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10 perguntas para Antonio Cássio dos Santos, chairman da Zurich América Latina

Fonte IstoÉ

 “As mudanças tecnológicas, demográficas e climáticas vão mudar a forma como as seguradoras fazem negócios”

Por Cláudio GRADILONE

O mercado segurador passará por mudanças profundas. Antonio Cássio dos Santos, chairman da Zurich América Latina, eleito um dos dez executivos mais influentes do setor na América Latina pela revista Latin Insurance Review, falou com a DINHEIRO sobre elas:

Por que o setor de seguros deverá mudar muito nos próximos anos?
Parti de cenários traçados por consultorias como Bain & Company, KPMG e Ernst & Young para definir o que vai influenciar o setor nesta década. A causa das mudanças será um conjunto de macrotendências, tanto globais quanto específicas. As macrotendências globais referem-se a oito “novidades” genéricas.

Quais são elas?
Duas delas são a entrada de um bilhão de pessoas no mercado consumidor e a necessidade brutal de investimentos em infraestrutura, tanto nos países emergentes, que precisam construir o que não têm, quanto nos países desenvolvidos, que precisam renovar. Outras duas estão relacionadas à enorme necessidade de matérias-primas para atender a essas demandas, tanto de consumidores quanto de investimentos. Por isso, não esperamos um desaquecimento na demanda das commodities. Teremos ainda uma crescente preocupação em proteger esses investimentos, o que nos levará a testemunhar um avanço dos gastos militares, especialmente na Ásia. Finalmente, haverá um avanço na infraestrutura pós-revolução tecnológica. Sem ela, os avanços tecnológicos que esperamos não serão possíveis.

Essas são as únicas alterações esperadas?
Não. Ao lado dessas cinco mudanças quantitativas e físicas, haverá três outras mais qualitativas. Podemos listar a demanda crescente por desenvolvimento do capital humano e a necessidade cada vez maior de manter os ricos e afluentes com saúde. Outra mudança notável é o que eu chamo de “tudo na mesma, mas melhor”. Os consumidores das classes A e B vão buscar mais qualidade, em vez de quantidade. Com tudo isso combinado, veremos uma explosão de inovação nos próximos anos, parecida com a que ocorreu nas primeiras décadas do século passado.

E nos seguros, o que deve mudar?
A influência dessas macrotendências e das novas tecnologias vai mudar a forma como as empresas fazem negócios. Os novos consumidores e os investimentos em infraestrutura vão movimentar uma renda equivalente a US$ 30 trilhões nos próximos dez anos. A tendência será uma busca maior de qualidade de vida, e nesse aspecto a proteção à saúde terá um papel fundamental. Por isso, há pelo menos 12 macrotendências específicas que devem alterar o setor.

Qual o papel da tecnologia nisso?
Fundamental. Há pelo menos três macrotendências ligadas a ela: o uso de tecnologias móveis e a emergência da computação em rede, que serão essenciais para o corte de custos, e o uso crescente das redes sociais, que vão aumentar a transparência do setor. O segurador terá de ser cada vez mais ágil e correto com o segurado. Se não for, a punição das redes sociais será imediata.

Além da tecnologia, quais os outros vetores de mudança?
Um vetor importante são as mudanças regulatórias e de mercado. A agenda pós-crise de 2008 será implantada e as regras serão cada vez mais estritas no que diz respeito a gerenciamento de risco de capital e a cumprimento de contratos. Isso não terá muito impacto no mercado brasileiro, pois o nosso é o mais conservador do mundo, mas vai afetar a forma como as seguradoras lá de fora trabalham. Um subproduto disso será a enorme oportunidade que as seguradoras terão para melhorar sua imagem.

Em que sentido?
Podemos entender essa oportunidade pensando em outro dos vetores de mudança, que é o risco crescente de catástrofes naturais e climáticas. As seguradoras estarão mais sujeitas a catástrofes do que antes e têm de se adaptar a essa nova realidade. Assim, elas poderão participar da solução desses problemas, por exemplo.

Como o novo perfil do mercado financeiro vai influenciar o setor?
As taxas de juros vêm caindo em todo o mundo, e por isso as seguradoras terão de mudar a maneira como investem seu capital. Manter resultados consistentes ao longo do tempo será um desafio cada vez maior, pois as aplicações financeiras tendem a migrar para instrumentos que promovam a poupança de longo prazo. As seguradoras que souberem se transformar em gestoras eficientes de riscos e de recursos financeiros no longo prazo terão muito mais êxito do que as outras.

E o efeito das mudanças demográficas?
Será imenso. As pessoas vão viver e trabalhar mais tempo, e isso vai forçar as seguradoras a adaptar seus produtos. Além disso, o bilhão de novos consumidores que vai entrar no mercado deverá morar e trabalhar em cidades, portanto, haverá avanços na urbanização. Vão surgir mais metrópoles. As pessoas terão de começar a poupar mais cedo na vida e poupar por mais tempo, o que obrigará o setor a lançar produtos específicos e segmentados.

Qual será o papel do governo?
Haverá uma nova definição do papel do governo. Em função das dívidas públicas crescentes mundo afora e a falência do Estado, a tendência é de que os grandes seguros sociais, de saúde e de previdência, sejam cada vez mais oferecidos pelo setor privado.

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