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Os planos de Edson Bueno depois dos US$ 4,9 bi

Fonte Valor Econômico

Edson Bueno vendeu o controle da Amil à United há um mês: "Eu tenho hospitais na pessoa física e posso trabalhar com eles"

Os US$ 4,9 bilhões que Edson Bueno e sua ex mulher, Dulce Pugliese, receberam pela venda da Amil à americana United Health já estão no Brasil. Ingressaram na semana passada no Credit Suisse e foram parar nas mãos de Luis Stuhlberger, um dos gestores mais admirados do país.

Segundo Bueno, presidente da Amil, Stuhlberger dividiu os recursos e os riscos em produtos do Credit, do Bradesco e do BTG Pactual. "Todo mundo quer almoçar comigo. Mas o dinheiro foi dividido em três partes. Quem não "performar" bem, eu tiro", diz Bueno, sorrindo e mostrando o lado pragmático de um dos empresários de maior sucesso no Brasil.

"Todo dinheiro que eu tive, sempre apliquei. Nunca fiquei com dinheiro no bolso. Agora esse dinheiro é muito grande. Tenho que dar uma respirada para ver as oportunidades. Cada tostão nosso, eu sei fazer a conta", diz Bueno.

Dinheiro no bolso não significa fim de trabalho. Nem pouco trabalho. O próximo ano, pelo menos, será usado para integrar a Amil e a United. E Bueno diz que precisa se preparar para ser conselheiro da United. "Lá só tem craque. Das 140 aquisições que fizeram, pela primeira vez uma pessoa da empresa [comprada] vai para o conselho".

"Eu tenho hospitais na pessoa física e posso trabalhar com eles em atividades complementares às da United", diz. Ou seja, qualquer iniciativa é para criar sinergias, sem oferecer competição. Sete hospitais ficaram com Bueno: dois em São Paulo, dois em Brasília e três no Rio. "Caso encontre um lugar em que acredite que vale a pena fazer um investimento e a United achar que não vale, eu posso fazer pessoalmente e, se der certo, a United depois poderá vender mais planos nessa região", diz o empresário.

Bueno quer investir, com recursos próprios, na criação de centros de excelência em medicina no país. "Minha mulher, Solange, teve um aneurisma. Foi operada nos Estados Unidos. Temos ótimos cirurgiões, mas um médico uruguaio [Fernando Viñuela], radicado na Califórnia, utilizou uma técnica única. Ele é uruguaio e por que não pode vir para o Brasil?" indaga.

O que o mercado quer saber agora é o que o acordo fechado com a United representará para a Dasa, rede de laboratórios em que Bueno e sua ex-mulher têm 12% e 11,56%, respectivamente. São os maiores acionistas individuais. A compra da Amil pela United não incluiu a Dasa. "O que eu posso fazer na Dasa é contribuir com ideias e apenas depois da aprovação do negócio pelo Cade", diz Bueno, referindo-se ao órgão de defesa da concorrência.

"Mas para aumentar a minha participação [na Dasa] eu teria de lançar uma oferta pela empresa inteira", afirma Bueno. Os recursos recebidos da United seriam suficientes para que o casal, pelo valor de hoje da Dasa na bolsa, de R$ 4,25 bilhões, comprasse toda a empresa.

A venda da Amil também deverá contribuir para clarear o cenário que levou o Cade a impor restrições prévias à aprovação da operação. "Acredito que sim, né?" Ele lembra que o principal ponto de discussão do Cade envolvia a Medicina Diagnóstico e Serviços (Medise), vendida pela Amil dias antes do negócio com a United.

Bueno tem algo raro: separou-se da primeira mulher - "Eu não era um bom marido" - e selou a paz nos negócios

A ansiedade do mercado para saber se Bueno poderia ser mais presente na Dasa é uma cena importante daquele que pode ser um capítulo final do relacionamento do empresário com o mercado. Nem sempre o mercado esteve do lado de Bueno como agora. Quando a Amil chegou à bolsa em 2007, causou má impressão aos investidores. Aliás, como é praticamente tradição em companhias familiares, bens como casas de praia ou quadra de tênis estavam dentro da Amil.

"Todos os funcionários usavam. A festa de fim de ano dos médicos é na casa de Búzios. A quadra de tênis, os executivos usam. Os bancos mandaram tirar ds empresa, assim como os imóveis. Tudo passou para o meu nome e os funcionários continuaram usando", afirma Bueno.

"Eu não sabia o que era ser uma companhia aberta. Mas fui arrumando tudo conforme os bancos e o mercado foram falando", observa o empresário.

Quando o negócio com a United foi anunciado, executivos da americana deixaram claro que não compravam a Amil, mas, sim, o empresário Edson Bueno, por sua capacidade de desenvolver o segmento no país.

Foram três anos de conversas. Em princípio, Bueno só queria vender 20% da companhia. Seu perfil prático e objetivo fizeram com que ele mesmo passasse a considerar adequado a venda do controle da Amil.

"A United queria o negócio porque quando entra em um país busca a maior empresa do segmento", diz Bueno. "Mas se não tivesse fechado conosco, fecharia com outra empresa e nossa vida ficaria mais difícil", afirma o presidente da Amil.

A praticidade, que aparece mais uma vez, não significa negociações fáceis. Poucos meses antes de fechar a transação, as conversas pararam. A empresa americana queria pagar por ação da Amil um valor entre R$ 23 e R$ 25, próximo da cotação na bolsa. Bueno pedia R$ 40 por ação. "A United enxergou nosso valor e fechamos em R$ 35", diz.

A decisão de abrir capital seguiu lógica semelhante. "Um ano antes, após conversar com meu amigo José Isaac Peres [da companhia de shopping centers Muktipla], que tinha ido à bolsa eu pensei. Meu setor era - e é - muito fragmentado. Percebi que se eu não me capitalizasse e liderasse uma consolidação, seria comprado", diz.

Logo entendeu que o mercado pagava um preço maior por histórias de crescimento. Antes mesmo de sair com a oferta pública inicial, fechou três pequenas aquisições.

O grupo captou R$ 1,4 bilhão - 30% dos recursos foram para Bueno e Dulce; e 70% para o caixa da empresa, já utilizados também para pagar as compras pré oferta. Mas àquele momento, Bueno planejava uma tacada maior. Queria comprar uma empresa de seguro saúde, ainda independente, que, há cinco anos, faturava a metade da Amil.

"Fiz o IPO com o Credit Suisse e o banco me garantiu uma linha de R$ 600 milhões caso eu fechasse essa outra aquisição. Mas não consegui", diz Bueno. Nem ele nem ninguém. A empresa continua até nas mesmas mãos.

Quase dois anos depois, a Amil foi atrás da Medial. "Ali entramos numa disputa. Eu queria pagar R$ 800 milhões, mas percebi que seu não pagasse os R$ 1,2 bilhão, alguém pagaria", resume a lógica de Bueno, mais uma vez. Conta que uma multinacional já assediava a Medial, mas não levou a proposta adiante por conta da crise global de 2008.

Apesar de, como diz, ter tentando fazer tudo certo aos olhos do mercado, a desconfiança continuava do ponto de vista dos investidores. Prova disso é a série de cláusulas que envolveu sua entrada na Dasa, quase dois anos depois da saída do fundador da empresa, um empresário que, como Bueno, mantinha "partes relacionadas".

Na Dasa, Bueno teve suas indicações ao conselho limitadas e escalonadas. Não pode aumentar sua fatia na empresa - a menos que a leve inteira. Mas, agora, o mercado já embute mais valor à Dasa por conta da perspectiva de mais tempo do empresário para a rede de laboratórios - e também por conta do prêmio de 32% pagos pela Amil ou por Bueno, pela United.

A experiência de chegar à bolsa, que o levou a vender o controle de sua companhia é vista como positiva. "Quando abrimos o capital, ficamos expostos, o que nos fez receber visitas de vários "players" internacionais, não só da United", diz. Após a oferta, 80% dos acionistas eram de estrangeiros, percentual que se mantém. "Passamos a ter cobertura de analistas também internacionais", diz Bueno.

Mais do que eficiente nos negócios, Bueno conseguiu o que poucos alcançam: se separar da primeira mulher - "Eu não era um bom marido", afirma - e selar a paz nos negócios.

Dulce, médica, começou com Bueno na medicina e na formação da Amil. A divisão era em partes iguais "Toda sociedade que começa com 50% e 50% já começou mal. Porque se um quer ir pro Norte e o outro para o Sul, ficou parada a empresa. Um dos dois tem que ter liberdade para fazer. Eu ofereci para a minha ex-mulher a parte dela em dinheiro. Ela disse não e falou: " Eu não vou conseguir aplicar melhor o meu dinheiro do que aplicar em você".

"Então eu disse: mando totalmente e ela concordou. Eu fiquei com 51%, ela com 49%. Ela não me atrapalha. Ela estuda, eu executo. Eu não queria me separar, mas eu não era bom marido...".

Criada a partir da experiência em uma modesta empresa gestora de hospitais na Baixada Fluminense, a Amil parecia ser a vida de Bueno. " Percebi que vender uma fatia só não iria resultar no grande salto que essa associação vai representar. Eu tenho 69 anos. Preciso me assegurar de que a empresa vai continuar sem mim", resume o empresário que optou por abrir mão do controle para ter uma fatia menor de um negócio algumas vezes maior.

Com 0,9% de participação na United é agora o maior acionista individual do maior grupo de seguro saúde do mundo. E quer trabalhar rumo à globalização. "Acredito completamente em globalização. A tecnologia ajuda neste caminho. As grandes empresas serão cada vez mais globais", diz.

A interpretação explica bem uma das razões da venda. Fala mansa, ele mantem o jeitão do interior paulista de onde saiu há mais de 40 anos. Mas, agora, quer mesmo é espalhar mundo afora a Amil/United.

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