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Mais pimenta na previdência

Fonte Valor Econômico

O investidor ainda resiste a mudar o paladar, mas o cardápio dos fundos de previdência já ganha páginas mais apimentadas. As carteiras sem renda variável concentravam em setembro 85% do patrimônio em previdência aberta, segundo pesquisa das consultorias NetQuant e Towers Watson. A promessa de retorno desses portfólios, porém, cai mês a mês desde agosto do ano passado, à medida que o governo talhava a taxa básica de juros (Selic). As seguradoras apostam que, em algum momento, a ficha vai cair, desencadeando uma migração para aplicações mais arriscadas. E querem estar preparadas para isso. Pelo menos cinco delas lançaram fundos moderados e arrojados neste ano ou criaram ferramentas para ajudar o aplicador a se movimentar.

As prateleiras passaram a oferecer carteiras com uma parcela maior alocada em ações, explorando mais o limite de 49% em renda variável. Em algumas delas, os gestores conquistaram mais liberdade para alocar, sem a obrigação de se prender a índices. E, na onda de um ano em que os títulos públicos do tipo NTN-B brilharam com a queda dos juros, as seguradoras apostaram alto nos fundos de renda fixa atrelados a índices de preços. Com taxa prefixada, esses papéis são mais voláteis do que os que acompanham a variação do confortável Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI).

"Estamos buscando um diferencial que o cliente vai ter que aprender a valorizar em um mundo de taxas de juros mais apertadas", diz Renato Terzi, vice-presidente de pessoas e previdência da SulAmérica. A seguradora lança neste mês sua opção mais arrojada - uma carteira com 49% em ações sem vínculo com índices da bolsa. Também incluiu no portfólio um fundo de renda fixa moderado, com pelo menos 95% em NTN-Bs. É uma aposta no futuro, já que a seguradora ainda não percebe uma forte migração para o risco. O maior fundo da casa, com patrimônio de R$ 470 milhões, investe tudo em ativos atrelados à Selic.

Na SulAmérica, os dois novos produtos se destinam a clientes de alta renda, com aplicação inicial mínima de R$ 200 mil. Esse público notará primeiro que o retorno encolheu, acredita Terzi. "Espero que o tempo traga a oportunidade de abrir o fundo para todo mundo", afirma.

Já a Caixa Seguros acrescentou ao portfólio de previdência, em setembro, opções com 49% em renda variável para aportes iniciais a partir de R$ 1 mil. Antes, a modalidade só estava disponível para quem aplicava mais de R$ 100 mil. Foi também uma aposta no futuro. "Não temos sentido aumento no volume de aplicações, até em função do próprio momento da bolsa", diz Juvêncio Braga, diretor de vida e previdência da seguradora.

Outro lançamento também em setembro, de carteiras atreladas a índices de preços, atendeu ao crescimento da demanda. "A indústria ainda está muito ligada ao CDI, mas nós percebemos clientes buscando proteção contra a inflação", afirma Braga. Só é preciso abandonar o costume de acompanhar a cota diária, diz ele. "Obviamente, se você compra fundos com papéis mais longos, a variação não é tão comportada como a de um DI."

Também na renda fixa, a seguradora tem ampliado a presença de crédito privado nas carteiras, em busca de maiores prêmios. Braga afirma não ter encontrado demanda ainda para um fundo específico de crédito privado, ou seja, que aloque mais de 50% dos recursos nesse tipo de título. Mas já há quem busque clientes com essas carteiras. A seguradora do Itaú tem desde o início do ano um fundo que aplica em debêntures de empresas classificadas como de baixo risco.

No Itaú, 70% do patrimônio de planos individuais está alocado em produtos tradicionais, como renda fixa de pouca volatilidade e renda variável indexada ao Ibovespa. Mas a seguradora já sente um movimento para o risco. De janeiro a agosto, enquanto o volume aplicado nesses produtos cresceu 9%, o valor investido em fundos chamados de diferenciados - como os que alocam recursos em crédito privado e títulos atrelados a índices de preços - cresceu 43%.

"Sentimos o interesse, a preocupação, mas ainda muita timidez do investidor", diz Sergio Nogueira, da Icatu. A inclinação para mais volatilidade se concentra nos fundos atrelados a índices de preços. Mesmo assim, a casa lança este mês um produto que aposta em crédito privado, juro e moeda, gerido pelo J.P. Morgan.

As seguradoras que não criaram fundos recentemente também tentam oferecer alguma novidade para o investidor. Na Porto Seguro, a decisão foi dar flexibilidade de investimento aos participantes. Desde maio, a empresa vende apenas os planos "multifundos". Nessa categoria, o cliente pode alterar os portfólios nos quais vai aplicar suas reservas, optando por fundos com ou sem renda variável. As mudanças são feitas pelo próprio investidor no site da companhia. O participante que não tem um "multifundos" também pode fazer a migração de seus investimentos. Para isso, no entanto, precisa entrar em contato com a empresa, solicitar a transferência e esperar alguns dias para ver sua nova carteira.

A mudança na estratégia da Porto foi feita de olho no futuro. Para Silas Kasahaya, superintendente de vida e previdência da seguradora, a resposta dos investidores virá ao longo do tempo. "A questão agora é ver se o mercado [as empresas de previdência privada] tem capacidade de oferecer bons retornos, trabalhando muito bem o risco", afirma o executivo.

Se depender da oferta e da flexibilidade do cardápio da previdência, a mudança virá logo. Diante dos novos temperos, fica no "prato feito" só quem quiser.

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