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Inadimplência atinge seguro de crédito

Fonte Valor Econômico

O aumento da inadimplência da pessoa física não afetou apenas os bancos. Desde junho, preocupadas com esse movimento, empresas intensificaram a procura por apólices de seguro das operações de crédito, principalmente aquelas que vendem produtos para setores ligados ao varejo. Este tipo de seguro cobre o risco de inadimplência entre duas empresas. Indenizando, por exemplo, o fornecedor que não recebeu o valor devido de um lojista.

Setores como os de tintas, material elétrico e de móveis têm sido os mais afetados, segundo Marcele Lemos, presidente da Coface, líder em seguro de crédito no Brasil. "Essas empresas costumam vender a prazo para as lojas, e o comércio tem sido afetado pela inadimplência da pessoa física, que começa na loja e chega na indústria", explica.

Esse movimento, somado à desaceleração das vendas, tem trazido consequência para as carteiras das seguradoras, com o aumento na frequência de atrasos nos pagamentos e, consequentemente, do número de indenizações pagas. Isso aumentou o índice de sinistralidade do segmento - relação entre receita de prêmios de seguros e o pagamento de indenizações. Mas ainda não a níveis preocupantes, dizem as seguradoras.

A desaceleração da economia adiou as compras do que não é item de primeira necessidade, fazendo crescer os estoques dos lojistas, o que também causou atrasos nos pagamentos aos fornecedores. Os setores ligados à construção e à tecnologia foram os mais afetados pela desaceleração, de acordo com o presidente da Comissão de Crédito e Garantia da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), Rogério Vergara, que é diretor do grupo BB Mapfre.

Na Coface, onde a sinistralidade no segmento ficou em 33% no primeiro semestre, a atenção está voltada às empresas ligadas ao consumo. "Começamos a observar os setores diretamente ligados à pessoa física para mapear e ver o que pode acontecer", conta Marcele.

A alta da inadimplência é um risco, mas também um impulso ao seguro de crédito. Embora avalie que a taxa de sinistralidade deve chegar a 60% até o fim deste ano, Vergara acredita que esse nível é benéfico para o setor. No primeiro semestre essa taxa fechou a 34%, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). "Sem inadimplência, o empresário acha que não precisa do seguro", diz Vergara. No entanto, ele ressalva que os números da Susep são distorcidos por dados de seguro de crédito de pessoa física. Excluindo-os, a sinistralidade no primeiro semestre é de 28%, segundo Vergara.

O aumento da inadimplência fez a demanda por seguro de crédito doméstico na Coface crescer 20% entre junho e agosto. "As empresas também estão preocupadas, buscando mais proteção", diz Marcele. O crescimento da procura é confirmado por corretoras.

Os atuais índices de sinistralidade não devem fazer com que as seguradoras interrompam a venda do seguro, como aconteceu depois da crise financeira de 2008, quando chegou a alarmantes 140% - no primeiro semestre daquele ano, era de 51%.

Um dos pioneiros do seguro de crédito no país, Eric Brabenec, sócio-diretor da Geco Serviços Financeiros, não acredita que esse cenário vá se repetir. Ele conta que, na época, muitas empresas ficaram "frustradas" com a queda na oferta do seguro, que ele qualifica como "um pouco brutal". Mas desta vez ele espera um mercado "com mais inteligência, que não vai simplesmente cortar todos os limites de crédito".

As seguradoras dizem que não vão frear as vendas. "Até novembro, o mercado estará com 'a mão na torneira', de olho na sinistralidade, ajustando os preços", afirma Vergara, da CNSeg. "Durante a crise, houve limpeza na carteira, mas voltamos a dar mais limite de crédito e a buscar um perfil menos conservador", afirma Marcele, da Coface.

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