição no Museu de Arte do Rio, Leonel Kaz, que esteve no apartamento incendiado, Boghici colecionou um rico acervo ao longo de mais de 50 anos. Segundo Kaz, muitas obras poderão ser recuperadas no prazo de 90 a cem dias, ainda em tempo para a exposição.

— Ele formou uma coleção extraordinária. Muita coisa seria mostrada pela primeira vez na inauguração do museu. As peças que foram perdidas serão homenageadas. Temos tudo documentado. Outras serão trocadas. Um Antonio Dias será substituído por um Antonio Dias. Ele tem mais de uma centena de obras, e muitas farão parte da exposição.

Kaz também falou sobre a força de Boghici que, apesar do incêndio, não desistiu de exibir as obras de arte no MAR:

— As obras de arte que ele têm deram força a ele, porque são extraordinariamente belas. As que se perderam e as que permaneceram. Nesse diálogo, entre a obra de arte e ele, é que se criou a força dele.

Segundo a Polícia Civil, o laudo sobre o incêndio deverá ficar pronto em 15 dias. A polícia informou ainda que a filha do marchand já prestou depoimento. O delegado Márcio Mendonça, titular da 12ª (Copacabana), que investiga o caso, acredita que o incêndio possa ter sido causado por um curto-circuito no ar-condicionado de um dos quartos da cobertura de Boghici.

O incêndio, que começou por volta das 18h de anteontem foi controlado em cerca de duas horas. De acordo com a síndica do edifício, Regina Lobato Formento, a Defesa Civil liberou o edifício na noite de segunda-feira mesmo. Na manhã de ontem, apenas os elevadores não estavam funcionando.

Moradora de Copacabana, a operadora de marketing Karina Duque Estrada, de 26 anos, contou que passava pelo local do incêndio quando ouviu um estrondo. De acordo com ela, imediatamente o fogo começou, quebrando janelas e vidros do apartamento:

— O ar-condicionado caiu na calçada. Foi muito assustador. Via as pessoas saindo do prédio com cães e gatos.

O subsecretário de Defesa Civil municipal, Márcio Motta, disse ontem que o prédio não sofreu dano estrutural. No entanto, no caso do imóvel incendiado, o rebaixamento de gesso do teto desabou e a parte elétrica foi comprometida. O apartamento está interditado pelo órgão por falta de condição de habitação. Na manhã de terça-feira, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e homens do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Municipal estiveram no apartamento .

Segundo o administrador Pedro Paulo Martins, de 60 anos, morador do 11º andar do edifício, os peritos do ICCE recolheram fiação para análise e avaliaram o ar-condicionado do duplex do marchand. O apartamento sofreu uma outra avaliação particular feita por funcionários da Porto Seguro, que fez o seguro residencial.

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