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Tornar as relações mais sustentáveis foi o tema principal do seminário “Pensando o Futuro”, da Munich Re

Fonte Sonho Seguro - Denise Bueno

Os desafios são tão gigantes como as oportunidades de negócios. Essa opinião é praticamente uma unanimidade entre clientes, corretores, seguradores e resseguradores presentes no evento “Pensando o Futuro”, promovido pela Munich Re do Brasil, em São Paulo, no dia 8 de novembro e que reuniu cerca de 350 participantes, entre clientes empresariais, de seguradoras e corretores, bem como executivos da resseguradora.

Trata-se de um evento semelhante aos tradicionais encontros internacionais promovidos anualmente em Monte Carlo (setembro) ou Baden-Baden (outubro), onde todos se reúnem para discutir as renovações dos principais contratos de seguros do mundo. Ao contrário dos eventos internacionais, que mostrou tendência “flat”de preço, ou taxas estáveis nas renovações, o evento da Munich Re do Brasil sinaliza uma queda de preços para os principais contratos em período de renovação e também para os novos contratos que são desenhados para transferência de parte dos riscos dos projetos de infra-estrutura em andamento.

“Acho que chegamos ao chão. As taxas do seguro de riscos de engenharia já declinaram cerca de 70% de 2008 para cá”, diz Kurt Muller, CEO da Munich Re Brasil. No entanto, ele acredita que ainda presenciará mais uns dois ou três anos de mercado “soft” no Brasil. Segundo ele, as perdas causadas pela passagem do furacão Sandy provavelmente não terá qualquer impacto nas taxas praticadas no Brasil. “A concorrência local é muito forte e há muitos projetos em andamento. O foco no Brasil é prestar serviços diferenciados e atrair todo o programa de seguros do cliente para compensar a queda nas taxas”, informou Kurt, apresentando um enorme leque de produtos e uma equipe especializada em cada segmento para os convidados.

As reuniões de Baden-Baden ou Monte Carlo têm o objetivo de pré estabelecer uma tendência para os contratos, tanto de preços, como de franquias, exclusões, clausulados e mecanismos de conciliação em caso de possíveis conflitos. Trazer esse debate para o Brasil, neste evento, que reuniu 350 executivos, é uma tentativa de transformar a realidade das negociações pós em pré, bem como divulgar os produtos diferenciados que a maior resseguradora do mundo tem para ofertar às empresas e investidores brasileiros.

Pareceu haver um consenso entre todos os envolvidos, inclusive advogados, em investir tempo e paciência nas negociações de coberturas para evitar discussões futuras. “Esse comportamento de fechar o seguro na última hora tem de ser corrigido, pois traz desgaste para o relacionamento do cliente com o corretor, do corretor com a seguradora, da seguradora com o ressegurador e de todos com o prestador de serviço de regulação de perdas”, comentou Carlos Leon, da Munich Re, especializado em riscos de energia.

Segundo executivos entrevistados, a maioria dos contratos de grandes riscos é assinada às pressas. “Precisamos participar mais das discussões dos projetos ao lado dos clientes e também dos investidores. O mais correto é estarmos envolvidos na concepção do fluxo de caixa do empreendimento, na gestão de risco. Isso significa trazer a discussão para o momento da subscrição. Se isso acontecer, evitaremos discussões na hora que o segurado mais precisa de apoio, que é a hora do acidente, ou sinistro no jargão do setor”, comenta Wady Cury, diretor de riscos patrimoniais da BB Mapfre.

Tal indisciplina é conseqüência de um setor acostumado a se relacionar em um mercado que ficou por quase 70 anos fechado. O monopólio de resseguros foi flexibilizado a partir de 2008. Para muitos especialistas, em raão disso, é normal ter um volume assustador de discussões sobre o que está ou não coberto nos contratos ainda sem precisão jurídica e técnica e recheados de jargões traduzidos erroneamente da língua inglesa para o português. “Os problemas que enfrentamos hoje são fruto de um momento de transição de um mercado fechado para um mercado aberto”, comentou Mario Bicalho, executivo do Itaú Unibanco.

Todos concordam, no entanto, que os processos em discussão, que pipocam em várias esferas judiciais, já foram suficientes para todos acordarem para a realidade de um mercado aberto, competitivo e que busca a sustentabilidade nas relações como forma de manter a lucratividade, item vital neste momento de queda da taxa Selic no Brasil e de juros reais negativos nos principais países da Europa.

Diante disso, a subscrição se tornou um item prioritário nos contratos para garantir o ganho operacional e, consequentemente, o retorno ao acionista. Sem isso, eles vão aportar seus recursos em um setor com ganhos menos arriscados. “É preciso profissionalizar a gestão do risco em razão do grande volume de negócios que estão por vir a partir de 2013”, comentou Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral.

Na mesma linha, Paolo Bussolera, chefe de indenizações para a Europa e América Latina, aconselhou. ”O Brasil tem uma indústria judicial bem desenvolvida, porém esse não é o objetivo de empresas como a Munich Re, cujo foco é ser parceira no longo prazo”. A sugestão do executivo é discutir o risco durante o momento de subscrição e não deixar para saber o que está coberto ou excluído no momento do acidente.

O conflito judicial mais citado tem sido o caso da hidrelética de Jirau, no Rio Madeira, com prejuízo estimado pelo consórcio Energia Sustentável, que tem a construtora Camargo Correa como acionista, em R$ 400 milhões com a destruição do canteiro de obras pelos funcionários insatisfeitos com as condições de trabalho. Já as seguradoras calculam um valor bem menor, em torno de R$ 100 milhões.

Um dos questionamentos durante os debates foi: por que a perda do Consórcio Norte Energia, que comanda as obras de Belo Monte, no Pará, localizada ao lado de Jirau, foi bem menor? As obras foram paralisadas por uma semana em agosto e o consórcio contabilizou um prejuízo de R$ 12 milhões por dia, insuficiente para acionar o seguro em razão do valor ser inferior ao da franquia da apólice. Katia Luz, gerente de risco da OCS, corretora de seguros do grupo Odebrecht, creditou o fato aos princípios de sustentabilidade adotados construtora responsável pela usina Belo Monte. “Temos uma política de valorização do trabalho e investimos em treinamento para qualificar os moradores das regiões. Neste caso específico, treinamos mais centenas de pessoas e contratarmos boa parte delas para as obras”.

Segundo Resende, há oportunidades fantásticas de negócios no Brasil para as seguradoras. Mas para ser rentável, é preciso investir na qualidade da mão de obra. “Além disso, o mercado tem de se adaptar a dois fatores”, afirmou o professor. O primeiro deles é aprender a atender contratos no formato de concessão, com coberturas que sejam importantes para mitigar os riscos da iniciativa privada. O risco deixa de ser do governo e passa a ser da iniciativa privada no momento em que a empresa assume o contrato de concessão pelos serviços públicos. ”São mais de R$ 750 bilhões em obras que terão o formato de concessão no Brasil nos próximos anos”, informou durante o painel “Infra-estrutura e seguros: a quantas vai?”.

Outra vertente de desafio está em saber lidar com os investidores dos projetos, que cada dia querem participar mais ativamente do desenho da apólice. “Temos percebido que os financiadores querem mais coberturas, principalmente aquelas que garantem o fluxo de caixa futuro do empreendimento, como as ofertadas nas apólices de garantia e de lucro cessante”, comenta Rodrigo Belloube, executivo da Munich Re. O risco ambiental e o de greves estão entre os mais temidos atualmente.

Mario Bicalho, executivo do Itaú Unibanco, líder do segmento de seguros de grandes riscos, afirmou que o setor já tem um bom nível de qualificação. “Precisamos aprimorar, mas já demos um grande passo. O que precisamos agora é assumir que o Brasil é uma grande potência, com um PIB maior do que o da Inglaterra, berço de seguros do mundo. Temos de sentar na mesa para negociar e não para aceitar todas as condições impostas”, disse num tom desafiador.

Uma sugestão de Bicalho para reduzir conflitos sobre os valores a serem indenizados é que os estrangeiros invistam em entender melhor o funcionamento das regras brasileiras. “Fomos questionados sobre pagar juros e correção em uma indenização. A regra brasileira é clara. Se não pagar o valor em até 30 dias da entrega do último documento, é preciso corrigir o valor. Se o ressegurador soubesse disso, ganharíamos tempo e deixaríamos o cliente mais satisfeito”.

O advogado Luis Felipe Pellon também defendeu a união de todos para reduzir os pontos cinzentos que existem hoje nos contratos de seguros, bem como tornar empresas e judiciário mais conscientes do papel do seguro. “O seguro cobre prejuízos consequentes de riscos, acordados previamente, e não todos os riscos da operação. É preciso entender isso para que os contratos sejam respeitados e se tenha segurança jurídica para atuar no Brasil”, explicou. Segundo ele, um levantamento do HSBC em todo o mundo revelou que de 100 contratos em discussão judicial do grupo no mundo, 80 estavam no Brasil.

Marina Ribeiro, executiva da AIG Chartis, ponderou a discussão levantada pelos dois colegas durante o debate. Katia, da Odebrecht, afirmou que para o setor melhorar, é preciso mais serviços, produtos inovadores e preços menores. Para Wady Cury, da BB Mapfre, participar das negociações do projeto é uma condição sine qua non para elevar as vendas e a rentabilidade da carteira de grandes riscos. “O preço já caiu tanto, que os sinistros estão representativos. Segundo levantamento interno, a sinistralidade bate a casa dos 120% no final do contrato de grandes obras, com vigência entre 5 e 7 anos”, afirmou Marina aos presentes.

Tania Amaral, executiva da Munich Re, fez um resumo dos quatro anos de abertura do resseguro. Ela mostrou manchetes dos jornais da época da abertura do resseguro, em 2008, com a festa dos novos entrantes para concorrer com o IRB Brasil Re, dono do mercado por quase 70 anos e que ainda permanece por ter privilégios concedidos pelo governo.

Passados quase quatros anos, as manchetes dos jornais estão menos otimistas. Os investimentos não são realizados na velocidade esperada, gerando um mudança significativa no risco do contrato. Há muitos competidores, o que fez o preço despencar. A próxima safra de notícias tende a ser um grande volume de discussões sobre o que está ou não coberto.

Isso porque, afirmam Marina e Tânia, a subscrição das seguradoras tem enfoque no curto prazo. “Conseguem prêmio rápido e lucro momentâneo. Mas à medida em que os riscos se desenvolvem na linha do tempo, será que as contas estão sendo realizadas de forma corretas para garantir a rentabilidade da carteira lá na frente”, questionaram.

Wady Cury concordou plenamente com as executivas. “Precisamos sentar todos para arrumarmos as amarras que nos impedem de fazermos contratos sustentáveis, sejam eles provenientes da falta da pró atividade de participar das discussões dos projetos desde o seu nascimento até as urgentes mudanças na regulamentação do setor, que determina até mesmo como os produtos devem ser desenhados”, comentou o executivo da BB Mapfre.

Ao que tudo indica, ainda levará um tempo razoável para a indústria de seguros conseguir reduzir as discussões no momento de regular o pagamento de indenizações, criando uma cultura globalizada de risco. No entanto, faz parte do amadurecimento de um setor que começa a entrar na adolescência no Brasil, com participação de apenas 3% no PIB. Menos da metade da média mundial.

Segundo o economista Eduardo Giannetti , o brasileiro está apenas começando a descobrir o valor do amanhã, depois de anos convivendo com pacotes econômicos criados pelos governos com o intuito de driblar a escalada da inflação. “Brasil e seguradoras precisam vencer desafios e aproveitar a grande oportunidade de estarem bem posicionados em um momento em que países de ponta sofrem com recessão, desemprego, ajustes fiscais e também políticos”, cita o economista, que encerrou o evento da Munich Re com sua tradicional palestra “O Valor do Amanhã”.

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